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Análise

Votar para cobrar depois

Não votar representa uma desresponsabilização perante a sociedade

Os madeirenses são hoje chamados a escolher os deputados da Assembleia Legislativa para os próximos quatro anos. Já o tinham feito em 24 de Setembro do ano passado, mas a demissão do presidente do Governo na sequência do processo judicial em que é suspeito e a não aceitação de um novo executivo de coligação por parte do Presidente da República, obrigam os eleitores a regressar às urnas, local a que voltarão novamente a 9 de Junho, desta feita para elegerem os representantes do povo no Parlamento Europeu.

São actos eleitorais a mais, tendo em conta que em Março votámos para a Assembleia da República? São, mas são os necessários para fazer cumprir o regime democrático estabelecido em 1974, onde a última decisão cabe sempre ao povo.

Nas ‘Regionais’ deste domingo há 14 partidos no boletim. Por isso existem 14 opções para a cruz ser colocada. É o dia da verdade, de o eleitor dizer que caminho quer para a Região. Se aposta apenas num só partido para governar com maioria absoluta – cenário cada vez mais improvável, fazendo jus ao que preconizou a sondagem publicada na quinta-feira pelo DIÁRIO – ou decide dispersar a votação por diversos partidos, obrigando-os, depois, a encontrarem compromissos ou alianças que tornem viável a governação. Logo à noite saberemos como vai ficar o xadrez político regional na certeza de que nada será como antes. Há diversas possibilidades em cima da mesa na qual não entra a abstenção. Abster-se é alhear-se do futuro colectivo, é por nas mãos de outros o poder de decidir. Não votar representa um perigo para democracia e uma desresponsabilização perante a sociedade. Quem participa, votando, tem depois não só o direito, mas a obrigação de cobrar aos eleitos o cumprimento das promessas feitas em campanha e registadas nos respectivos programas que, como se sabe, foram muitas e para todos os gostos. A maioria, a bem da verdade, sem cabimento em nenhum orçamento que não tenha um poço de petróleo por explorar ao lado. Perante a demagogia e o jogo de palavras simplista usado por muitos candidatos o cidadão eleitor tem de responder com responsabilidade, votando primeiro para exigir depois, na certeza de que a inexistência de maiorias absolutas não inviabiliza a governação da Região. Pode obrigar, sim, a entendimentos, quer a nível parlamentar quer de governo. Como aconteceu em 2019 e em 2023. É possível haver estabilidade com maiorias relativas que forçam a negociações permanentes no parlamento. E é para o parlamento que se vota hoje. Haverá maior probabilidade de novo acto eleitoral antecipado? Não forçosamente. Os partidos têm de saber interpretar e respeitar a vontade popular e agir em conformidade, em vez de se preocuparem com a tomada do poder para satisfazer clientelas e caprichos pessoais. O paradigma das maiorias absolutas acabou, dando lugar à via diplomática.

Que o novo executivo saído das urnas seja lesto em enfrentar os reais problemas da população, designadamente no acesso à habitação, no combate ao trabalho precário e mal pago, no combate às listas de espera na saúde e ao Inverno demográfico que nos atinge. Há um rol infindável de questões a merecerem prioridade absoluta, a começar pela aprovação do orçamento. Daqui a quatro anos há novo balanço e veredicto popular.