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Crónicas

Voto Útil e Estalinismo do PSD Madeira

1. Apanhei na passada semana, na RTP Madeira, Paulo Cafôfo a perorar loas sobre o tal de valor do voto útil. Novamente a conversa, para ver se pega, de que votar no PSD ou na Iniciativa Liberal é o mesmo. Victor Freitas anda a fazer o mesmo, o que me leva a pensar que será estratégia socialista. Ambos, e os outros que se convencem do mesmo, cometem um erro capital. Ao desconsiderarem outros, apelando ao voto em si como sendo de maior utilidade, colocam-se num patamar de mal menor. E isso é politicamente desprestigiante e ridículo. O PS Madeira é assim uma espécie de “sempre noivo”, persegue o poder há quase 50 anos e não conseguem convencer madeirenses que cheguem para que isso aconteça. Continua noivo e nunca consome essa incumbência. Coitados.

O PS Madeira é assim a modos que a outra face da moeda que partilha com o PSD. Foi isso que vi nos meses que tive o privilégio de, representando madeirenses, passar na ALRAM. Sempre que foi preciso PSD e PS concordaram. Principalmente nas nomeações. E há documentos assinados que o comprovam.

Esta campanha que se avizinha vai ser assim, fazer como disse Gobbels: “uma mentira contada mil vezes, torna-se numa verdade”.

Ah, Paulo Cafôfo! O nosso “Leopardo da Madeira”, um líder tão astuto que consegue vender areia no deserto e convencer os compradores de que fizeram um excelente negócio. Um Houdini da política, para quem há uma frase que lhe cai como uma luva: “para que tudo fique na mesma, é preciso que TUDO mude.”

Cafôfo domina a arte de parecer que faz muitíssimo, quando, na realidade, o único que consegue fazer é redecorar o Titanic. Nem o seu partido consegue convencer, a Madeira encontrou na sua figuraça um campeão da “mudança estática”. É o tipo de político que promete construir uma ponte onde não há ribeira, comprar um hospital que estivesse por aí e ainda conseguir que uma meia dúzia o aplauda. “Mudança!”, apregoa alto e bom som, e todos sabem que o máximo que vai acontecer é perder mais uma data de votos.

A cada discurso sobre inovação e progresso, convence todas as pessoas de que o futuro está logo ali, e também garante que esse futuro será incrivelmente parecido com o presente. E acha-se amado por isso! “O novo é bom, mas já tentaram o novo que é exactamente igual ao velho? É espectacular!”, parece dizer com cada medida “inovadora” que anuncia com aquele sorriso bem montado.

No fundo, Cafôfo é um mago do “status quo”, um prestidigitador que faz o público acreditar estar perante uma mudança radical quanto, na verdade, assiste ao mesmo episódio de sempre, mas com um título diferente.

“Para que tudo fique na mesma, é preciso que TUDO mude.” E, nessa frase, o “tudo” muda tão frequentemente quanto a moda, mas, curiosamente, tudo vai permanecer, se for isso que os madeirenses escolherem, assustadoramente igual.

Cafôfo, o “Leopardo da Madeira”, segue como um monumento à mudança que não acontece, mas que uns quantos adoram celebrar. No final das contas, talvez estejamos perante o maior dos ilusionistas: aquele que nos faz rir enquanto nos convence que nos leva para um lugar novo, quando, na verdade, estamos às voltas no mesmo lugar, numa espécie de dança onde há mais cadeiras do que dançarinos.

Um verdadeiro Michael Jackson, em constante “moonwalking” pelo palco da política sem avançar um único milímetro.

2. Votar no PS é o mesmo que votar no Cafôfo. Perder 10 mil votos, um deputado para o Chega, e quase perder o segundo deputado para o JPP. Ter feito um trabalho tão bom, como Secretário de Estado das Comunidades, que levou à perda de mandato do Presidente da Assembleia da República cessante, com mais uma vez o Chega a dar cartas. Bem “prega Frei Tomás, faz o que ele diz, não faças o que ele faz”.

3. A recente saga no PSD Madeira, onde Miguel Albuquerque emerge vitorioso sobre Manuel António, apenas para inaugurar uma era de expurgos partidários dignos de um qualquer regime estalinista, transcende a mera política interna de um partido. Esta situação ergue-se, monstruosamente, como um espelho distorcido da perversão que assola a administração pública regional. Este episódio não é apenas um capítulo lamentável na história política da Madeira, é uma afronta ao próprio conceito de governança democrática, um espetáculo grotesco que mancha a Autonomia e que revela a fome insaciável por poder e controle dentro do PSD.

Na essência, o que presenciamos é a transformação de instituições governamentais em feudos partidários, onde cargos são distribuídos não com base na competência ou na capacidade de servir ao público, mas como recompensas por lealdade canina. Este processo de “saneamento” não é apenas um eufemismo para purga política; é uma declaração de guerra contra a meritocracia, um sinal de que a integridade não passa de um obstáculo para aqueles embriagados pelo aroma intoxicante do poder absoluto.

Que ironia é ver o PSD Madeira, sob a batuta de Albuquerque, não apenas abraçar, mas dançar freneticamente ao ritmo deste autoritarismo partidário. É como se a instituição governamental tivesse sido reduzida a um tabuleiro de xadrez, onde peões são sacrificados no altar da conveniência política, sem a menor consideração pela justiça ou pela estabilidade governamental.

Estamos perante uma traição aos princípios da democracia, uma bofetada na cara de cada cidadão que acredita na promessa de “um governo do povo, pelo povo e para o povo”. E o que é pior, esta prática envenena as fundações da confiança pública, corroendo a fé na possibilidade de uma governança justa e equitativa.

Na sua corrida frenética para consolidar o poder, líderes como Albuquerque esquecem-se de que o que fazem é serviço público. O cargo que ocupam é por empréstimo da vontade popular, não um feudo pessoal fortificado contra inimigos reais ou imaginários.

A política, no seu melhor, é sobre elevação, sobre trazer à realidade a nobre arte do possível. No entanto, o que temos aqui é a política no seu pior: um teatro do absurdo, onde a ética é substituída pela estratégia, e a honra passa a ser um conceito distante, tão arcaico quanto a própria ideia de um serviço público imparcial.

Os madeirenses não se podem fazer de desentendidos perante estes episódios que tanto prejudicam a nobre arte de fazer política. E não, não somos todos iguais. Aqueles no PSD Madeira que não se reveem em tais práticas têm de se envergonhar. Estas coisas não apenas causam dano à estrutura partidária, mas também injectam veneno no corpo político da Madeira. A democracia e a Autonomia merecem, e exigem, muito melhor.

4. Fui militar por uns anos. Primeiro a cumprir o SMO e depois como contratado. Entrei Instruendo, depois Cadete, promoção a Aspirante e saí como Alferes, e tenho muita honra nesse momento da minha vida. Em suma servi.

Não vou perorar contra ou a favor do SMO. Até porque estou muito dividido. Muito mais pelo momento histórico internacional que atravessamos do que por razões mais esotéricas.

O que me faz mesmo espécie é ver uns tantos, que nunca puseram os pés num quartel e já não têm idade para lá ir, a defender acirradamente o SMO. Uma espécie de “G3 no cu dos outros para mim é refresco”.

Não viram a sua vida interrompida, fizeram o que acharam por bem fazer, e agora, do alto do seu achismo, palpitam sobre a vida dos outros.

Não há pachorra para idiotas.

5. Já aqui descrevi, no meu ponto de vista, uma série de figuras que por aí andam de peito cheio. Imperdoavelmente faltou-me o Cabo Especialista.

O Cabo Especialista é uma figura lendária na fauna das organizações, cuja habilidade suprema reside em dominar o vasto nada com uma precisão absoluta. Armado até os dentes com um arsenal de palpites sem nexo e uma habilidade inigualável, aparece sempre nos momentos menos oportunos, qual ser mitológico que desliza pelos corredores do trabalho, distribuindo “sabedoria” como quem lança confetes num carnaval fora de época.

Não se deixem enganar, o Cabo Especialista é um verdadeiro camaleão. Num momento, disserta sobre a influência da música barroca no comportamento dos pombos urbanos, e no outro, explica, com a confiança de quem nunca leu mais do que as badanas de um livro, por que é que a economia beneficiaria da adoção generalizada do chocolate como moeda de troca.

É o único que, numa reunião sobre cortes orçamentais, sugere, com um brilhozinho nos olhos, que talvez se devesse investir na compra de um foguete para optimizar as entregas, ignorando que a maior distância percorrida é do andar de baixo ao andar de cima.

Mas não se pense que a sua generosidade intelectual se limita apenas a conselhos de alto nível. Não, senhor! Sugere de tudo, desde motores novos para computadores, até a tratamentos de plantas com Aspirina C.

E quando, por milagre, algo corre mal após se seguir uma das suas sugestões, ele é o primeiro a desaparecer, mais rápido do que apareceu.

No fim de contas, todos nós conhecemos um, ou vários, Cabo Especialista, aquele ser cuja existência serve como lembrança constante de que, muitas vezes, saber menos é, de facto, saber mais. Por isso, levantemos os nossos copos em homenagem ao Cabo Especialista, o verdadeiro mestre do desajuste que, sem querer, nos ensina a valorizar o verdadeiro conhecimento e a arte de saber quando nos devemos reduzir à nossa insignificância.