A ida do Nacional à Câmara do Funchal visa cumprir fins eleitorais?
A Câmara Municipal do Funchal anunciou que a equipa do Nacional e seus dirigentes vão ser recebidos na autarquia, pelo facto de o Clube/SAD ter garantido a presença na I Liga de Futebol da próxima época desportiva. Um feito alcançado, ontem, domingo.
Ao final da tarde, a autarquia presidida por Cristina Pedra divulgou uma nota à comunicação social, endereçando “as maiores felicitações ao Clube Desportivo Nacional, aos seus dirigentes, equipa técnica, atletas e massa associativa, pela subida à I Liga de Futebol”.
O executivo disse tratar-se de “uma conquista que muito prestigia a Madeira e à qual o Município do Funchal pretende associar-se” ao “receber nos Paços do Concelho, dirigentes, atletas e equipa técnica, no decorrer dos próximos dias”.
A divulgação dessa intenção e predisposição geraram várias críticas, em especial, nas redes sociais, identificando a iniciativa do executivo funchalense como uma acção de campanha política, tendo em conta as eleições de 26 de Maio. Mas será a recepção no Município do Funchal algo de extraordinário, que acontece por se realizarem eleições em breve?
Na análise à veracidade das afirmações - “até o futebol serve de campanha” e “vem aí eleições”, que sintetizam vários dos comentários à notícia da ida do plantel do Nacional à CMF, começámos por verificar o que aconteceu quando o Nacional (Clube/SAD) subiu de divisão, nos últimos 25 anos. Também procurámos saber o que aconteceu com a última subida do União à I Liga portuguesa. A verificação feita foi apenas relativa à Câmara do Funchal e deixou de fora o Governo Regional, nomeadamente, nas inúmeras idas à Quinta Vigia, dos vários clubes, não apenas para assinalar subidas de divisão, mas também apuramentos para as competições europeias.
Desde logo, verificámos que o Nacional registou subidas nos anos 2002, 2018, 2020 e agora, 2024. O União subiu, pela última vez, em 2015.
Na primeira subida, no período em análise, 2002, o Nacional foi recebido nos Paços do Concelho pelo executivo camarário, então liderado por Miguel Albuquerque.
Em 2018, com o Município sob a presidência de Paulo Cafôfo, o Nacional voltou a subir de divisão. Nessa ocasião, todo o plantel e dirigentes foram recebidos na sede do poder autárquico do Município.
Em 2020, durante a pandemia, o Nacional, no sobe e desce de divisão, voltou a garantir a subida. Desta feita, a 5 de Maio, a autarquia congratulou o Clube, mas não houve recepção autárquica, devido à Covid-19. Nessa fase, havia quarentenas, restrições no comércio, transportes, obrigatoriedade de viseiras, o ensino era à distância…
Recuemos até 2015, para assinalarmos a última subida do União à I Liga. Nesse ano, quando Paulo Cafôfo ainda era presidente do Município, a equipa unionista foi também recebida nos Paços do Concelho, para assinalar a subida.
Agora, com nova subida do Nacional, o executivo municipal volta a abrir as portas à equipa e dirigentes nacionalistas, mas ainda não estão definidos dia e hora da visita aos Paços do Concelho. Essa ocasião será acertada entre as partes, tendo em conta as disponibilidades dos dois lados. Neste momento, nem está garantido que seja antes das eleições do dia 26 deste mês, apesar de as probabilidades disso acontecer serem grandes.
A análise deste trabalho centrou-se nas recepções na CMF, mas, como já referido, houve muitas outras na sede do Governo Regional, tanto para os clubes/SAD aqui referidos como para o Marítimo. Várias delas motivadas por apuramentos para competições europeias.
Também a nível nacional é frequente as equipas e dirigentes dos clubes/SAD, que se consagram campeões nacionais ou vencem outras competições de prestígio, como a Taça de Portugal, serem recebidas nos paços dos respectivos municípios, por questões óbvias, essencialmente Porto e Lisboa. A grande excepção foi no Porto, enquanto Rui Rio foi presidente do Município, devido a divergências com o Clube e com Pinto da Costa, que nasceram com o processo de construção do Estádio do Dragão.
O actual campeão da I Liga, Sporting, deverá ser recebido na Câmara de Lisboa na semana de 20 a 24 de Maio, não estando ainda fechado o dia.
É evidente e óbvio que é sempre bom a qualquer actor político ou outro ter a sua imagem associada a momentos de vitória/glória, não sendo, por isso, de excluir que haja benefícios políticos a quem recebe equipas vencedoras. No entanto, não foi o que aconteceu na cidade do Porto, pois, ainda assim, Rui Rio continuou a vencer eleições naquele município.
Por outro lado, no Funchal, houve recepção de equipas de futebol em subidas de divisão, nomeadamente ao Nacional e ao União, em mandatos do PSD e do PS. Em todas essas ocasiões não houve eleições. Estas são as primeiras eleições realizadas tão próximo de uma subida à primeira divisão.
Por outro lado, a nível nacional, como acontece neste ano, há eleições para o Parlamento Europeu, que se deverão realizar a menos de três semanas da ida do Sporting à Câmara de Lisboa.
Por tudo o que aqui fica dito, constata-se que a ida do Nacional à Câmara do Funchal, mesmo que aconteça antes das eleições do dia 26 deste mês, não é motivada por fins eleitorais, mesmo que possamos admitir um eventual efeito. Assim, são falsas as referidas afirmações dos leitores, nesse sentido, feitas no Facebook.