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Socialistas e Puigdemont disputam Generalitat da Catalunha na votação de hoje

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Foto EPA

A Catalunha, no nordeste de Espanha, vota hoje em eleições autonómicas com a incógnita de se os independentistas continuarão à frente do governo regional, como nos últimos 14 anos, ou se se abre uma nova etapa liderada pelos socialistas.

As últimas sondagens são já de segunda-feira passada - a lei espanhola não as permite nos cinco dias anteriores às eleições - e davam todas uma vitória clara ao Partido Socialista, mas sem maioria absoluta.

Em segundo lugar nas sondagens surgia o Juntos pela Catalunha (JxCat, centro-direita), do ex-presidente autonómico Carles Puigdemont, que vive na Bélgica desde 2017 para escapar à justiça espanhola, após ter protagonizado uma declaração unilateral de independência. Fez a campanha para estas eleições a partir do sul de França, numa zona perto da fronteira que designa como "Catalunha Norte".

Tanto Carles Puigdemont como o candidato socialista, Salvador Illa, ganharam terreno nas últimas semanas, segundo a evolução das sondagens, em detrimento do atual presidente regional, Pere Aragonès, da também independentista Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), que surgiu nos estudos mais recentes em terceiro lugar depois de ter iniciado a campanha a disputar o segundo com o JxCat.

A Catalunha tem governos nacionalistas e independentistas há 14 anos consecutivos, sendo que desde 2017 resultam de "geringonças" parlamentares porque os partidos que defendem a separação de Espanha deixaram de ser os mais votados.

A incógnita desta vez é saber se a dimensão da vitória do Partido Socialista impede nova "geringonça" separatista liderada por Puigdemont ou se se abre uma nova fase na Catalunha.

Segundo as sondagens, este ano, pela primeira vez em mais de uma década, não há garantia de maioria absoluta independentista no parlamento catalão, lançando ainda mais incerteza sobre os cenários pós-eleitorais e a formação do próximo governo regional (Generalitat).

Os cenários são ainda mais incertos por causa dos quase 40% de indecisos que apareciam numa das sondagens.

Illa admitiu durante a campanha um acordo com a ERC, mas disse que só recusa falar com a extrema-direita; Puigdemont apelou à unidade independentista e garantiu que jamais fará o socialista presidente da Generalitat; Aragonès não se comprometeu nem rejeitou qualquer cenário, incluindo o de não haver alianças com nenhuma parte, o que abriria a porta a um bloqueio político e à repetição das eleições no outono.

O desfecho das eleições de hoje na Catalunha poderá ter impactos diretos na estabilidade política de Espanha, por o Governo nacional de Pedro Sánchez depender do apoio parlamentar tanto da ERC como do JxCat.

A ERC já disse que os resultados e eventuais acordos pós-eleitorais não põem em causa os compromissos assumidos em Madrid. Já Puigdemont ameaçou retirar o apoio a Sánchez se os socialistas aceitarem os votos do Partido Popular (PP, direita espanhola) para inviabilizarem um executivo regional liderado por independentistas, como aconteceu no ano passado na câmara municipal de Barcelona.

À frente do Governo de Espanha desde 2018, o Partido Socialista Espanhol (PSOE) de Pedro Sánchez concedeu indultos aos separatistas condenados pela tentativa de autodeterminação de 2017, mudou o código penal para acabar com o delito de sedição de que outros estavam acusados e avançou agora com uma amnistia, que está em fase final de aprovação pelo parlamento e deverá levar ao regresso de Puigdemont à Catalunha em breve.

Estas medidas foram negociadas com a ERC - que viabilizou todos os governos de Sánchez desde 2018 - e, no caso da amnistia, igualmente com o JxCat, de que o PSOE passou também a depender, no ano passado, para continuar no poder.

Estes acordos parecem estar agora a ser capitalizados eleitoralmente pelos socialistas e por Puigdemont, mas não pela ERC. Mas embora previsivelmente perdedora, poderá ser precisamente a ERC a ficar hoje com a chave do poder na Catalunha.