Vice- primeiro-ministro de Malta e candidato a comissário da CE demite-se após ser acusado de fraude
Pelo menos 24 pessoas estão envolvidas no escândalo, entre as quais o ex-primeiro-ministro Joseph Muscat, o seu antigo chefe de gabinete, Keith Schembri, e o ex-ministro do Turismo Konrad Mizzi, segundo o diário Times of Malta.
O vice-primeiro-ministro e ministro dos Fundos Europeus e Reformas de Malta, candidato a comissário europeu nas eleições de junho, Chris Fearne, demitiu-se hoje após ser acusado de fraude e desvio de fundos num acordo para privatizar três hospitais públicos.
No comunicado em que anunciou a demissão, defendeu a sua inocência, mas considerou que demitir-se era o mais correto a fazer para "pôr em primeiro lugar os cidadãos".
Fearne, que na altura era ministro da Saúde, também retirou a sua nomeação como candidato de Malta à próxima Comissão Europeia e não especificou se tenciona continuar como líder adjunto do Partido Trabalhista.
O primeiro-ministro maltês, Robert Abela, divulgou a resposta que enviou a Fearne pedindo-lhe que reconsiderasse a decisão.
"Nos momentos mais negros do nosso país, tive-te ao meu lado, e o país beneficiou enormemente das tuas capacidades, algo que também foi notado ao nível internacional", escreveu Abela.
Fearne tinha dito, no início da semana, que tinha tomado conhecimento das acusações criminais através da comunicação social e que não fora formalmente notificado das mesmas.
Pelo menos 24 pessoas estão envolvidas no escândalo, entre as quais o ex-primeiro-ministro Joseph Muscat, o seu antigo chefe de gabinete, Keith Schembri, e o ex-ministro do Turismo Konrad Mizzi, segundo o diário Times of Malta.
"Sei o que fiz e o que não fiz enquanto ministro. Ninguém sabe melhor que eu que a única coisa que o tribunal vai descobrir é que estou inocente. Demito-me não porque tenha dúvidas sobre a minha inocência, mas porque é a coisa correta a fazer", afirmou Fearne, no comunicado que divulgou nas redes sociais.
Acrescentou ainda que, se for provada a sua inocência, não exclui "a hipótese de regressar no futuro à política".
O líder da oposição, Bernard Grech, afirmou que a demissão de Fearne era inevitável e que esta foi mais uma prova de como o primeiro-ministro está desligado da realidade, ao insistir que ninguém tinha de se demitir.
"Nenhum governante que enfrente este tipo de acusações pode permanecer no cargo", escreveu Grech nas redes sociais.
As conclusões de uma investigação judicial sobre o acordo para a privatização dos hospitais causaram grande agitação na política maltesa, a apenas algumas semanas das eleições europeias.
O acordo previa a adjudicação da gestão dos hospitais à Vitals Global Healthcare (VGH) em 2015 e, um ano depois, Fearne foi nomeado ministro da Saúde.
Mas a Vitals não cumpriu o contrato e foi vendida à Steward Global Healthcare, ligada à gigante da gestão hospitalar norte-americana.
Em 2023, um tribunal maltês anulou o acordo do Governo com a VGH, que foi adquirida pela Steward Healthcare, com sede em Dallas, em 2018, depois de concluir que nenhuma das empresas cumpriu as suas obrigações.
No comunicado de hoje, Fearne sublinhou "mais uma vez que três relatórios do Departamento Nacional de Auditoria" o ilibavam de qualquer participação significativa no negócio da Vitals.
"Em todas as minhas funções, sempre agi com integridade, retidão e estritamente dentro dos limites da lei", escreveu.