PTP diz que a corrupção foi banalizada e tornou-se "socialmente aceite"
O candidato do Partido Trabalhista Português (PTP) às eleições antecipadas na Madeira José Manuel Coelho afirmou hoje que a corrupção no país e na região autónoma foi banalizada e tornou-se "socialmente aceite".
O PTP esteve hoje na freguesia de Ponta Delgada, no norte da ilha, junto de uma quinta, propriedade do presidente demissionário do Governo Regional da Madeira, Miguel Albuquerque, alvo de investigação judicial, segundo noticiou o Correio da Manhã em janeiro.
Em declarações à agência Lusa, José Manuel Coelho disse que o construtor da "mansão paradisíaca" de Albuquerque foi um empresário que ganhou várias obras públicas do executivo madeirense (PSD/CDS-PP), considerando que se trata de uma troca de favores.
"Como nós achamos que esse favorecimento ao empresário envolve dinheiro dos contribuintes da Madeira e do Porto Santo, nós achamos que tínhamos também o direito de usufruir da própria quinta para a sede do nosso partido", referiu o candidato às eleições regionais antecipadas de domingo.
O ex-deputado regional defendeu que "a corrupção em Portugal e na Madeira em particular está banalizada, que até os próprios tribunais da região autónoma nem sequer se importam em investigar qualquer tipo de corrupção porque tornou-se uma coisa banal, uma coisa corriqueira e é socialmente aceite".
"Mas nós, que somos realmente democratas e achamos que a política deve ser uma arte nobre, não podemos aceitar este tipo de comportamento, de compra de favores", sublinhou o candidato do PTP, partido que tem dedicado quase toda a campanha à causa da corrupção.
Em 2011, o PTP chegou a alcançar três mandatos na Assembleia Legislativa da Madeira e em 2015 integrou a coligação Mudança (PS/PTP/PAN/MPT), que se desintegrou após o ato eleitoral. O partido ficou representado por um deputado, não tendo, porém, conseguido eleitos nas últimas duas eleições regionais.
As legislativas da Madeira decorrem com 14 candidaturas a disputar os 47 lugares no parlamento regional, num círculo eleitoral único.
O sorteio da ordem no boletim de voto colocou o Alternativa Democrática Nacional (ADN) em primeiro lugar, seguindo-se Bloco de Esquerda (BE), Partido Socialista (PS), Livre (L), Iniciativa Liberal (IL), Reagir, Incluir, Reciclar (RIR), CDU -- Coligação Democrática Unitária (PCP/PEV), Chega (CH), CDS -- Partido Popular (CDS-PP), Partido da Terra (MPT), Partido Social-Democrata (PPD/PSD), Pessoas-Animais-Natureza (PAN), Partido Trabalhista Português (PTP) e Juntos Pelo Povo (JPP).
As eleições antecipadas ocorrem oito meses após as mais recentes legislativas regionais, depois de o Presidente da República ter dissolvido o parlamento madeirense, na sequência da crise política desencadeada em janeiro, quando o líder do Governo Regional (PSD/CDS-PP), Miguel Albuquerque, foi constituído arguido num processo em que são investigadas suspeitas de corrupção.
Em setembro de 2023, a coligação PSD/CDS venceu sem maioria absoluta e elegeu 23 deputados. O PS conseguiu 11, o JPP cinco, o Chega quatro, enquanto a CDU, a IL, o PAN (que assinou um acordo de incidência parlamentar com os sociais-democratas) e o BE obtiveram um mandato cada.
O PSD sempre governou no arquipélago e venceu com maioria absoluta 11 eleições entre 1976 e 2015.