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Associação Quercus denuncia sabotagem pela indústria da estratégia "do prado ao prato"

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Foto Shutterstock

A estratégia "Do prado ao prato", da União Europeia (UE) e parte do Pacto Ecológico Europeu, tem sido sabotada pela industria dos pesticidas, alertou hoje a associação ambientalista Quercus em comunicado.

Divulgando dados da "Corporate Europe Observatory", um centro de investigação com sede em Bruxelas, a Quercus explicita que a estratégia "enfrenta uma sabotagem significativa" por parte da indústria dos pesticidas, que tem colocado em prática "uma intensa campanha de lobbying" para esvaziar as propostas da UE.

A estratégia "Do prado ao prato" propõe uma redução para metade do uso de pesticidas até 2030, a redução de 20% na utilização de fertilizantes, e a expansão da agricultura biológica para 25% das terras agrícolas da UE, triplicando a atual área.

Empresas como a Bayer, BASF, Syngenta e Corteva, "e o seu grupo de 'lobby' Croplife EU, têm resistido vigorosamente às mudanças propostas" e entre 2020 e 2023 os grupos de lobby pró-pesticidas declararam um orçamento de 70,8 milhões de euros para influenciar políticas, acusa a Quercus no comunicado.

Entre as táticas usadas pela indústria a associação destaca a propagação de alarmismo sobre riscos à segurança alimentar e à produtividade agrícola, o pedido de estudos de impacto para atrasar os processos, a encomenda de estudos tendenciosos e o lançamento de campanhas mediáticas coordenadas para influenciar os decisores políticos.

"Em dezembro de 2022, 15 ministros da Agricultura pressionaram a Comissão Europeia a realizar um estudo de impacto adicional, resultando num atraso de seis meses no processo de negociação", diz a Quercus, lembrando também que quando da votação em plenário do parlamento europeu a lei de redução de pesticidas foi tão enfraquecida que perdeu apoios e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, acabou por a retirar.

A indústria e o 'lobby' financeiro também aproveitaram os crescentes protestos dos agricultores no início do ano (que se prendiam essencialmente com os rendimentos dos pequenos agricultores, e não contra as medidas ambientais em si) para levar a UE a rever as atuais medidas ecológicas da Política Agrícola Comum (PAC) que beneficiam a biodiversidade. Claro que desta vez "não pediram nenhum estudo de impacto!".

"A influência do 'lobby' financeiro e político da indústria dos pesticidas continua a comprometer decisões de interesse público. Para enfrentar a crise da poluição e promover práticas agrícolas sustentáveis, é urgente proteger os decisores da influência excessiva da indústria dos pesticidas", diz a associação no comunicado.