Trabalhadores das Misericórdias exigem aumentos salariais em falta desde 2022
Cerca de 30 trabalhadores da União das Misericórdias e de Santas Casas denunciaram hoje, em frente ao Ministério do Trabalho, em Lisboa, a falta de aumentos salariais desde 2022, num setor cuja média salarial não ultrapassa o ordenado mínimo.
Em declarações aos jornalistas, a dirigente sindical do Sindicato do Comércio, escritórios e Serviços de Portugal (CESP) explicou que estes trabalhadores estão hoje em greve "porque exigem das suas entidades patronais" as devidas atualizações salariais.
É o caso de Isabel Santos, trabalhadora da União das Misericórdias Portuguesas (UMP), ajudante de lar há quase 19 anos e que continua a receber o ordenado mínimo nacional.
"A situação em que estamos é que entra agora ou quem tem 20 anos de casa está a ganhar o mesmo", queixou-se.
Segundo Catarina Fachadas, no caso da União das Misericórdias Portuguesas não há aumentos salariais desde 2022, enquanto nas Santas Casas, além dos aumentos salariais, falta uma nova redação do Contrato Coletivo de Trabalho (CCT).
"Aquilo que a UMP quer é um contrato coletivo novo, que retire direitos que os trabalhadores já possuem, como as diuturnidades", acusou, acrescentando que também está em causa o devido pagamento pelos dias feriado como dia suplementar.
Catarina Fachadas salientou que a média salarial destes trabalhadores é o valor do salário mínimo nacional, que só sofre alteração a partir dos 25 anos de carreira.
Questionou a razão pela qual a UMP e as Santas Casas não cumprem com os devidos aumentos salariais, quando as Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS) têm-no feito, para o mesmo tipo de trabalho.
"Temos conseguido fazer a negociação do aumento salarial anualmente, [enquanto] nas misericórdias pura e simplesmente recusam responder à proposta [negocial] ", referiu a sindicalista, acusando a UMP de estar "completamente indiferente a estes trabalhadores".
"Uma falta de respeito imensa", criticou.
Ainda em relação às diferenças entre instituições, lembrou que ainda em 2023 houve um reforço financeiro pago pelo Estado na ordem dos 145 milhões de euros, que não se refletiu em aumentos salariais.
"O dinheiro vai para onde? Não sabemos, mas queremos ver esclarecido.
Catarina Fachadas explicou que depois da greve no dia 26 de abril, a UMP fez uma proposta negocial -- "que de proposta só tem mesmo o nome, porque é uma vergonha" -- para aumentos salariais de 5% sobre o valor do salário de 2023.
A dirigente sindical salientou que já em 01 de janeiro de 2024 o salário mínimo aumentou para 820 euros brutos mensais, e que a UMP quer negociar em cima dos anteriores 760 euros.
Acrescentou que as reuniões marcadas para hoje com a UMP, em sede de conciliação, uma para discutir os aumentos salariais dos trabalhadores da UMP e outra sobre o contrato coletivo de trabalho dos trabalhadores das Santas Casas, foram adiadas a pedido da instituição.
"O que vamos pedir agora é para ser ouvidos pelo gabinete da ministra [do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social] porque isto não pode continuar assim", defendeu.
Catarina Fachadas garantiu que todas as formas de luta estão em cima da mesa, lembrando que os trabalhadores da UMP tiveram dois aumentos salariais desde 2002.
Célia Vareiro, trabalhadora da Santa Casa da Misericórdia da Póvoa de Varzim lembrou, por seu lado, que o setor social é muito desvalorizado, apesar de ser "um trabalho fundamental", apontando que é um trabalho "de uma violência psicológica, física".