Guterres defende retorno da Autoridade Palestiniana a Gaza
O secretário-geral das Nações Unidas (ONU), António Guterres, defendeu hoje "esforços urgentes" para fortalecer o "novo Governo Palestiniano" e as suas instituições, incluindo a preparação da Autoridade Palestiniana para "reassumir as suas responsabilidades" em Gaza.
No seu 'briefing' diário à imprensa, o porta-voz de Guterres, Stéphane Dujarric, lançou um olhar para o futuro de Gaza, defendendo que a segurança, a dignidade e a esperança da população afetada pelo conflito seja restaurada rapidamente, reiterando o seu apelo a uma solução de dois Estados.
"Isto exigirá esforços urgentes para apoiar e reforçar o novo Governo Palestiniano e as suas instituições, incluindo a preparação da Autoridade Palestiniana para reassumir as suas responsabilidades em Gaza. Devemos também avançar com passos tangíveis e irreversíveis para criar um horizonte político", instou.
Questionado sobre se Guterres estaria a defender a retirada do grupo islamita Hamas do poder em Gaza, Dujarric esclareceu que o líder das Nações Unidas está a pedir "o retorno das Autoridade Palestiniana a Gaza", sem mencionar o Hamas na resposta.
Espanha, Irlanda e Noruega formalizaram hoje o reconhecimento do Estado da Palestina, juntando-se a 137 dos 193 países da Organização das Nações Unidas (ONU) que já o fizeram, segundo a Autoridade Nacional Palestiniana (ANP).
Trata-se de um apoio simbólico e diplomático à causa palestiniana, mas com pouco impacto no terreno, onde as fronteiras foram esbatidas pela ocupação, entre colonatos, muros de betão e presença militar israelita.
O Hamas controla -- com as limitações impostas por Israel -- a Faixa de Gaza desde as eleições realizadas nos territórios palestinianos em 2006, enquanto a Autoridade Palestiniana, supervisionada pelo partido nacionalista Fatah, controla a Cisjordânia.
"A devastação e a miséria dos últimos sete meses reforçaram a necessidade absoluta de os israelitas, os palestinianos, os Estados da região e a comunidade internacional em geral tomarem medidas urgentes que permitirão às partes retomarem o caminho político, há muito adiado, para alcançar uma solução de dois Estados. A ONU continuará a apoiar todos esses esforços", acrescentou.
Guterres voltou hoje a "condenar nos termos mais fortes" os ataques aéreos israelitas de domingo em Rafah, que atingiram tendas que abrigavam deslocados e que mataram 45 pessoas, admitindo estar de "coração partido pelas imagens dos mortos e feridos", incluindo crianças.
"Como o secretário-geral disse anteriormente, o horror e o sofrimento devem parar imediatamente", indicou o porta-voz.
Dujarric observou ainda que a catástrofe humanitária em Gaza é agora agravada pela "perspetiva injustificada de uma fome provocada pelo homem".
Nesse sentido, reiterou os apelos a um cessar-fogo imediato e à libertação imediata e incondicional de todos os reféns, frisando ainda que as recentes ordens do Tribunal Internacional de Justiça - para que Israel cesse a ofensiva no sul de Gaza - "são vinculativas e devem ser cumpridas".
Israel declarou a 07 de outubro do ano passado uma guerra na Faixa de Gaza para "erradicar" o Hamas depois de este, horas antes, ter realizado em território israelita um ataque de proporções sem precedentes, matando mais de 1.170 pessoas, na maioria civis.
Classificado como organização terrorista pelos Estados Unidos, a União Europeia e Israel, o Hamas fez também 252 reféns, 124 dos quais permanecem em cativeiro e 37 morreram entretanto, segundo o mais recente balanço do Exército israelita.
A guerra, que hoje entrou no 235.º dia e continua a ameaçar alastrar a toda a região do Médio Oriente, fez até agora na Faixa de Gaza mais de 36.000 mortos e de 81.000 feridos e cerca de 10.000 desaparecidos, presumivelmente soterrados nos escombros, na maioria civis, de acordo com números atualizados das autoridades locais.
O conflito causou também quase dois milhões de deslocados, mergulhando o enclave palestiniano sobrepovoado e pobre numa grave crise humanitária, com mais de 1,1 milhões de pessoas numa "situação de fome catastrófica" que está a fazer vítimas - "o número mais elevado alguma vez registado" pela ONU em estudos sobre segurança alimentar no mundo.