JPP lembra que “mais vale manjar uma côdea de pão em paz do que participar num banquete com ansiedade”
Élvio Sousa inspirou-se na fábula do escritor grego Esopo para lançar mensagem política, no dia seguinte às 'Regionais'
JPP manteve tabu após o PS abrir a porta a um entendimento partidário
“Mais vale manjar uma côdea de pão em paz, do que participar num banquete com ansiedade”. O deputado e cabeça-de-lista do JPP, Élvio Sousa, inspirou-se no escritor grego Esopo, para deixar uma mensagem política enigmática na sua página no Facebook, no ‘day after’ às eleições regionais da Madeira.
Na noite eleitoral, o candidato e porta-voz do JPP fez tabu quanto à decisão do partido relativamente a eventuais coligações, acordos de incidência parlamentar ou entendimentos partidários, isto depois do presidente e candidato do PS, Paulo Cafôfo, ter valorizado o facto de PS e JPP juntos somarem mais votos do que o PSD.
“Existe a possibilidade de construir, com acordo partidário, um novo governo de estabilidade”, transmitiu Paulo Cafôfo, acreditando que “os resultados demonstram que é possível uma mudança de Governo”, com o PSD fora dessa equação.
Desde logo, o JPP - considerado o grande vencedor destas ‘regionais’ - colocou de parte uma solução governativa com o PSD de Miguel Albuquerque, mas nada disse quanto a um entendimento com os socialistas. “Nós hoje [ontem] não temos que atender chamadas de nenhum partido, porque a noite é a melhor conselheira. Amanhã [hoje] eu costumo levantar-me às 5, 6 da manhã, se quiserem podem ligar”. No fim, deixou apenas uma garantia: “A Madeira não vai ficar ingovernável com a nossa posição”.
O PS e o JPP, juntos, têm 20 deputados, ficando a quatro da maioria absoluta do parlamento, mas o líder regional socialista tem como objectivo "construir um novo governo com estabilidade" e vai "encetar contactos" com os partidos com representação parlamentar, excluindo dessas conversas PSD e Chega.
Um Governo Regional sem Miguel Albuquerque é também uma das condições impostas pelo Chega para apoiar o executivo social-democrata. Se o presidente do PSD/Madeira ficar terá de "ter a coragem" para governar sem maioria, segundo o líder regional do Chega, Miguel Castro.
O CDS-PP já admitiu estar disponível para dialogar com todos os partidos, mas avisou que não voltará a integrar o executivo.
Também a IL reafirmou que não vai fazer acordos com ninguém, embora tenha disponibilidade para negociar caso a caso, enquanto o PAN, manifestando-se como "um partido de abertura, de diálogo, de construção", assegurou que não deixará "ninguém de parte" e pensará "sempre naquilo que é o melhor" para a Região.
O PSD/Madeira voltou a vencer no domingo as legislativas regionais sem conseguir, pela terceira vez consecutiva, a maioria absoluta, mas afirmou-se disponível para assegurar um "governo de estabilidade", enquanto o PS considerou haver margem para construir uma alternativa.
Segundo os resultados oficiais provisórios da noite eleitoral divulgados pela Secretaria-Geral do Ministério da Administração Interna, o PSD elegeu 19 deputados (36,13%, 49.103 votos) e o CDS dois (3,96%, 5.384 votos), quando no ano passado, em coligação, conseguiram, respectivamente, 23.
As eleições antecipadas ocorreram oito meses após o mais recente sufrágio, depois de o Presidente da República ter dissolvido o parlamento madeirense, na sequência da crise política desencadeada em Janeiro, quando o líder do Governo Regional, Miguel Albuquerque, foi constituído arguido num processo sobre alegada corrupção e pediu a demissão, deixando o executivo em gestão.
Depois de uma votação com 46,60% de abstenção (de entre 254.522 eleitores inscritos), o social-democrata diz-se agora disponível para negociar com "todos os partidos com assento parlamentar", excluindo o PS, e assegurar um "governo com estabilidade".