Putin em Pequim para "evitar perturbações" no apoio económico chinês
A deslocação a Pequim do líder russo, Vladimir Putin, visa evitar perturbações no apoio económico prestado pela China a Moscovo, observou a analista Alexandra Prokopenko, num artigo de análise publicado pelo jornal britânico Financial Times.
"Um dos principais objetivos [de Putin] é encontrar formas de minimizar qualquer perturbação no apoio económico que a China tem dado ao seu regime, em dificuldades desde o início da invasão total da Ucrânia", escreveu Alexandra Prokopenko, investigadora do grupo de reflexão ('think tank') Centro Carnegie Rússia - Eurásia, com sede em Berlim.
O comércio entre China e Rússia registou, em 2023, um crescimento homólogo de 26,3%, para 240 mil milhões de dólares (223 mil milhões de euros).
Pequim tornou-se o maior mercado para o petróleo e gás russos e uma importante fonte de importações, que incluem bens de dupla utilização civil e militar, que mantêm a máquina militar russa operacional, apesar de a China ter banido a venda de armamento ao país vizinho.
Nos últimos meses, a secretária do Tesouro e o secretário de Estado norte-americanos, Janet Yellen e Antony Blinken, visitaram a China e advertiram os dirigentes e instituições financeiras chinesas para a imposição de sanções contra todos os bancos que facilitarem pagamentos à máquina de guerra russa.
As exportações chinesas para a Rússia caíram 15,7%, em março, e 13,5%, em abril, em termos homólogos, sugerindo que as advertências surtiram efeito.
"A esperança de que isto resolva o problema de forma conclusiva é ilusório", apontou Prokopenko, no artigo de análise publicado pelo Financial Times.
"Nos últimos dois anos, os governos chinês e russo demonstraram capacidade notável de se adaptarem às restrições impostas pelos EUA. A visita de Putin representa nova oportunidade para debater as opções em privado antes de as implementar discretamente", acrescentou.
A investigadora espera que Putin, que inicia na quinta-feira uma visita de dois dias à China, seja acompanhado por uma equipa do banco central e do Ministério das Finanças responsável pelo esforço do Kremlin para reduzir a dependência da economia russa face ao dólar norte-americano.
"Estas medidas corajosas permitiram ao país resistir ao choque inicial das sanções e, em seguida, mudar rapidamente o seu sistema financeiro da dependência do dólar e do euro para a dependência da [moeda chinesa], o renminbi", descreveu Prokopenko.
Em dezembro de 2023, a moeda chinesa representava mais de um terço das liquidações no comércio russo com parceiros estrangeiros - de praticamente zero antes da guerra. Os depósitos em renminbi na Rússia ascenderam ao equivalente a 68,7 mil milhões de dólares, em 2023, ultrapassando as participações em dólares.
Isto foi possibilitado pela criação pela Rússia, logo após as sanções de 2014, de um análogo nacional do protocolo internacional de troca de mensagens entre instituições financeiras Swift.
A China opera também o seu próprio sistema de pagamentos interbancários transfronteiriços (Cips), que inclui atualmente cerca de 30 bancos russos.
O Cips não processa apenas pagamentos entre a China e a Rússia. Em abril de 2023, por exemplo, o Bangladesh utilizou-o para pagar à agência de energia atómica russa, em renminbi, as obras numa central nuclear.
"Embora o Cips não possa rivalizar com o Swift em termos de volume, a guerra na Ucrânia está a alimentar a sua expansão. As transações diárias terão aumentado 50%, em 2022, e mais 25%, nos primeiros três trimestres de 2023", segundo Belousov.
A investigadora previu que Moscovo e Pequim visem criar uma infraestrutura sofisticada para compensar pagamentos mais sensíveis.
"Um esquema de compensação de pagamentos problemáticos poderia incluir bancos mais pequenos que apenas efetuassem transações nas suas moedas nacionais e utilizassem apenas infraestruturas locais. É provável o envolvimento de várias empresas de fachada como intermediárias, incluindo de países da Ásia Central e do Golfo", descreveu.
Estas transações serão "mais dispendiosas e demoradas", mas vai ser "muito mais difícil" para os EUA detetá-las, observou.
"As autoridades chinesas podem assim aperfeiçoar uma infraestrutura financeira que poderá ser utilizada por outras nações que procurem um antídoto para a utilização do dólar como instrumento de guerra por Washington", explicou.