CDU quer reforçar votação para combater desigualdades sociais
O cabeça de lista da CDU às antecipadas de 26 de maio na Madeira, Edgar Silva, não equaciona eventuais acordos com outras forças e considera que só haverá condições para superar as desigualdades sociais com o reforço da coligação PCP/PEV.
"Somos a região do país onde as desigualdades são maiores, onde as injustiças sociais têm vindo a crescer, onde as pessoas têm rendimentos mais baixos", disse, em entrevista à agência Lusa, sublinhando que "não estarão reunidas condições para políticas de superação dessas grandes desigualdades, não estão reunidas condições para fazer da justiça social o objetivo cimeiro da política regional, sem que a CDU esteja reforçada".
Edgar Freitas Gomes Silva, que tem 61 anos e reside no Funchal, concelho onde nasceu em 25 de setembro de 1962, explicou que a candidatura da Coligação Democrática Unitária (PCP/PEV) às antecipadas de 26 de maio assenta na "ideia central" de que, 50 anos após a Revolução dos Cravos, ainda falta cumprir Abril na Madeira e completar os grandes objetivos de democratizar, descolonizar e desenvolver.
O candidato, também coordenador da CDU e do Partido Comunista Português na região, considera que as "grandes clivagens sociais" são mais acentuadas no arquipélago do que no resto do país e, por isso, espera que o eleitorado reforce o compromisso junto de quem sente que a Madeira não está condenada "a tão grande injustiça, a tamanha desigualdade".
"Nós dizemos que só com mais CDU, com mais votos e mais eleitos estarão criadas condições para que esse objetivo seja alcançado", declarou.
Para Edgar Silva, professor e ex-sacerdote, a CDU poderá beneficiar, em termos de resultado eleitoral, da crise política que motivou a queda do Governo Regional (PSD/CDS-PP), na sequência do processo que investiga suspeitas de corrupção na Madeira.
"Este quadro político abre possibilidades diferentes na medida em que permite dizer, de forma que as pessoas percebam, que não é toda a gente igual, não são todos envolvidos em processos corruptíveis, que há projetos e há pessoas que ao longo de décadas e décadas têm uma prática de combate não só à corrupção, mas também de intervenção política, que há pessoas sérias nestes processos", disse.
Por outro lado, explicou que a CDU não equaciona para já a possibilidade de entendimentos com outros partidos.
"Neste momento, não consideramos qualquer [acordo], não temos qualquer perspetiva, qualquer cenário a esse nível. Acho que, neste momento, não faz sentido sequer ter qualquer tipo de ponderação relativamente a essas questões", afirmou, sublinhando que a candidatura não tem nada a negociar, tem é que "assumir compromissos com as populações".
Segundo Edgar Silva, que foi eleito deputado nas regionais de setembro de 2023, mas cedeu o lugar ao número dois da lista, o manifesto eleitoral da CDU apresenta um "vasto leque de propostas" que no essencial visam "o desenvolvimento, a democratização, a descolonização".
"Desde logo, na Madeira, quem, falando do combate às injustiças e às desigualdades, não coloque como questão cimeira o problema dos salários não está a ser sério", defendeu, vincando que esta é a região do país com salários mais baixos, ao passo que 58% da riqueza está concentrada numa "minoria de 5% da população".
A CDU quer, por isso, implementar políticas redistributivas da riqueza, bem como políticas sociais ativas.
"São elementos fundamentais para superarmos este quadro em que vivemos, que é intolerável, que é inaceitável, por mais que as pessoas pareçam acostumadas à desigualdade, à injustiça", disse. Neste quadro, acrescentou, são necessários "aumentos significativos" dos salários, pensões e reformas.
"Não embarcamos em reduzir a carga fiscal indiscriminadamente, não pode ser. Alguns [impostos] têm de aumentar muito mais", explicou o dirigente comunista, referindo que alguns setores que registam elevados lucros têm de contribuir mais, como o bancário, o dos combustíveis, as seguradoras, as empresas de distribuição e as do ramo da energia.
Edgar Silva, que é licenciado em Teologia, com mestrados em Teologia Sistemática e História da Religião e doutoramento em História Social, é militante do PCP desde 1999, mas foi eleito deputado ao parlamento regional pela primeira vez em 1996, situação que se repetiu em todas as eleições legislativas desde então.
Nas regionais de 24 de setembro de 2023, a candidatura da CDU elegeu um deputado, num total de 47 que compõem o parlamento da Madeira, obtendo 3.677 votos (2,79%), num universo de 135.446 votantes.
As antecipadas de 26 de maio ocorrem oito meses após as mais recentes legislativas regionais, depois de o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, ter dissolvido o parlamento madeirense, na sequência da crise política desencadeada em janeiro, quando o líder do Governo Regional (PSD/CDS-PP), Miguel Albuquerque, foi constituído arguido num processo em que são investigadas suspeitas de corrupção.