Nuvens negras pairam sobre a Madeira
O dengue tem aumentado exponencialmente no mundo e especialmente na América Latina. 80% dos casos aconteceram nesta região. De acordo com dados do ministério da saúde do Brasil , 3.8 milhões de brasileiros foram infectados por dengue, ou seja, aproximadamente 1.7% da população. Destes, 5% necessitaram de tratamento hospitalar. Até países com clima mais frio como o Uruguai ou o Chile, que até recentemente estavam livres desta doença, tiveram epidemias em 2023. Pelo menos 40.000 pessoas morrem anualmente da doença, um número que duplicou nas últimas duas décadas. Com o aquecimento global, a doença espalha-se!
Não há soluções mágicas. Há que fumigar e fazer campanhas de educação pública, para mitigar a existência de recipientes vazios com águas estagnadas.
Singapura é o paradigma no combate ao dengue! Põe o acento tónico na prevenção e não na reação. Os programas de vigilância e controle de vectores funcionam constantemente, mesmo quando o dengue está em baixa. Agentes de saúde pública procuram constantemente recipientes vazios onde possa existir águas estagnadas, em casas, empresas, espaços públicos, impondo multas aos negligentes. Os dispositivos de recolha de mosquitos estão em todo o lado, a recolher dados sobre a sua distribuição e densidade. As autoridades alimentam toda esta informação em modelos de previsão que fornecem um alerta precoce de surtos. Seguem-se grandes quantidades de pulverização de insecticida (1).
Presumo que não há nenhum madeirense que não se tenha apercebido do aumento exponencial de mosquitos no último verão/outono. Os alertas são abundantes e preocupantes. Perante o cenário descrito anteriormente e tendo em conta que já tivemos um surto de dengue na Madeira há 12 anos, a pergunta não é “se”, mas “quando”. Aliás considero o dengue potencialmente a maior ameaça à saúde pública e à economia da região! Teria efeitos catastróficos no turismo. Qual é o inconsciente que vai viajar para uma região onde há uma epidemia de dengue!?
Perante este cenário e potencial perigo, o que é que as autoridades regionais estão a fazer? Parece-me que muito pouco. Posso estar enganado, mas não me apercebo de campanhas de fumigação, tão pouco de educação pública. Se há que louvar o trabalho feito no passado, há que criticar a aparente inércia actual. Mais uma vez estamos à espera que a tragédia nos bata à porta para reagir!
(1) esta carta utiliza dados de um artigo do “The Economist”, publicado em abril
Pedro Teixeira