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Fact Check Madeira

Há ilhas espanholas e italianas com tendência de pobreza semelhante à da Madeira?

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A divulgação dos dados preliminares do Inquérito aos Rendimentos e Condições de Vida (ICOR), do Instituto Nacional de Estatística (INE) veio apresentar, novamente, a Madeira como a região com a maior taxa de pobreza em Portugal e a segunda com a mais elevada taxa de privação material e social severa. Confrontado com os dados, o presidente do Governo Regional, Miguel Albuquerque, declarou que é uma tendência “normal” pois “as ilhas têm sempre um risco superior” de pobreza. E referiu que “em termos de risco de pobreza, quer as  ilhas italianas quer as ilhas espanholas têm sempre média superior a 10 por cento” em relação às médias dos seus países. Será mesmo assim?

A abordagem desta questão exige uma distinção conceptual e uma delimitação territorial. Desde logo, há que esclarecer que ter uma “média superior a 10 por cento” é bem diferente de ter “uma média superior a 10 pontos percentuais”. Para que se tenha ideia, para uma taxa base de 20%, ter “uma média superior a 10 por cento” significa ter mais de 22% e ter “uma média superior a 10 pontos percentuais” significa ter mais de 30%.

Quanto à delimitação territorial, Espanha e Itália têm várias ilhas e nem todas cabem na comparação que foi feita por Albuquerque. Ontem, quando se referia a outras ilhas europeias, o presidente do Governo fez questão de afirmar que já tinha abordado o tema no passado (“eu já expliquei isso”). De facto, fê-lo. Foi a 21 de Janeiro de 2023, noutra ocasião em que foi confrontado com a taxa de pobreza da Madeira superior à média nacional. Nessa altura, disse: “O risco de pobreza em Canárias é de 39% [da população]. Se formos ver a Sicília e a Sardenha, [o risco de pobreza abrange] um terço [das respectivas populações]. Mas quem chega à Sardenha e compara com um concelho à volta de Lisboa, vê logo que a Sardenha é muito mais desenvolvida. A economia real é diferente do risco de pobreza”. Sabemos, pois, que ilhas entram na comparação.

Em relação às Canárias, no ano passado apresentavam uma taxa de risco de pobreza e exclusão social de 33,8%, quando a média espanhola era de 26,5%. É um valor que fica 10% acima da média nacional, mas é um acréscimo inferior a dez pontos percentuais.

Também em 2023, a Sicília e a Sardenha tinham taxas de risco de pobreza e exclusão social de 41,3% e 36,4%, respectivamente, quando a taxa italiana era de 24,4%. Em ambos os casos, a taxa é bem superior a 10% da média nacional e também fica 10 pontos percentuais acima da taxa nacional.

Em jeito de balanço, é verdade que há ilhas espanholas e italianas com taxas de pobreza tendencialmente superiores às respectivas taxas nacionais. Há que admitir, contudo, que o resultado seria diferente se se comparassem todas as ilhas de Espanhas e Itália. Por exemplo, o arquipélago das Baleares tem uma taxa de risco de pobreza e exclusão social de 20,6%, ou seja, inferior à taxa espanhola.

“As ilhas têm sempre um risco superior [de pobreza]. É normal. [Comparativamente com] os territórios continentais, em termos de risco de pobreza, quer as ilhas italianas, quer as ilhas espanholas, têm sempre média superior a 10 por cento. O risco de pobreza não é pobreza. Eu já expliquei isso” - presidente do Governo Regional, Miguel Albuquerque.