O som do paraíso

Na ilha da Madeira, onde a beleza natural sempre foi celebrada como um tesouro incomparável, enfrentamos agora uma invasão sonora que ameaça a paz e a tranquilidade que tanto prezamos.

Nos últimos anos, temos assistido a uma preocupante proliferação de motos equipadas com escapes modificados ou “directos”, que desrespeitam deliberadamente os limites legais de ruído. O resultado é um tumulto ensurdecedor que perturba a serenidade das ruas e ressoa pelos vales como um eco angustiante.

Com a chegada da noite, as vias rápidas transformam-se em arenas clandestinas, onde grupos de motociclistas desafiam não apenas a lei, mas também a segurança pública. O rugido estridente dos motores ecoa nas nossas montanhas como um desafio à ordem e à tranquilidade que outrora caracterizaram este lugar.

Entretanto, nas redes sociais, são várias as contas que partilham vídeos que exibem comportamentos temerários e ilegais desses infractores, cujas acções colocam em risco não só as suas próprias vidas, mas também a segurança dos demais utilizadores das vias. Estamos a falar de ultrapassagens perigosíssimas a alta velocidade, cavalos em plena luz do dia, ruído de “rateres”, grupos que param no meio dos túneis para poderem filmar os amigos a passar a 200 à hora...

A inacção das autoridades, que são dotadas dos meios necessários para fiscalizar e reprimir esta conduta, é desconcertante. Dispositivos para medir o ruído estão à disposição, mas parece tudo “para inglês ver”. O desrespeito continua impune, permitindo que a qualidade de vida dos habitantes desta ilha tão estimada seja corroída pelo ruído incessante.

Tapar os olhos e continuar a passar multas de estacionamento é mais fácil do que organizar fiscalizações e utilizar os sonómetros. Talvez as fiscalizações tenham de passar a ser tratadas como gratificados...Se bem que não nos podemos esquecer que somos nós, cidadãos, a gerar o dinheiro que é usado para pagar as forças de segurança pública, e não se esqueçam que todos pagamos (e bem), pelos direitos que cada vez menos temos.

Relembro que esta situação compromete não apenas a paz e a tranquilidade dos cidadãos, mas também mancha a reputação desta ilha como um refúgio de serenidade e beleza. O som que perturba o paraíso é mais do que um incómodo auditivo; é um símbolo do desrespeito pela comunidade e pela harmonia que tanto prezamos. Quero terminar por dizer que não tenho nada contra motas nem quem as conduz, sendo que eu próprio ando de mota todos os dias e sempre tive motas ao longo da minha vida, mas acho que há limites para o (anti)civismo, o respeito pela segurança e pelos outros em geral.

P. Abreu