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Madeira

"Vamos ficar, de repente, com muitas turmas sem professores"

Henrique Oliveira alerta que "metade do corpo docente da Madeira vai-se reformar nos próximos 15 anos", colocando grande desafios à Educação

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Professor do Instituto Superior Técnico de Lisboa coordenou o ‘Estudo sobre o envelhecimento e o desgaste dos docentes da RAM’, hoje apresentado, no auditório do SPM

“Descobrimos que os professores [da Madeira] estão envelhecidos (…) metade dos professores da Madeira tem mais de 50 anos. O índice de envelhecimento é de 1.850. Ou seja, 18 professores com mais de 50 anos, relativamente aos professores com menos de 35. O que significa que é um dos níveis mais elevados da União Europeia”, indicou Henrique Oliveira aos jornalistas, antes da apresentação do estudo sobre o envelhecimento e o desgaste dos docentes da RAM, do Instituto Superior Técnico de Lisboa e por si coordenado.

Passa o alerta: "50 por cento do corpo docente de todas as escolas e estabelecimentos de ensino da Madeira vai-se reformar nos próximos 15 anos", o que trará "problemas com a Educação nos próximos tempos".

"Estes 50 por cento [que vão aposentar-se] são, precisamente, a parte mais experiente, mais habituada a lidar com os problemas dos jovens e nós vamos ter que substituir esses professores (...) por pessoas que têm de ser formadas muito depressa. 

"É um fenómeno importante e que acontece também muito no continente. Vai haver uma acelerada taxa de aposentações e nós vamos ficar, de repente, com muitas turmas sem professores", avisou o especialista, que apresentou este sábado, no auditório do Sindicato dos Professores da Madeira, o retrato da classe docente na Região, encomendado pela direcção do SPM, com o objectivo de conhecer, a fundo, a realidade regional, assentando nas respostas de cerca de 1300 docentes de todas as escolas da RAM.

Por seu turno, o psiquiatra João Carlos Melo, que analisou os resultados do ‘Estudo sobre o envelhecimento e o desgaste dos docentes da RAM’, salienta o facto de estarmos perante um dos grupos profissionais que "estão mais sujeitos a ‘burnout’".

"Se não tiverem compensações ou um complemento à sua vida profissional, nomeadamente com a vida pessoal, de família, amigos, enfim, ‘hobbies’ ou outras actividades, pois torna-se muito difícil para estas pessoas aguentar esse trabalho e essa exigência toda".

Quando uma pessoa chega a um ponto de burnout, isso significa queimar até ao fim, a pessoa aguenta, aguenta, aguenta, faz das tripas com o coração, como se costuma dizer, mas chega-se a um ponto em que por falta de descanso e por continuidade das exigências, as pessoas já não aguentam. Começam com sintomas de ansiedade, insónia, sintomas depressivos, que mesmo não chegando ainda a uma depressão clínica, afectam a qualidade de vida. Carlos Melo

O psiquiatra defende, por isso, que "quanto mais cedo se intervier melhor", porque "muitas vezes, [os professores] chegam a um ponto em que já não estão em condições de trabalhar e precisam de baixa", com os todos os impactos que isso tem, não só ao nível da saúde mental destes profissionais, mas também as repercussões no mercado laboral.

O estudo, coordenado por Henrique Oliveira, partiu de uma decisão da direção do SPM, com o objectivo de conhecer, a fundo, a realidade regional, assentando nas respostas de cerca de 1300 docentes de todas as escolas da RAM.

Conforme avançou o Diário na edição impressa de 24 de Maio, algumas das principais conclusões deste estudo apontam para uma classe em que tem uma média de idades superior a 50 anos com elevados índices de desgaste e burnout, com agravamento do risco de esgotamento emocional a partir dos 45 anos.

Por outro lado, há uma grande insatisfação profissional: 55 por cento dos professores não recomendaria a profissão a amigos e 73 por cento sentem-se frustrados por não conseguirem acompanhar individualmente os alunos/ crianças.

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