Redes sociais implacáveis nas críticas a Élvio Sousa e a Paulo Cafôfo
Há críticas à falta de coerência e à sede de poder. Até Carlos Pereira criticou
“Entre um e outro, venha o diabo e escolha”, disse Élvio Sousa no dia 21 deste mês, faz hoje oito dias, recusando assim um entendimento tanto com o PSD como com o PS. “Estão todos viciados”, dizia na campanha para as eleições de domingo que culminaram com a eleição de nove deputados seus à Assembleia Legislativa da Madeira. Ontem, passados poucos dias e já com os votos contados, o discurso mudou radicalmente. A noite conselheira ajudou o secretário-geral do JPP na escolha e apresenta-se agora como parceiro do Partido Socialista para possível governo. Mas se Élvio Sousa se esqueceu e deu o dito pelo não dito, nas redes sociais, muitos não escondem o desagrado pelo que consideram uma traição.
“Este Paulo Cafôfo e o Elvio do Juntos Pelo Povo são pessoas sem carácter, durante a campanha o Élvio disse na televisão que votar no PS, era a mesma coisa que votar no PSD, mas agora o PS já é bom, para se juntar. O Cafofo também dizia que os melhores eram ele e o Albuquerque, agora o Juntos Pelo Povo já é bom para formar governo. Esta política é uma autêntica palhaçada. Querem é poleiro e derrubar o PSD à força.”
Carlos Pereira, deputado madeirense na Assembleia da República e destacado militante do Partido Socialista- Madeira não esconde o desagrado com a solução encontrada por Paulo Cafôfo para afastar o PSD, o partido mais votado, da formação de governo. “É preciso aceitar, com humildade democrática, quando se falha e não arrastar a credibilidade das instituições para a lama”, escreveu num post. “Se é verdade que nada tenho a dizer sobre a forma como cada um lida com a sua própria credibilidade, já é muito diferente quando esse comportamento provoca eco nas instituições”. O mesmo Carlos Pereira, num comentário a um desabafo de uma amiga, de forma mais informal, foi mais duro: “Nada surpreendido. Muito espantado com o nível de desplante a falta de vergonha”.
Não é difícil chegar às reacções de descontentamento com este passo dado pelo PS e pelo JPP, mas sobretudo por este último. ‘O bom filho à casa torna’, escreveu um internauta, lembrando que Élvio Sousa e Filipe Sousa, que fundaram o JPP em 2005 como movimento de cidadãos, eram socialistas descontentes.
“Gostaria ver os irmãos Sousa explicar o porquê de terem deixado de ser militantes activos PS há anos atrás para agora a conversão ser total. Afinal, a farinha vem de sacos diferentes mas o seu conteúdo não é assim tão diferente, como apregoam aos sete ventos”.
Há quem acredite que a razão de ser desta proposta socialista é salvar Paulo Cafôfo e travar o crescimento do JPP. Independentemente das razões que possam estar para lá das tornadas públicas, o descontentamento é real. “Se se vier a confirmar tal Popugeringonca, ao JPP vai-lhe acontecer o mesmo que ao BE e ao PCP, porque nas próximas os eleitores não lhes vão perdoar tal traição. Quanto ao PS, é vergonhoso e lamentável, porque a todo o custo quer poder, já que de outra forma nunca la chegaria”.
Sarcásticos, até já baptizaram o JPP de “Juntos Pelo Poleiro”. Além disto, lembram também que esta é uma relação já tentada sem sucesso, então para a Câmara Municipal do Funchal. Paulo Cafôfo foi eleito na coligação Mudança, de que o partido agora liderado por Élvio Sousa fazia parte. Na altura, em Outubro de 2018, o JPP alegou “falta de consideração” e abandonou a coligação. Na altura referiu a interferência de grupos económicos na governação da Câmara do Funchal.
“És outro vendido, queres é chegar ao poder a todo o custo!”, “Vizinho não estava a espera disto... acho que não pensou bem”, “Eu acreditava no JPP antes de perceber que também faziam acordos com o PS. Quem votou JPP e acreditou, não votou PS... mas a política ensina” são alguns dos muitos comentários. As críticas dividem-se entre as feitas a Paulo Cafôfo, a Élvio Sousa, e a ambos e saltam entre outras declarações e reacções de apoio à solução que promete pôr fim a 48 anos de governação social-democrata na Madeira. “O tal independente... 48 anos de espera, já estão por tudo... Não vai demorar muito que até ao Chega vão pedir”.
Uns acreditam que há ingenuidade por parte do JPP, outros apenas interesse. “Uns agarrados ao poder, outros sedentos dele. A falta de coerência na política é gritante, criticam coligações pós-eleições, na primeira oportunidade fazem o oposto. Depois admirem-se que a abstenção suba”. “Cruz credo, o que faz o desespero para o poder que não lhes foi confiado. Estes Juntos Pelo Povo, agora sim caiu-lhe a máscara, já começaram a perder eleitorado”. “Juntou se a fome com a vontade de comer. Este cafofo é um artista de primeira, basta ver por onde ele andou, enfim quer uma geringonça como o seu padrinho Costa. Não ganhou as eleições mas quer governar? Então a vontade do povo não conta?”
O facto de Filipe Sousa ter criticado a negociação do lugar de Presidente da Assembleia foi lembrada, o mesmo lugar já foi oferecido agora por Paulo Cafôfo em troca do apoio do CDS. “Durante cinco anos chamaram bengala ao CDS. Na primeira oportunidade querem ser andarilho... Ai coerência que tanta falta faz”, escreveu um internauta. “O princípio do fim do JPP… aceitar o beijo de Judas”, vaticina outro.