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Base de apoiantes de Donald Trump sólida apesar de condenação judicial

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Analistas e imprensa norte-americana consideram incerto o impacto eleitoral da condenação de Donald Trump por falsificação de documentos, apesar de concordarem que a base de apoiantes convictos do ex-presidente se manterá fiel.

Num artigo de opinião de ontem no New York Times, vários redatores do jornal discordaram no impacto que a condenação do ex-presidente terá na corrida à Casa Branca.

Para David French, a ala mais radical do Partido Republicano aproveitará este momento para redobrar o seu apoio a Trump, levando a que alguns eleitores acreditem efetivamente na tese de que se trata de uma acusação política. Porém, o jornalista não descarta que a imagem do magnata se vá corroendo até à data das eleições, em 05 de novembro.

No mesmo artigo de opinião, a redatora Quinta Jurecic disse acreditar que a base firme de apoiantes de Donald Trump pode ser galvanizada pela decisão de quinta-feira, mas avaliou que aqueles não são suficientes para que o republicano ganhe a eleição.

"O seu destino, em vez disso, recairá sobre os eleitores cujo apoio é menos apaixonado -- pessoas que de outra forma poderiam votar nos republicanos, mas são desencorajadas pelas grosserias de Trump", observou, destacando a incerteza que rondará as campanhas eleitorais nos próximos meses.

Já a estratega republicana Soltis Anderson disse ao jornal que os eleitores que não gostam efetivamente de Trump ficarão entusiasmados com o veredicto, mas isso não mudará o cenário eleitoral, uma vez que esse eleitorado já não votaria no magnata de qualquer maneira.

"Os eleitores que gostam de Trump não ficaram surpreendidos com um veredicto de culpa, porque consideraram o julgamento como político desde o início. Acredito que a sentença desempenhará um papel mais importante na influência do pequeno grupo de eleitores persuadíveis, uma vez que os americanos são forçados a escolher se votam em alguém que poderá enfrentar pena de prisão", avaliou.

O ex-presidente (2017-2021) foi considerado culpado na quinta-feira de ter falsificado documentos para encobrir um escândalo sexual na campanha presidencial de 2016.

Trump, que deverá ser o candidato dos republicanos em novembro contra o democrata e atual Presidente, Joe Biden, negou todas as acusações.

É a primeira vez que um antigo Presidente dos Estados Unidos é considerado culpado por um delito penal.

A sentença será proferida em 11 de julho por um juiz do tribunal de Manhattan, quatro dias antes da convenção do Partido Republicano que deverá apresentar Trump como candidato contra Biden.

Também um artigo no jornal The Hill dizia hoje que está longe de ser claro se a condenação de Trump prejudicará de alguma forma a sua tentativa de substituir Joe Biden na Presidência.

"A realidade é que ninguém sabe exatamente o que a decisão significa para a corrida eleitoral. As sondagens têm sido confusas quando se trata de retratar como os eleitores podem ser influenciados pelo veredicto. Algumas sugerem que há uma pequena parcela do eleitorado que teria menos probabilidade de votar em Trump após uma condenação, mas outras mostram pouca movimentação em caso de condenação", notou. 

Já especialistas políticos disseram ao canal de notícias da Universidade de Berkeley que está em curso uma "situação tão diferente" do que já foi alguma vez experienciado no país "que é impossível ter confiança nas previsões" sobre o impacto nas eleições.

"As nossas teorias normais para entender a política americana ter-nos-iam dito, depois de 06 de janeiro de 2021 (data do ataque ao Capitólio), que não há hipótese de Trump ser o candidato republicano em 2024 - e que, se fosse, não concorreria em pé de igualdade - e muito possivelmente à frente - de Joe Biden", observou o cientista político Eric Schickler sobre o cenário inédito que o país atravessa.

Schickler frisou que Trump é um figura central na política norte-americana há quase uma década, com a opinião da maioria dos eleitores sobre o magnata solidificada há anos e com poucas mudanças em relação ao apoio que vem recebendo, independentemente da gravidade dos casos em que esteja envolvido.

Já Gabriel Lenz, professor de ciência política, disse ao Berkeley News que o republicano pode agora aproveitar para mobilizar a sua base para obter mais votos no dia das eleições e maiores doações para a sua campanha.

E, efetivamente, as doações para a campanha presidencial de Donald Trump totalizaram 34,8 milhões de dólares (32 milhões de euros) poucas horas após o anúncio do veredicto de culpa, batendo todos os recordes, segundo um comunicado hoje divulgado pela equipa do republicano.