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China acelera deslocalização de milhões de tibetanos

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A Human Rights Watch (HRW) afirma que a China está a acelerar a urbanização forçada de aldeões e pastores tibetanos, obrigando mais de três milhões destes a abandonar o seu estilo de vida nómada tradicional.

Citado pela agência noticiosa AP, um relatório da organização baseado em relatórios internos chineses que contradizem declarações oficiais, indicou que as deslocalizações enquadram-se num padrão de exigências, frequentemente violentas, de que as minorias étnicas adotem a língua estatal, o mandarim, assim como jurem fidelidade ao Partido Comunista no poder.

A exigência é feita, segundo o documento, nos territórios ocidentais e setentrionais que incluem milhões de tibetanos, uigures de Xinjiang, mongóis e outras minorias.

A China afirma que o Tibete faz parte do seu território há séculos, embora só tenha estabelecido um controlo naquela região dos Himalaias depois de o Partido Comunista ter chegado ao poder na guerra civil em 1949.

 "Estas táticas coercivas podem ser atribuídas à pressão exercida sobre os funcionários locais pelas autoridades de nível superior, que habitualmente caracterizam o programa de realojamento como uma política inegociável e politicamente crítica, vinda diretamente da capital nacional, Pequim, ou de Lhasa, a capital regional", afirmou a HRW.

De acordo com o relatório, as estatísticas oficiais sugerem que, até ao final de 2025, mais de 930.000 tibetanos rurais deverão ser deslocados para centros urbanos, onde estão privados das suas fontes de rendimento tradicionais e têm dificuldade em encontrar trabalho.

A capital regional do Tibete, Lhasa, e outras grandes cidades têm atraído um grande número de migrantes do grupo étnico Han, que domina a política e a economia da China.

Mais de três milhões dos mais de 4,5 milhões de tibetanos que vivem em zonas rurais foram forçados a construir casas e a abandonar o seu estilo de vida nómada tradicional baseado em pastorícia e agricultura, segundo o relatório.

A China refuta regularmente as acusações sobre as condições dos direitos humanos nas regiões tibetanas como "acusações infundadas" que servem para "manchar" a imagem da China.

Em agosto passado, o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Wang Wenbin, afirmou que "as condições dos direitos humanos no Tibete estão no seu melhor momento histórico".

 "Há muito que a região goza de uma economia em expansão, de uma sociedade harmoniosa e estável e de uma proteção e promoção eficazes do património cultural", afirmou Wang numa conferência de imprensa diária do ministério.

Wang afirmou que "os direitos e liberdades de todos os grupos étnicos, incluindo a liberdade de crença religiosa e a liberdade de utilizar e desenvolver as línguas faladas e escritas dos seus grupos étnicos, estão plenamente garantidos".

 A China, com uma população de 1,3 mil milhões de pessoas, declara ter erradicado a pobreza extrema, em grande parte através da transferência de casas isoladas e pequenas aldeias para comunidades maiores, com melhor acesso a transportes, eletricidade, cuidados de saúde e educação. Estas alegações não foram verificadas de forma independente.

No seu relatório, a HRW afirmou que iria "oferecer apoio às instituições académicas para realizarem e publicarem inquéritos académicos regulares e independentes sobre as opiniões das pessoas, tanto antes como depois da deslocalização, e tomar medidas corretivas com base nas suas opiniões".

 "O Conselho de Direitos Humanos da ONU deve realizar uma investigação imparcial e independente sobre as violações cometidas sobre os direitos humanos pelo governo chinês no Tibete, Xinjiang, Hong Kong e em toda a China, conforme recomendado por mais de 50 especialistas independentes em direitos humanos da ONU", concluiu.