Falta de mão-de-obra em Portugal, ou exploração humana? Porquê?
Há algo, que na minha ignorância acho estranho.
Comparando o nosso país com a Europa em geral, não somos os que têm mais desemprego, mas somos os que mais necessitam de mão-de-obra estrangeira (emigrantes).
Temos cerca de meio milhão de desempregados e mais cerca de 200 mil com subsídios sociais.
Temos um dos mais baixos salários da união europeia. Temos uma faixa etária que emigra em especial licenciados, construção civil e agricultura, para fugirem aos salários de miséria e precariedade de emprego.
Temos apenas 10% de empresas a actualizarem os salários acima de lei e pouco mais de 10% que pagam acima do salário mínimo, com a agravante de que temos muitos patrões a explorarem os seus funcionários seja no salário ou no que cobram por alojamento, é pouco, muito pouco para um país dito evoluído e civilizado e que está na cauda da Europa na produtividade.
Para aumentar a produtividade não será necessário mais empenho um pouco de todos? Não será necessários pagar um pouco acima do salário mínimo para incentivar a tão dita produtividade?
Os nossos jovens formados e bons profissionais saem de Portugal e acabamos por importar mão-de-obra estrangeira, sem formação e pior ainda o que mais há são empresários sem escrúpulos a explorar estes emigrantes. A justiça para estes casos é surda, cega e muda.
Esquecemos que somos um país com mais de 2 milhões de emigrantes, não são muitas as famílias que não têm ou tiveram um familiar emigrado e mesmo assim continuamos a tratar como escravos muitos dos que emigram para o nosso país, trabalhando no que muitos portugueses não querem. Será que gostamos que tratem os nossos concidadãos emigrados por esse mundo fora da mesma forma que tratamos seres humanos no nosso país?
Na costa vicentina, nas grandes cidades com turismo e ilhas, os emigrantes asiáticos, africanos e da América latina, são a mão-de-obra barata que entra, diga-se explorada em todos os aspectos, desde trabalho, habitação saúde e alimentação, mas temos portugueses que fazem o caminho inverso, para Espanha, França, Reino Unido Alemanha e Suíça, salvo casos excepcionais os portugueses são tratados como seres humanos, enquanto pelo nosso burgo, tratamos aqueles que vêm trabalhar para cá como escravos ou seja abaixo de cão.
Já é habitual, nas cidades mais turísticas entrar num restaurante e ter de ser o cliente português a falar inglês, porque os funcionários não falam português. É isto um bom serviço? É este serviço profissional?
Por todo o Continente e ilhas, recebemos um pouco de todo o mundo, trabalhadores para restauração e hotelaria, temos milhares de portugueses que fazem o caminho inverso, para França, Alemanha, Inglaterra, Suíça etc., mas com formação. Como são tratados nesses países os nossos concidadãos e como tratamos os emigrantes no nosso país?
Como profissional no meu ramo, fui emigrante, nunca me senti marginalizado, nunca fui explorado ou descriminado, mas tive de aprender a língua do país para onde fui trabalhar. E no nosso país o que fazemos com os emigrantes?
Há sempre aqueles que ao lerem este meu texto dirão, só vem para cá quem quer! É verdade, também só emigra quem quer ou até talvez não seja bem assim. Emigramos para fugir da miséria tal como os emigrantes que vêm para o nosso país. Emigramos para termos e darmos uma vida mais condigna, tal como os milhares de asiáticos e africanos que vêm para o nosso país. Pior ainda, alguns fogem da guerra, da fome e da miséria o que não acontece com os nossos.
Se os países ditos desenvolvidos, tentassem resolver o problema na raiz apoiando os país e não explorando e fomentando a guerra.
Se os nossos empresários não fossem tão gananciosos e exploradores e investissem mais, na produção, formação e claro salários.
Com toda a certeza, não seria necessária tanta emigração ou pelo menos tanta emigração de miséria.
José Maria Ramada