Haverá razões para achar que a Rua das Fontes no Funchal é violenta à noite?
‘Homem vítima de queda na Rua das fontes’. Este foi o título de uma pequena notícia publicada, na manhã de ontem, em dnoticias.pt, referente a um evento ocorrido na noite anterior. O texto suscitou vários comentários, alguns sarcásticos, mas outros afirmaram a insegurança da noite madeirense e outros ainda colocaram o foco na Rua da Fontes.
As reacções a esta notícia e a outras publicadas nos últimos meses, relativas a ocorrências naquela rua, mostram claramente que existe uma percepção generalizada de que se trata de um arruamento violento durante a noite. Mas, haverá razões para a propagação dessa sensação de insegurança?
O apuramento da existência ou não de razões que justifiquem a percepção de insegurança, não é fácil, exactamente por estar em causa uma percepção, que é sempre subjectiva.
O método que adoptámos, para tentar perceber se tais razões existem, foi um levantamento de notícias, no DIÁRIO e no JM, que tenham, nos últimos dez anos, associado as palavras ‘pancadaria’ e/ou ‘violência’ e a expressão ‘Rua das Fontes’.
O recurso à pesquisa de notícias deve-se ao facto de estas serem um dos factores que ajudam a construir a percepção de insegurança nas ruas. Estão a par da falta ou pouco policiamento, má-iluminação, pessoas em situação de sem-abrigo, consumo de drogas nas ruas, prédios degradados, entre vários outros.
Vejamos, a esse propósito, o que é dito na dissertação de mestrado de Ricardo Caiado, apresentada na Universidade Autónoma de Lisboa, em Junho de 2013, com o título ‘O sentimento de insegurança e a sua interacção com a criminalidade’: “Desta investigação concluiu-se ainda que o sentimento de insegurança está relacionado com a criminalidade, apesar de se constituir apenas como sendo mais um fator que concorre para tal, entre outros; que este pode ser um medo ou uma preocupação, embora seja essencialmente uma preocupação; que os media condicionam a perceção e formação deste sentimento; que não se poderá afirmar de uma forma linear que a presença de estrangeiros em Portugal esteja relacionada com o aumento do crime; e que o urbanismo desempenha um papel importante na prevenção da criminalidade e do sentimento de insegurança.”
O levantamento, às notícias publicadas no DIÁRIO e no JM, permitiu-nos identificar seis textos publicados nestes primeiros cinco meses de 2024. Em todo o ano passado (2023), identificámos nove textos, para oito acontecimentos. Em 2022, registámos seis notícias referentes a cinco eventos.
Para os dois anos anteriores, 2021 e 2020, contabilizámos três notícias, o que seguramente se relaciona com a Covid-19.
Não encontrámos qualquer notícia referente aos anos de 2018 e 2019. Antes disso, encontrámos duas notícias publicadas no ano de 2016.
Estes dados demonstram que tem crescido, ainda de paulatinamente, o número de notícias sobre casos de violência na Rua das Fontes, ao longo dos últimos anos. É de admitir como provável que o crescimento do número de notícias corresponda a idêntico crescimento do número de eventos.
Apesar disso, a existência de 28 notícias, ao longo de dez anos, também indicia que não se está perante um local em que a violência seja algo de constante.
No entanto, é claro que são cada vez mais frequentes os episódios que conduzem à percepção de que a Rua das Fontes é um local de violência na noite. Por isso, é verdadeira a afirmação de que há razões para achar que a rua é violenta à noite, ainda que tal percepção só vagamente possa ser fundamentada na realidade.