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A semente do futuro

2024 é o ano de todas as decisões políticas. Há uma sensação, eivada de realidade, de estarmos permanentemente em campanha para eleições a nível regional, nacional e europeu e, quem sabe, em modo repeat até final do ano.

Sentimos falta de estabilidade, de governações lúcidas e ponderadas, da certeza possível do nosso dia-a-dia num mundo em constante mutação. Vivemos em suspenso, num stand-by político, económico e social que nos tolhe os sonhos.

Dia 26 de maio e dia 9 de junho somos novamente chamados a exercer o nosso voto, primeiro para a Assembleia Legislativa da Região Autónoma da Madeira e, depois, para os nossos representantes no Parlamento Europeu.

Neste turbilhão de eleições sucessivas, estamos novamente embrenhados no período eleitoral. É sempre um tempo dinâmico, em que o futuro se avizinha fantástico, tais são as promessas feitas de que os desejos dos cidadãos, por mais mirabolantes que sejam, ou até mesmo as necessidades nem sequer sentidas, tudo será satisfeito. Orçamento para tal, análise do custo/benefício, e do impacto dessas decisões no futuro, exequibilidade e enquadramento no desenho da sociedade que se quer alcançar? Nada disso interessa. Vive-se o imediato, inebriados pela maré de promessas. Depois? Depois, logo se vê.

Como se costuma dizer, o povo tem memória curta. Será? Penso que, cada vez mais, o povo não esquece, e exige o cumprimento das promessas eleitorais, embora haja sempre quem prefira escolher o conforto da alienação, prescindir da clarividência e tomar decisões ao sabor do vento.

Mas esse não pode ser o caminho, não há razão para não escolher, para não sermos participantes ativos da construção do nosso futuro e do dos nossos filhos e gerações futuras. A política não é assunto de alguns, votar nas eleições não é algo reservado a predestinados, mas sim a própria essência da nossa democracia.

Andando pelas ruas, ouvindo as pessoas, em bom madeirense, “cramarem”, vemos que nem tudo vai tão bem como seria desejável, mas também temos de ser sérios e admitir que nem tudo vai tão mal como o nosso feitio de ilhéus insatisfeitos pode fazer crer.

E, sobretudo, não podemos esquecer que temos nas nossas mãos a chave para mudar o estado das coisas, para alterar o que não gostamos ou não queremos, que é o nosso voto. Desbaratá-lo, negligenciar o seu poder, é delegar nos outros a responsabilidade pelo nosso futuro comum.

Todos estamos de acordo que queremos um desenvolvimento sustentável, inclusivo e justo, mas discordamos nos trajetos a percorrer. E divergimos também em quem deverá ser o timoneiro do barco que nos levará à sociedade idealizada ou, pelo menos, à que nos traga sucesso, felicidade e paz.

Do que vamos sabendo dos panfletos eleitorais e das declarações públicas, todos os candidatos advogam que as ideias e ideais do seu partido é que são os mais corretos e fidedignos. Todos prosseguem o interesse e bem comuns. Todos são os salvadores da Pátria, apresentando soluções ao sabor da vontade popular. E, nestes jogos de poder, não interessa construir pontes, predispor-se a consensos, não, isso não traz votos. A guerrilha política, os sound bites sonantes, isso é que cativa grande parte do eleitorado que, facilmente, se deixa levar pelo “canto da sereia”.

Temos de combater o descrédito e o distanciamento dos cidadãos face à política, em que tudo o que exige pensar, debater, analisar, ponderar, parece menos atraente do que deixar-se levar pela ideia mais impactante ou pelo discurso mais cativante, por mais oco e nonsense que possa ser.

Todas as eleições, se participadas, sem o comodismo da abstenção, podem dar sinais do sentir da população e são sempre uma oportunidade transformativa da vida política.

É crucial que cada um vote em consciência, depois de ponderação e informação credível, pois boas decisões dão bons frutos, mas as más decisões pagam-se caro.

A Madeira merece sempre a nossa melhor escolha e estou certa que, dia 26 de maio, os madeirenses e porto-santenses saberão fazer a escolha certa.

Em termos europeus, há que reforçar o foco no significado da União Europeia, não podemos descurar saber o que significa uma região ultraperiférica como a nossa estar no espaço europeu e como é vital assegurar que haja o maior número de representantes madeirenses no Parlamento Europeu.

Não posso deixar de mencionar a satisfação com os resultados do Eurobarómetro sobre Juventude e Democracia, da Comissão Europeia, publicado no passado dia 13 de maio, que nos diz que 77% dos jovens portugueses pretendem votar nas eleições europeias de 9 de junho, com apenas 5% a assumirem que não têm intenção de votar. Portugal ocupa a 2.ª posição neste ranking. Mais uma prova que os nossos jovens são a garantia de um futuro promissor.

Mas não só os jovens, todos nós temos também de usar o nosso voto para contribuir para um resultado eleitoral que promova uma visão de futuro consubstanciado num crescimento duradouro e sólido, gerador de riqueza, bem-estar e qualidade de vida para todos, não deixando ninguém para trás.

Quase 40 anos depois da adesão ao projeto europeu, com a entrada de Portugal na então Comunidade Económica Europeia (CEE), e para lá dos muitos milhões recebidos em fundos europeus, que Portugal na Europa temos hoje em dia?

Antes de mais, é evidente que a Europa provocou uma profunda mudança no paradigma social, político e estratégico de Portugal e da Madeira.

Na atualidade, pese o compromisso de solidariedade e cooperação europeias, e estando cimentado o Portugal europeísta, há quem tema o alargamento a Leste, invocando que terá consequências na diminuição da visibilidade e importância de Portugal no contexto europeu, com inevitáveis reflexos igualmente no peso da nossa Região no panorama europeu. Mas imbuídos da crença que a Europa é um projeto, porque obra inacabada, em que faz sentido Portugal e a Madeira estarem incluídos, temos de acreditar que a Europa dos novos alargamentos, mesmo com novos desenhos e dinâmicas institucionais, será sempre uma mais-valia para nós.

Por outro lado, no atual cenário de conflitos na Europa, sobretudo com a guerra na Ucrânia, e com possíveis alastramentos, faz ainda mais sentido estarmos unidos num espaço comum assente nos valores da dignidade humana, da solidariedade e do desenvolvimento sustentável. E que tenha a paz como objetivo primordial. Até à invasão da Ucrânia por parte da Rússia, dávamos como um dado adquirido, e até desvalorizado, a paz no seio da Europa.

Agora, mais do que nunca, face aos sérios desafios com que se debate a Europa e o mundo, temos de ter sempre bem presente que a paz, a liberdade e a própria democracia são construções frágeis que exigem um contínuo e efetivo compromisso de todos os decisores políticos, mas também de cada um de nós.

A posição atribuída aos representantes da Madeira, na lista de candidatos ao Parlamento Europeu, pelos três principais partidos da atual legislatura, PSD, PS e Chega, complica as contas, e sou de opinião que os partidos a nível nacional deviam ter reconhecido as especificidades das regiões autónomas e lhes atribuído um lugar melhor posicionado na respetiva lista de candidatos. Embora seja difícil, nada está perdido, e há chances, num cenário otimista, de termos vozes madeirenses a soarem no Parlamento Europeu.

Independentemente de filiações partidárias, julgo da maior importância termos o máximo de representantes da Região no centro das decisões comunitárias. E caso não haja a eleição de todos, quem for eleito tem de ter uma visão abrangente e suprapartidária, pondo os interesses da Região e o bem-estar dos madeirenses e porto-santenses em primeiro lugar.

Por isso, a mensagem é clara: escolha o caminho que deseja que seja trilhado no panorama regional e europeu, vote!

O seu voto conta e é a semente do seu futuro e do das gerações vindouras.