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Crónicas

Pessoas que (não) se esquecem de outras pelo caminho

Quem valoriza os que consigo constroem e lhes dá a devida atenção acaba por ter sempre uma rede de trapezista que o ampara e o protege

É muito fácil estar na mó de cima. Parece que tudo acontece de forma leve e orgânica, tudo flui de forma natural. Quando os astros se alinham e as coisas nos correm bem, acordamos de forma diferente e vamo-nos deitar com uma tranquilidade absolutamente reparadora. Quando algo acontece de positivo na nossa vida ou quando conseguimos atingir os nossos objetivos, quando construímos harmonia à nossa volta e todas as peças parecem encaixar, quando somos considerados, respeitados e admirados sentimo-nos mais cheios, mais inteiros e confiantes. Esse estado de profunda felicidade, leva-nos muitas vezes também a olharmos para o que nos rodeia de forma diferente. Aprendemos a desvalorizar certas coisas e a priorizar outras. Nesse caminho de subida é fundamental não nos esquecermos de quem nos acompanhou até ali, quem nos ajudou a crescer, quem apoiou nas mais pequenas coisas e quem esteve lá quando nem tudo correu dessa forma.

Muitas vezes não sabemos dar valor quando passamos por uma fase boa. Tornamo-nos mais egocêntricos e menos atentos aos que ao nosso lado se encontram a fazer o percurso oposto. Tendo por base que a vida é uma montanha russa em que umas vezes estamos em cima e outras por baixo e que acabamos por nos cruzar em diferentes momentos com as mesmas pessoas, é fundamental que saibamos preservar o respeito, a consideração e os nossos valores, para que possamos agir sempre de maneira igual, percebendo de forma clara e humilde que são as atitudes que temos, quando estamos lá em cima, que ditarão a resolução de outras temporadas mais complicadas em que nada parece resultar ou fazer sentido. Muitas vezes temos a tentação de dar a mão a quem menos precisa, a darmos valor a quem não merece e a olharmos apenas para aqueles que se encontram na mesma plataforma que nós.

Há quem não saiba fazer esse percurso de ascensão. Que se esqueça das pessoas pelo caminho, quem se ache mais importante do que os outros ou que já não precise dos que com eles partilharam essa caminhada. Normalmente, mais cedo ou mais tarde dão-se mal. Quem não sabe conviver com o sucesso e quem não o partilha com os que sempre fizeram parte, acaba por ter a devida recompensa quando a vida dá a volta. E não raras vezes encontramos a fazer o percurso inverso quem passou por nós noutra época. Quem não se esquece dos seus e não os abandona nunca passará sozinho pelas maiores dificuldades. Quem valoriza os que consigo constroem e lhes dá a devida atenção acaba por ter sempre uma rede de trapezista que o ampara e o protege. Há quem prefira o contrário. Que se envaideça e se transfigure, mudando formas de estar e de ser, afastando os que não se encontram “no seu patamar” e escolhendo novos “amigos” para partilhar esses momentos de maior fulgor.

Esteja a nossa vida de pernas para o ar ou no mais alto ponto da montanha, seja no início ou no fim do nosso caminho, a forma como nos apresentamos aos outros, na mais impressionante das conquistas ou no maior dos pesadelos, reflete tudo aquilo que somos. É nesse ponto de equilíbrio e na forma coerente como lidamos com as diversas fases que impactamos aquilo que teremos de volta. Aquilo que somos para os outros e o que fazemos mesmo quando aparentemente não precisamos deles, determina a qualidade de pessoas que atraímos. Não há amigos só para os bons momentos nem companheiros só para as vitórias. As relações sejam elas quais forem só se tornam sólidas se forem construídas à base desse entendimento, da lembrança de onde vimos e de levarmos na bagagem os que quando tudo corria mal eram os primeiros a chegar.