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A normalidade de quem é pobre

O presidente do Governo Regional utiliza com alguma frequência o argumento de que algum estado de coisas na Madeira é normal para justificar esse próprio estado. A mais recente foi para responder sobre a Madeira ter a mais alta taxa de risco de pobreza segundo o relatório “Portugal balanço social 2023”, 10 pontos acima da média nacional, que é de 17%.

Para o governante, o facto da Madeira ser um território insular justifica, por si só, a maior vulnerabilidade do seu povo face aos riscos de pobreza. Mas há exemplos que contrariam esta ideia. A Córsega tem uma taxa praticamente igual à taxa nacional de França. As Ilhas Gotland (Suécia) têm menos uma décima do que a taxa nacional; as Ilhas Jónicas, na Grécia, também têm taxas inferiores às nacionais

Esquece de dizer, ou só diz quando dá jeito, que não é normal que exista esse risco acentuado numa região com uma taxa de PIB elevada, ou seja, uma região rica. Se há riqueza, não é para todos; está muito mal distribuída. Se calhar até tem dado jeito ao PSD manter parte do povo em situação vulnerável para depois poder manipular e subornar. É com o voto dos pobres que se mantêm no poder.

Podemos interpretar esse argumento como falta de empatia por quem vive num determinado contexto. A normalidade de uns é muito diferente da de outros. A normalidade de Miguel Albuquerque, com certeza, não é a mesma daqueles que vivem em situação de pobreza. Nem mesmo daqueles que trabalham, todos os dias, mas que ao fim do mês o que recebem não é suficiente para lhes dar o conforto que merecem. Qual a normalidade de quem está em risco de pobreza e de privação material?

A normalidade de uma pessoa pobre é depender sempre de alguém para obter o que necessita; é fazer contas todos os dias para ver o que pode gastar; é precisar de uma consulta médica mas ter de esperar por uma vaga no serviço público sine die; é ter medicamentos para comprar mas não poder; é ter crianças em casa e não poder proporcionar mais conforto; é querer que os filhos tirem um curso superior e não ter capacidade de suportar os custos; é ir ao supermercado comprar apenas o que está em promoção; férias fora da ilha nem ver; e esqueça ir ao Porto Santo, pois a ilha não é para turismo acessível e de campismo; é adiar os seus projetos pessoais e familiares; é trocar a sua liberdade de escolha por uns sacos de cimento ou uns frangos.

Não admita que a pobreza seja uma condição normal na nossa ilha. Não é. VIRE A PÁGINA e não permita que a pobreza seja fator de subtração das liberdades e garantias dos cidadãos. VIRE A PÁGINA para que todos tenham acesso a cumprir os seus objetivos em liberdade e igualdade.