Condenação de Trump consolida apoio dos fãs, mas pode afastar moderados
A condenação de Donald Trump por falsificação de documentos e interferência eleitoral vai consolidar o apoio da sua base de fãs, mas pode afastar os moderados e deprimir a afluência às urnas, disseram analistas políticos em entrevista à Lusa.
"Isto não vai perturbar minimamente os seus apoiantes MAGA, para quem a condenação é apenas mais evidência de que o sistema está a ser manipulado contra Donald Trump", disse o cientista político Thomas Holyoke, professor da Universidade Estadual da Califórnia em Fresno.
"Nada que aconteça vai fazê-los mudar de ideias", frisou. "E provavelmente são eles que estão a mostrar o seu apoio entusiasmado com donativos", considerou.
Desde que foi conhecida a condenação nas 34 acusações criminais em Nova Iorque, a campanha de Trump angariou 32 milhões de euros em donativos, tendo o 'site' chegado a ir abaixo por causa do volume de acessos.
"Os donativos são absolutamente importantes para ele porque mostram força, mas é a mobilização das mesmas pessoas que já estão mobilizadas e que vão votar nele", caracterizou a cientista política Daniela Melo, professora na Universidade de Boston. "Ainda não ouvi Trump a tentar persuadir o centro a votar nele", frisou.
Os dois politólogos sublinharam que ainda é cedo para perceber o impacto do julgamento e da nova condição de Donald Trump como criminoso condenado por um jurado de pares. No entanto, sugerem que apenas um efeito tangencial na afluência às urnas dos eleitores republicanos e independentes pode virar a eleição a favor de Joe Biden.
"Para Donald Trump, é absolutamente essencial que todas as pessoas de direita que vão às urnas em novembro votem nele", disse Daniela Melo, lembrando que os eleitores de Nikki Haley -- candidata derrotada nas primárias republicanas -- continuam a votar nela após a sua desistência.
"Isto pode ser interpretado sobretudo como um voto de protesto a Trump", referiu. "Há uma parte do eleitorado que rejeita Trump e não sabemos se na hora H Irá decidir que fica em casa", continuou.
Havendo vários estados essenciais onde a última eleição se decidiu por menos de 1%, qualquer perda de eleitorado é "potencialmente perigosa". Em múltiplas sondagens nos últimos meses, uma percentagem dos eleitores republicanos disse que reconsideraria o seu voto em Trump caso ele fosse julgado e considerado culpado.
Thomas Holyoke disse que a grande questão é perceber o quanto esta condenação vai prejudicar Trump. "Penso que apenas um pouco, mas um pouco que pode ser crucial", frisou.
"Para os eleitores de Haley, esta é mais uma razão para não votarem nele. E para os independentes que genuinamente não sabiam o que iam fazer, isto pode afastá-los de Trump", analisou Holyoke.
"Não penso que seja um grande número de pessoas, mas dado que esta eleição é tão renhida, em especial nos estados críticos, essas pequenas mudanças podem ter implicações sísmicas".
Holyoke ressalvou que a maioria das decisões de voto ainda será baseada sobretudo em questões económicas, que não favorecem Biden. No entanto, "isto pode causar uma alteração suficiente para virar as coisas a seu favor".
Todavia, Daniela Melo considera que o ex-presidente "ainda tem muito tempo para se refazer deste choque" e poderá começar a suavizar a sua postura no debate com Joe Biden, a 27 de junho, falando para os moderados.
"Ele é vítima e é herói ao mesmo tempo nesta narrativa que criou sobre os julgamentos", salientou. "Continua sem tentar falar diretamente para aquele eleitorado independente e mais ao centro. Mas prevejo que isso mude durante o debate".
Nenhum espera que a sentença, marcada para 11 de julho, inclua algum tipo de prisão -- apesar das repetidas violações das ordens do juiz perpetradas por Trump e das suas acusações de parcialidade.
Qualquer que seja a sentença, Donald Trump poderá continuar em campanha para as presidenciais. O que fica por perceber é se poderá votar em novembro, visto que as regras na Florida são muito restritivas para os cidadãos condenados por crimes.