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Crónicas

Há ética na política?

Estavam no governo e eram contra a sua orientação. E tudo fizeram para terem outro presidente e secretário(a)

Ninguém tem dúvidas: a política não prima pela ética posta no seu exercício. Tem exceções ? Provavelmente sim. Mas ninguém põe as mãos no fogo seja por quem for. Há sempre um momento de desespero, um pensamento num qualquer ajuste de contas, mesmo que não leve a qualquer acto menos nobre.

Porque será que quando muda de governo, em qualquer lado do mundo, todos acham normal mudarem os ministros e respectivas nomeações? Montenegro manteve alguém do governo de António Costa?

Pedro Nuno Santos já excluiu o líder parlamentar do PS, apoiante do seu adversário interno José Luís Carneiro.

Vou começar pela minha casa, o PSD.

Alberto João Jardim ganha a Miguel Albuquerque nas eleições internas de 2012, com um resultado que sempre deixou dúvidas. Jardim leva consigo, para a sede partidária, dois discursos: um de vitória, outro de derrota. No final da noite dá-me o escrito preparado para ser lido na hipótese de ser perdedor.

Em 3 de Novembro de 2014, Alberto João Jardim participa de mim ao Conselho de Jurisdição do PSD exigindo sanção disciplinar de expulsão por opiniões proferidas relativas a essas eleições internas. Fui absolvido. Era vice-presidente da Assembleia.

Antes, o todo poderoso líder, Alberto João Jardim, acusa e propõe a expulsão do partido de Miguel Albuquerque, em Janeiro e Março de 2014, pelas opiniões que vinha veiculando em artigos de opinião e visando impedir que volte a candidatar-se à liderança do PSD (ver Diário de 14 e 15 de Janeiro de 2014 ). Albuquerque reagiu com a coragem que lhe reconhecemos e “deve”, a José Prada, então presidente do Conselho de Jurisdição, a justa e correcta oposição a tal “fetiche bolchevique”. Doze meses depois Albuquerque é líder do PSD.

Muitos antes foram perseguidos, e mesmo saneados, no público e no privado, por terem funções de nomeada e serem considerados como adversários políticos. Lembram-se dos expulsos do PSD? Querem exemplos! O meu próximo artigo aqui nesta página pode satisfazer eventual perda de memória.

Um trabalho de equipa, que envolve grande responsabilidade pública, cumplicidade política e governamental, não se compadece com receios de desconfiança, mesmo traição ou menor dedicação. É assim entre marido e mulher, onde não há lugar para suspeitas. É também no compromisso com a empresa onde se trabalha, sendo mesmo punível por lei qualquer informação ou inconfidência com a concorrência.

Rafaela Fernandes não fez mais que se precaver de eventuais possíveis dissabores. De risco elevado. Se fossem íntegros, porque foram nomeados há quatro meses apenas, deviam ter esclarecido que eram oposição interna à liderança partidária de Albuquerque. Nem tinham sido nomeados. Um governo não é centro de regabofe ou festança.

Rafaela Fernandes actuou com seriedade e rigor. Manuel António, qual discípulo de Alberto João Jardim, devia se ter silenciado, até porque parte dos que o rodearam não o apoiavam, apenas queriam enfrentar Albuquerque. Para tal até se teriam junto a um espantalho. Querem nomes?

Há um caso recente de falta de ética, nunca desmentida. José Manuel Rodrigues terá exigido o cargo de presidente da Assembleia Legislativa da Madeira para dar o seu voto de deputado no apoio à coligação PSD/CDS. A ameaça seria apoiar um governo de Paulo Cafôfo e termos uma governação socialista. O tacho estava garantido. Sabendo-se que é um político de direita escusado será qualificar a sua desmedida ganância.

Carlos Pereira foi excluído da lista socialista de deputados à Assembleia da República. As suas divergências partidárias com Cafôfo fizeram-no ser preterido em favor de não-madeirense. Quero, posso e mando. Há um cisma no PS regional e Carlos Pereira teve de ser eleito por Lisboa. Há pior que isto?

Para completar toda uma ausência de ética mínima, temos o episódio do líder regional socialista ter publicitado a informação que o Presidente da República lhe tinha dado sobre as eventuais eleições regionais. Quando ainda o Conselho de Estado não conhecia nem tinha reunido. Provou não ser político adulto e maduro em quem se possa confiar.

É infindável as faltas de ética na vida política da Madeira. Muitas retratadas nas páginas deste Diário. Outras do conhecimento do ofendido ou vítima. Muitas que, ainda hoje, magoam os que sofreram as suas feridas. Alguns meus amigos.

Mas deixemo-nos de comparar o incomparável. Uma coisa é repor relações de lealdade e confiança outra é ofensa por simples discordância partidária.

Alberto João Jardim nunca soube conviver com a Câmara Municipal do Funchal social democrata. Foi assim com Miguel Albuquerque. Não suportava a sua distância geracional. Antes aconteceu o mesmo com o seu compadre Virgílio Pereira. A independência deste face à Quinta Vigia irritava-o sobremaneira. Virgílio Pereira, com a ajuda de Jaime Ramos, ofereceu de bandeja a Câmara a Albuquerque. Que Jardim tinha reservada para Sérgio Marques. Querem detalhes em próximo artigo?

Alberto João Jardim esticou a corda nestas eleições internas. Instigou Manuel António a campanha que dividisse ao máximo o PSD. Foi um zurzir infindável sobre as eleições em preparação. Manuel António não terá sido a primeira escolha de Jardim. Mas aceitou fazer o papel de espalha brasas que por outros era exigido. Reuniu tudo o que era contestatário em relação a Albuquerque e esteve sempre mais motivado em destruir o PSD que em criar uma alternativa interna. Querem nomes?

Alguém ouviu alguma proposta objectiva para a Madeira proposta por Manuel António? Não ouviram pois não houve. A única coisa que me lembro é do seu mentor dizer, mais uma vez, que a “fabulosa” dívida da Madeira se deve a estar tudo feito e a ter de ser paga pelas gerações futuras. “De aqui a décadas as peripécias da dívida até serão ‘estórias’ de humor”, escreveu. A ser paga pelos jovens tão acarinhados por Manuel António, secretário regional nessa catástrofe financeira.

Manuel António Correia tem de recuperar a sua postura face ao PSD liderado por Miguel Albuquerque. Ser derrotado não é o fim de coisa nenhuma. Impõe-se, como é normal, integrar e intervir no partido com a militância que se quer de um seu membro. A bem do que sempre se quis para o PSD. Não posso acreditar que outra será a sua atitude.

Ninguém tem o direito de contribuir para a destruição da unidade no PSD.

Alberto João Jardim tem especiais responsabilidades. Deve olhar para o PSD, onde deixou, segundo afirma, “arregimentar inscrições de torto e cambado e secundarizava os ressabiados”.

É tempo de juntar as tropas para o próximo combate eleitoral. Só o PSD luta pela Autonomia e desenvolvimento da Madeira. Os que o construíram não podem ser os seus coveiros.

Mobilizar a JSD

A JSD tem de reaparecer neste quadro político interno. A sua capacidade de mobilização tem de ser exemplo para esta luta que se segue. O seu nome foi usado de forma indevida. Os jovens metem-se onde querem. A JSD já não.

Marcelo déspota

Não aceito a dissolução da Assembleia Legislativa da Madeira sem justificação. O Presidente da República desprezou o Conselho de Estado e o Representante da República como ofendeu a democracia e a Autonomia.