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UE vs USA – cada vez mais distantes

Em abril falei brevemente sobre a diferença no crescimento económico entre os EUA e a UE, mas parece-me valer a pena abordar o assunto com mais algum detalhe.

O grau de divergência recente deve impor alguma reflexão até porque, se em 2007 as economias tinham dimensões comparáveis, em 2022 a economia europeia representa cerca de dois terços da economia americana.

Apesar de existirem fatores sazonais a afetar a comparação – a comparação é em termos nominais – uma discrepância tão grande, ocorrida tão rapidamente, deve disparar alertas e motivar diagnósticos.

Ao olhar para a realidade europeia existem diversos pontos que chamam à atenção pela ausência de presença europeia relevante.

Um dos principais motivos de alarme para a UE é a ausência, quase total, de empresas europeias nas maiores empresas do mundo. As sete maiores empresas do mundo são americanas, com a Europa a conseguir apresentar apenas duas empresas nas vinte maiores do mundo e uma ausência quase total no setor de IA.

Quando comparado com os EUA, a UE parece ter uma grande desconexão entre o ambiente de laboratório das faculdades e os mercados de capital e trabalho, bem como uma menor qualidade nas universidades de topo. Os rankings internacionais contam apenas com uma faculdade europeia como uma das 30 melhores faculdades tecnológicas do mundo.

Temos também um grande problema no acesso a mercados de capital, com a diferença a se manifestar com maior fulgor nos anos mais recentes por dois motivos. Os fundos americanos têm-se afastado de investir na Europa pela redução de retorno desde a crise financeira. Por seu lado, os fundos europeus têm que investir parte do seu capital em empresas norte americanas para não perderem o possível retorno que estas apresentam.

Este fator obriga os fundadores europeus a competir no mercado de capital americano contra fundadores originários desse mercado. Mais preocupante é o facto de muitas das empresas europeias serem adquiridas antes de atingirem a sua maioridade.

Finalmente, as consequências da recente invasão da Rússia à Ucrânia mostraram muitas das fraquezas europeias no seu mercado energético e introduziram disrupções no mercado comum. A resposta da UE tem sido mista, tendo conseguido arranjar soluções viáveis – e provavelmente duradouras – para parte das disrupções energéticas, mas dando origem a diversas quezílias entre estados membros que poderão ter impactos duradouros.

A UE tem muitas forças a seu favor, tendo um território com fronteiras e situações políticas relativamente estáveis, uma adoção generalizada de sistemas de proteção social, sistemas de educação que alcançam a maior parte da população e algumas das taxas de criminalidade mais baixas do mundo.

No entanto, esta divergência de capacidade produtiva está a acontecer e terá, como conclusão inevitável, a erosão do poder de compra e qualidade de vida dos europeus face à média mundial.