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Trabalhadores concentram-se frente à Inditex para reclamar aumentos dignos

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Trinta trabalhadores estão hoje concentrados frente à sede da Inditex em Lisboa para exigirem maiores aumentos salariais do grupo dono da Zara em Portugal, numa manifestação convocada pelo sindicato CESP.

Os trabalhadores seguram uma faixa em que se lê 'Trabalhadores do grupo Inditex em luta por mais salários, mais benefícios sociais, objetivos adaptados a cada loja". No sistema de som ouve-se "não há dinheiro, não há dinheiro, andamos nessa conversa o ano inteiro", música da banda Quadrilha.

Ana Cruz, trabalhadora da empresa e dirigente do CESP Setúbal, disse à Lusa que este ano a empresa aumentou os funcionários em 60 euros, cumprindo o acordo com o sindicato de acompanhar o aumento do salário mínimo, e deu mais 20 euros em maio, mas só a duas categorias.

"É pouco. No melhor ano de sempre [2023], muitos milhões de lucro, com custo de vida a subir como tem subido, 80 euros, e não para todos, não é nada", afirmou, acrescentando que no grupo há pressão para trabalhadores trabalharem 35 horas e não 40 horas com a proporcional redução de ordenado. Segundo disse, já é uma minoria os trabalhadores do grupo com horário completo.

Os funcionários do grupo pedem ainda objetivos realistas, afirmando que sobem sempre e poucas lojas atingem porque são irrealistas pelo que trabalhadores não recebem essas comissões. Querem ainda benefícios sociais, caso de apoio a quem estuda, a quem tem filhos e filhos com necessidades especiais.

Segundo o CESP, em Espanha a política salarial da empresa é diferente, com ordenados mais altos, efetivas negociações salariais todos os anos e, por exemplo, apoio ao nascimento/adoção de 400 euros. Em Portugal, esse apoio não existe.

Ana vai fazer 22 anos de empresa em junho e, segundo explicou, tem um ordenado líquido de "1.000 e poucos euros" e, vincou, porque tem horário completo.

Frente à sede da Inditex, onde que há também uma loja da Zara, na zona do Saldanha, várias trabalhadoras quiseram pegar no microfone para contar as condições em que trabalham.

Ana Rita, trabalhadora em Almada, disse que se vê a fazer trabalho que era para várias pessoas, entre atender na caixa, descarregar o camião, fazer reposição, e que ainda é "chutada para canto" e acusada de "refilar".

"Sou só uma e quero trabalhar por uma e ganhar o meu salário. Sou zero reconhecida e ainda me dizem 'se estás cansada põe baixa'", relatou.

Vários empregados manifestaram ainda descontentamento por o prémio anual ser só para encarregados de loja o que desmotiva os outros funcionários.

"Se as lojas não afundam é graças aos trabalhadores que lá estão, somos nós que damos formação aos novos, e estamos sempre a dar porque o pessoal novo não quer ficar, vê a desmotivação e vai à vida. Estamos numa fase em que quase não há contratação e damos por nós a fazer tudo ao mesmo tempo", afirmou, por seu lado, Mafalda Ogando.

A manifestação contou com a presença de Isabel Camarinha, da direção do CESP e ex-secretária-geral da CGTP.

No final, trabalhadoras da Zara dirigentes sindicais quiseram entregar uma moção com as reivindicações, mas a empresa não recebeu justificando que não tinham hora marcada o que mereceu palavras de reprovação. "Vergonha", "vergonha", gritaram os trabalhadores.

O grupo Inditex tem em Portugal 6.700 trabalhadores. Deste grupo fazem parte as marcas Zara, Zara Home, Massimo Dutti, Oysho, Stradivarius, Lefties, Pull & Bear.

A espanhola Inditex, líder mundial de venda de roupa a retalho, teve em 2023 lucro de 5.381 milhões de euros, o maior de sempre.