Foi o CDS que propôs a baixa do IRS para os funchalenses reivindicada agora por Paulo Cafôfo?
No debate das eleições Regionais 2024, transmitido ontem à noite pela RTP-Madeira, o candidato do PS-Madeira, Paulo Cafôfo, mencionou a devolução do IRS aos funchalenses, em 2014, chamando para si próprio o mérito de tal medida, o que gerou uma reacção do candidato do CDS-PP, José Manuel Rodrigues.
Já lá vão mais de 10 anos desde que a Assembleia Municipal do Funchal aprovou a devolução do IRS (Imposto sobre o Rendimento de Pessoas Singulares) aos funchalenses, altura em que autarquia era liderada pelo socialista Paulo Cafôfo.
Apesar da década de distância, o tema que em tempos foi bastante discutido voltou ontem a ter destaque entre os políticos madeirenses, mais concretamente no debate sobre as eleições Regionais de 26 de Maio próximo.
No primeiro tema lançado pelo moderador Gil Rosa, a baixa de impostos, todos os seis candidatos presentes tiveram a oportunidade de explicar quais eram as suas posições sobre a temática. E, foi durante a intervenção de Paulo Cafôfo, que o cabeça-de-lista do PS explicou que no próximo Orçamento da Região já será possível baixar 30% no IVA. Aproveitou a oportunidade para recordar o que se passou quando concorreu à Câmara Municipal do Funchal. "Em 2013 disseram-me que não era possível nem baixar o IMI à taxa mínima, nem devolver o IRS e isso foi possível", afirmou.
Mas, bem atento às palavras do líder socialista estava José Manuel Rodrigues que, prontamente, corrigiu o adversário, lembrando que a proposta tinha sido sua e do seu partido CDS-PP. "O IRS foi proposta minha, como se deve lembrar, senhor candidato, com o voto contra da Mudança (coligação)", frisou. Paulo Cafôfo não desarmou chamando a si a autoria da medida. "Eu como Presidente de Câmara devolvi o IRS e baixei o IMI", sublinhou.
Porém, a troca de ideias entre os dois candidatos não se ficou por aqui e, na segunda ronda pelo mesmo tema, José Manuel Rodrigues também fez questão de deixar expressa a sua opinião sobre a baixa do IRS de 2014 na CMF, voltando a colocar o 'dedo na ferida' em novo exercício de memória. "Paulo Cafôfo sabe melhor do que eu que quem propôs a devolução do IRS às famílias do Funchal fui eu como vereador e o senhor e os vereadores da Mudança, na altura, votaram contra", atirou.
Mas, afinal, foi mesmo o CDS a propor a baixa de IRS no Funchal para o ano de 2014?
Recuando no tema, mais precisamente a 18 de Novembro de 2013, data da reunião de Assembleia Municipal, o ponto três, tal como indica a ata, foi destinado à 'Apreciação e votação da proposta da Câmara relativa ao IRS - Imposto sobre o Rendimento de Pessoas Singulares - (...) para fixar (...) em cinco por cento a participação do Município do Funchal no IRS, dos sujeitos passivos com domicílio fiscal da circunscrição do concelho do Funchal'.
A Câmara propôs que essa participação fosse o máximo permitido por lei, como sempre tinha sido no Funchal, 5%. Mas o CDS apresentou uma proposta de alteração para que, em vez dos 5%, a CMF fique com apenas 4% do IRS pago pelos funchalenses.
Em termos práticos, a redução da percentagem de IRS para 4%, significava que quando (em 2015) fossem feitas as contas do IRS de 2014, fosse devolvido 1% aos funchalenses. As câmaras têm o poder de decidir o que fazer a 5%do IRS pago no seu território. Ou ficam com esses 5%, ou devolvem todo aos contribuintes, ou devolvem apenas uma parte.
Como os deputados municipais da Mudança estavam em minoria na Assembleia Municipal, os votos do PSD e da CDU, que se juntaram aos do CDS, fizeram com que a proposta de alteração fosse aprovada. Estava assim consumada a primeira derrota política de Paulo Cafôfo.