EUA e União Europeia discordam sobre responsabilidade de aplicação de trégua em Gaza
Estados Unidos e União Europeia discordaram hoje sobre o cessar-fogo em Gaza, recomendado pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas, com Washington a responsabilizar o Hamas pela sua aplicação e Bruxelas a reclamar que cabe a Israel.
O alto representante da União Europeia para a Política Externa, Josep Borrell, disse hoje à BBC que a recente resolução do Conselho de Segurança da ONU sobre um cessar-fogo em Gaza, na qual os Estados Unidos não exerceram o seu direito de veto, "deve ser implementada por Israel".
"Existe uma resolução da ONU que foi votada e aprovada e que deve ser implementada; apoiamo-la e apelamos a Israel para que a implemente", afirmou.
Borrell, um dos maiores críticos da forma como a guerra em Gaza está a ser conduzida, referiu que os EUA "sempre tiveram uma enorme influência sobre Israel", observando que "a questão aqui é se eles querem usá-la".
"O apoio dos EUA não pode ser considerado incondicional porque têm interesses globais e não podem ignorar a catástrofe humanitária que está a acontecer em Gaza. E agora o que está a acontecer em Gaza faz parte da discussão interna [norte-americana] seis meses antes das eleições [presidenciais]", afirmou o chefe da diplomacia europeia.
Já os Estados Unidos afirmaram hoje que os mediadores apresentaram uma proposta de cessar-fogo ao Hamas, nas conversações que estão a mediar, juntamente com o Qatar e o Egito, e que cabe ao movimento palestiniano aceitá-la, após seis meses de uma devastadora ofensiva israelita na Faixa de Gaza.
As conversações que tiveram lugar no Cairo durante o fim de semana foram "sérias", mas, segundo a Casa Branca, é demasiado cedo para dizer se vão dar frutos.
Responsáveis israelitas e do Hamas reduziram hoje as esperanças de uma trégua e da libertação dos reféns detidos em Gaza, afirmando que as novas negociações indiretas no Cairo não tinham conseguido ultrapassar os bloqueios.
"A situação atual é a seguinte: foi apresentada uma proposta ao Hamas e estamos a aguardar a resposta do Hamas", afirmou John Kirby, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca.
"Agora cabe ao Hamas concretizá-la", disse aos jornalistas, recusando-se a revelar pormenores do acordo para não o "torpedear".
As negociações no Cairo tiveram lugar alguns dias depois de um telefonema entre o líder norte-americano, Joe Biden, e o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, marcado por um aviso sem precedentes do Presidente dos EUA sobre a catástrofe humanitária em Gaza, ameaçada pela fome na sequência de seis meses de cerco total.
Joe Biden também intensificou a pressão sobre Benjamin Netanyahu para que conclua "sem demora" um acordo de cessar-fogo que permita o regresso dos reféns.