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Ameaça da extrema-direita pode mobilizar indecisos

Em Portugal a extrema-direita tem-se mostrado cada vez mais activa.   Foto André Rolo / Global Imagens
Em Portugal a extrema-direita tem-se mostrado cada vez mais activa.   Foto André Rolo / Global Imagens

O analista do Conselho Europeu de Relações Externas (ECFR) Rafael Loss acredita que realçar a "ameaça" que a extrema-direita representa na Alemanha e noutros países europeus pode "ajudar" a "mobilizar os indecisos".

"Parte do eleitorado da Alternativa para a Alemanha (AfD) vai às urnas pelo partido precisamente por causa do seu posicionamento anti-migrante, pró-russo, negacionista da crise climática e autoritário. Há poucas esperanças de conquistar estes eleitores para o 'mainstream pró-europeu'", considera Loss, salientando a importância de alertar sobre os perigos da extrema-direita para o projeto europeu.

Para o analista do centro de estudos ECFR, quanto mais fraca for a rejeição, pelo centro-direita, das políticas e dos discursos da AfD, maior será a probabilidade de estes serem vistos como legítimos.

"A ameaça da AfD à democracia europeia poder ganhar força como principal fator de mobilização do eleitorado alemão depende, em grande medida, da forma como o principal partido de centro-direita, a CDU, se posiciona sobre esta questão", apontou, em declarações à agência Lusa.

De acordo com a última sondagem do Instituto Infratest Dimap, se as eleições europeias fossem hoje, o partido mais votado na Alemanha seria a União Democrata Cristã (CDU), com 30%. Em segundo lugar, aparecem a AfD e os Verdes com 15%, e em terceiro o Partido Social Democrata (SPD) do atual chanceler Olaf Scholz com 14%.

Loss considera que acontecimentos externos podem ter um impacto significativo em qualquer campanha eleitoral, para o bem ou para o mal, mas, neste momento, isso parece improvável.

A AfD tem estado envolvida em vários escândalos, desde subornos a reuniões secretas onde foram discutidos planos de deportação de imigrantes e alemães com antecedentes ou raízes migrantes. Milhares de pessoas saíram às ruas por todo o país a pedir a ilegalização do partido.

Nas últimas semanas, várias ações violentas contra membros de vários partidos durante a campanha para as europeias, com destaque para a agressão do cabeça de lista do SPD na Saxónia, levantam de novo duras críticas por parte do público à AfD.

"Os dirigentes do partido ecologista 'Os Verdes' estão a ser regularmente assediados em eventos públicos. Há duas semanas, um social-democrata da Saxónia foi atacado quando colocava cartazes de campanha para as eleições europeias. Em 2019, Walter Lübke, um deputado da CDU em Hesse, foi assassinado devido ao seu apoio aos refugiados", recordou Rafael Loss.

Para o analista em assuntos europeus, a política alemã está "cada vez mais polarizada".

"A agitação antidemocrática da AfD e a exaltação velada da violência contra os migrantes e os opositores políticos são um dos principais fatores que contribuem para isso", revelou.

"O facto de o eleitorado reconhecer isto e decidir rejeitá-lo pode, de facto, diminuir as perspetivas da AfD nas eleições europeias e nas subsequentes eleições estaduais em três regiões da Alemanha de Leste, no próximo outono", apontou Loss, referindo-se às votações na Saxónia, Bradenburgo e Turíngia marcadas para setembro.

Antes disso, as eleições Europeias estão marcadas para 09 de junho.