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A soma de todas as luzes

Nos dias de hoje, a competição como um valor positivo está enraizada na sociedade. Associado à competição, está o progresso, a meritocracia e a sede de vencer. O espírito competitivo está inserido em todas as áreas, como o ensino, o desporto, as artes e até nas carreiras profissionais. Será que a competição nos torna pessoas melhores e mais felizes? Sim, ganhar alguma coisa pode nos tornar mais felizes, nem que seja temporariamente, e não é sempre errado. No entanto, onde há competição, há sempre quem ganha e quem perde. Há a felicidade e a infelicidade. Há o sentimento de superioridade e o de inferioridade.

Há quem alegue que a competição está associada à ambição, ao elevar de fasquias e ao aumento da eficiência. Que existe, também, a competição saudável que promove o bem-estar. Mas não acredito que isto seja a regra. Mesmo em crianças, a competição que prevalece deixa marcas. Encontramos ligações entre a competição e o aumento dos problemas de saúde mental, relacionados com a baixa autoestima, o sentimento de ser um/a perdedor/a e as desigualdades que tudo isto representa. Por sua vez, as pessoas não têm todas as mesmas capacidades, rede de apoio e meios para atingir os seus objetivos. E algumas das que se destacam perdem, por vezes, o sentido de coletividade e humildade, potenciando o conflito.

Na Educação, a excessiva competição leva a que se desvirtue os valores do desenvolvimento pessoal e da aprendizagem, em prol dos rankings e do ficar em primeiro lugar, com consequências muito nefastas no bem-estar psicológico das crianças e jovens. Por sua vez, as redes sociais levam à comparação excessiva com ídolos. E tudo isto tem reflexos muito preocupantes. Segundo o programa de promoção da saúde mental e prevenção de comportamentos suicidários em meio escolar, “Mais Contigo”, o número de adolescentes em Portugal com sintomas depressivos aumentou para 45% no ano letivo 2022-2023. Por sua vez, a Dove realizou um estudo em 2023, em vários países, incluindo Portugal, onde foram inquiridos 1.200 jovens, que revelou que 86% dos/as jovens portugueses/as admitem estar viciados/as nas redes sociais, um valor superior à média europeia (78%), e 90% já as utilizam desde os 13 anos.

Para contrariar o separatismo que a competição exacerba, é preciso começar a incutir um espírito cooperativo, que é capaz de elevar a fasquia tendo em conta as capacidades de cada pessoa, mas também promovendo a felicidade coletiva. A cooperação aproxima-nos e tem em conta os valores da igualdade e equidade, enquanto que a competição salienta as nossas diferenças e, muitas vezes, está enraizada na desigualdade e no desequilíbrio de poder.

Podemos ser menos competitivos/as na família, no trabalho, na escola. Mais tolerantes, dando espaço para cada pessoa desenvolver as suas capacidades, tendo em conta que nem toda a gente pensa e sente igual, ou faz as mesmas escolhas. Mais inclusivos/as e ter uma sociedade mais rica, com contributos de diferentes pessoas, das mais diversas formas. Podemos construir uma sociedade menos tensa, com crianças, jovens e adultos/as mais felizes por serem quem são e deixando a sua luz brilhar, sem terem que ganhar prémios ou se colocar em caixinhas pré-fabricadas, para mostrar o seu valor. Acender a luz da outra pessoa não apaga a sua. Faz com que a sua brilhe mais forte! Sejamos a soma de todas as luzes.