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Carta Aberta: da Adversidade à Verdade

A Associação Académica de Lisboa (AAL) tem uma história de 38 anos marcada pelo compromisso e dedicação de várias gerações de estudantes. Ao assumir a liderança da AAL em fevereiro de 2023, embarquei no desafiante compromisso de revitalizar e reposicionar a Associação como um dos principais impulsionadores do movimento associativo nacional. A estrutura da AAL estava pouco dinamizada à data, tornando-se evidente que com a minha entrada se inaugurou um novo ciclo na sua história, com uma nova visão e estratégia.

Apesar das poucas esperanças de alguns, consegui unir todos em torno da minha candidatura, criando uma liderança próxima das nossas Associações federadas. Iniciámos um reposicionamento da marca, que ainda está em curso. Um evento com desfecho menos positivo não pode anular os sucessos do mandato. Contudo, devo admitir que não alcançámos todos os objetivos desejados.

Pessoalmente, este revés afetou-me, levando-me a necessitar de tempo para restabelecer-me. Hoje, reconheço que em apenas um mandato não se conseguem resolver problemas que a Associação enfrenta há décadas.

Após esse período, é necessário refletir sobre a falta de adesão ao SAL2023. Os artistas não cativaram como esperado, e os festivais académicos em Lisboa têm vindo a perder atratividade entre os jovens estudantes, ano após ano. Se compararmos eventos similares organizados por outras entidades para o mesmo público, também não alcançaram os resultados esperados.

Todos nós temos que refletir sobre isso!

Durante o meu mandato, enfrentei adversidades, incluindo acusações infundadas relacionadas a eventos patrocinados pela AAL, como a SAL2023. Nunca imaginei que houvesse organizações e indivíduos que sistematicamente visam a nossa Associação. Como assumiram que isso não era possível na minha liderança, tentaram fragilizar-me publicamente.

A capacidade de reinventar a Associação foi fundamental durante este mandato. Mesmo perante grupos de interesse, mantive-me resiliente, liderando uma Associação que não recebeu qualquer financiamento. Existe uma empresa que visa exclusivamente organizar eventos para Associações de Estudantes e controlar o movimento associativo em Lisboa, com a conivência de uma estrutura federativa de associações de estudantes. Esta entidade estabeleceu protocolos com dezenas de Associações, apresentando contratos onde o risco maior recai sempre sobre estas últimas. Muitas delas sofreram uma descapitalização avassaladora devido a questões contratuais. Houve também uma série de presidentes de Associações de Estudantes eleitos apenas por concordarem com os interesses desta organização de eventos. Dirigentes que não fazem parte desse grupo são convidados a sair ou alvo de represálias.

Durante este mandato, realizámos muito!

Demonstrámos que o Movimento Associativo é para todos e com todos. Estabelecemos uma nova dinâmica na relação com os dirigentes associativos das Associações federadas, criando um sentido de pertença e trabalho conjunto. Empenhámo-nos para que o Plano Nacional de Alojamento para o Ensino Superior fosse integralmente cumprido, sendo os únicos a defender um novo Pólo Residencial para Estudantes do Ensino Superior em Lisboa. Além disso, estabelecemos proximidade com os estudantes, fornecendo apoio prático através da distribuição de "Kits Caloiro" para milhares de jovens. Internamente, tivemos as Assembleias Gerais mais participadas da última década e conseguimos voltar a estar representados institucionalmente em fóruns como o ENDA - Encontro Nacional de Direções Associativas.

Como madeirense à frente de uma Associação Académica desta dimensão, reivindiquei repetidas vezes que não pode haver estudantes de primeira nem de segunda categoria. Os jovens madeirenses, assim como as suas famílias, não podem suportar os custos da insularidade nem os da especulação imobiliária. A Madeira é uma das regiões mais desiguais da Europa, onde 28% da população vive com um rendimento abaixo de 600€, valor que não cobre os custos de um estudante deslocado. Por isso, lutei por duas grandes bandeiras neste mandato em prol dos estudantes madeirenses: um contingente de acesso às Residências Universitárias, semelhante ao que acontece na ingressão do Ensino Superior, e um maior financiamento por parte do Governo Regional a estes estudantes, para pagar metade do valor do arrendamento.

É crucial que a nova direção da AAL leve em consideração a necessidade de redefinir o foco da nossa Associação. Os megaeventos podem ser impressionantes, mas o foco da AAL deve ser auxiliar as Novas Gerações. A nova direção deve concentrar-se em ajudar os jovens a iniciarem os seus projetos de vida, procurando oportunidades de emprego ou criando o seu próprio emprego. Não basta apresentarmos propostas que possam resolver os problemas das Novas Gerações; temos que ser um instrumento de mudança na resolução dos seus problemas.

A AAL precisa de se reinventar, como sempre fez, mas para isso deve alinhar-se com as tendências de mercado em constante evolução.