Sonhar com a Champions
Noite desta terça-feira foi memorável, mesmo que ninguém tenha ganho. Mas dá que pensar àqueles que na ilha atentam contra o futebol
Boa noite!
Sempre que ouvimos o hino da Liga dos Campeões sonhamos com glória, jogadas de mestre e ambientes de euforia.
Habitualmente ouvimo-lo num formato mais melancólico, como alimento revigorante para o que vem a seguir, a esperança em torno de hora e meia de jogo, ou mais, capaz de render vitória e felicidade. Para que seja memorável, um momento de vida para emoldurar, porque imenso, intenso e, porventura, gratificante.
Mas há outras versões do hino da Champions, por sinal, uma bem mais mexida e roqueira, a condizer com a frenética jornada de hoje, que muitos não queriam que acabasse, tal a imprevisibilidade, o fino recorte técnico e a fartura de golos.
Desconcertantes. Os primeiros dois jogos dos quartos de final da Champions desta temporada renderam 10 golos, nalguns casos autênticas obras de arte de levantar estádios, e ficarão para a história da modalidade como momentos a replicar sempre que for necessário fazer pedagogia sobre como jogar bem à bola.
A paixão pelo futebol espectáculo sai revigorada deste jornada épica em que nenhum clube ganhou, mas curiosamente todos superaram as melhores expectativas. Não só porque vimos bons golos, engenhosas manobras tácticas, espaço para o talento e para o repentismo. Não só porque vimos portugueses criativos a marcar e a mostrar o que valem. Não só porque detectamos inovação nos esquemas de jogo laboratoriais. Mas sobretudo porque não vimos antijogo sistemático, desrespeito premeditado e calculismo desenfreado. Porque não houve tempo para o pior do desporto-rei, para o comportamento violento, a falta grosseira, o palavreado fútil, a conduta reprovável e o mau perder. Porque o excesso de clubismo na análise e no comentário, na arbitragem e na mediatização foi engolido pela generosa habilidade de todos quantos, dentro e fora de campo, querem apenas ser campeões.
Dificilmente ouviremos cantar o hino na ilha com as equipas madeirenses envolvidas em jogos da Champions. Na Liga Europa já andamos. Outros tempos. A não ser que muita coisa mude, essas tardes e noites de sonho ficam para a história. Para já o que se sabe é que a lei de apoio ao desporto regional não será adaptada aos novos tempos. O presidente do Governo rejeita mexer no plafond definido, mesmo que as equipas de futebol, como Nacional e Marítimo, consigam alcançar a desejada subida à I Liga.
Miguel Albuquerque entende que os critérios que estão actualmente definidos são “razoáveis”. Resta saber o que pensam todos os outros cabeças-de-lista às Regionais de 26 de Março. Mas também aqueles que nas SAD tardam em abrir as portas aos investidores privados.
* Pode ouvir a versão podcast deste ‘Boa noite’ em https://podcasts.dnoticias.pt/boa-noite/