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Idealista ou idiota - O valor da palavra na política

“Quem quer ser anjinho não venha para a política”. Esta foi a frase utilizada para justificar que a palavra dada pode ser retirada e na política não há mentiras, apenas inverdades ou adaptação de posturas, esta última quase sempre de acordo com conveniências pessoais. A coerência deixou de existir, a palavra não vale nada, a mentira passou a ser normalizada, e os princípios são uma miragem. Políticos que assumem esta posição e atos, dia após dia, como se fosse natural e aceitável, sem qualquer receio de consequências, os designados por muitos de “líderes natos”, “máquinas políticas”, “governantes de mão cheia”, são na verdade os loucos a quem o poder subiu à cabeça e que, sem qualquer vergonha, crêem que estão acima de tudo e todos. “Com loucos não se discute”, pois como discutir com alguém que renuncia a lógica moral e ética, retirando a qualquer momento a sua palavra, que assume que o faz e que acha que pode e deve fazê-lo, pois na política é assim.

Confesso ainda a minha ingenuidade pois pensava que, em 2024, um ato eleitoral como as internas de um partido, fosse um processo onde a transparência, a normalidade democrática e a liberdade, princípios conquistados, jamais seriam violados. Como estava enganada. Já sabíamos ao que íamos e que não seria fácil, mas nunca pensei que tantas coisas se iriam passar e que tornariam esta eleição interna num processo tão viciado. Este não é um discurso de má perdedora, como já fui acusada, mas sim uma manifestação pública de que o futuro do PSD e da Região foi manietado e jogado por um conjunto bem restrito e definido de intervenientes e seus interesses.

Acredito que toda a população conseguiu identificar esses atores que serão responsáveis por tudo o que se irá passar no futuro político da RAM. E neste aspeto, não haverá desculpas para esses, porque a situação e as condições políticas eram claras e a marcação das eleições regionais era certa. Só pessoas com má-fé e com agendas duvidosas poderiam justificar-se ou a um candidato sem condições políticas, passando outra mensagem ou promessas que levaram os mais incautos a acreditarem.

Já para não falar sobre os possíveis e muito falados interesses económicos que parecem ter torneado, de forma completamente anormal, uma candidatura na qual claramente um dos objetivos, passível de a justificar, é o de ganhar tempo para o avanço de projetos e negócio, as verbas comunitárias e PRR, sem qualquer preocupação com a credibilidade do PSD Madeira e o seu valor na democracia na RAM. Depois, quem vier que feche a porta e junte os cacos.

O conceito de lealdade, tão utilizando por estes dirigentes afinal, passa pela exigência de fidelidade “canina”. Todos os que ousam a ir contra a corrente e a terem um pensamento livre são sempre tratados como traidores. O expediente não muda, colocando em causa amizades e relações profissionais, sendo persistente o uso da pressão, cobrança de favores, e, pasme-se ainda, a exigência de “pagamento” pela “obra” executada, “obra” essa que é obrigação de qualquer detentor de cargo de poder público.

Podem dizer que este é o jogo político normal e que sou idiota em pensar que podia ser diferente. Mas eu considero-me uma idealista e não estou sozinha. Cerca de 46% dos votantes do Partido Social Democrata acreditam, de forma clara, que esta não é forma de estar na política. Para mim, um político tem de ser coerente, honesto, firme e o valor da palavra tem de prevalecer. Isto é o que a população espera, homens e mulheres de palavra. É devido à ausência destes valores que cada vez mais sentimos o protesto contra os políticos como uma constante na sociedade. As instituições políticas estão em crise e moralmente falidas.

Qualquer detentor de cargo político tem obrigatoriamente de ter como objetivo o que é melhor para a região e para a sua população. Um partido político não pode ser capturado por interesses pessoais de alguns e com a lógica de manutenção de cargos, em detrimento do interesse maior que é o do bem comum.

A minha frustração é evidente e resulta, acima de tudo porque sei, e poucos têm dúvidas, que não teremos um futuro promissor para o PSD, mas principalmente para a Região. E era um cenário expectável mesmo antes das eleições, caso não houvesse uma mudança.

Sou e serei sempre Social Democrata. Mas acima de tudo, sempre serei LEAL com os princípios que acredito e por isso, em consciência, nunca poderei apoiar pessoas que manifestamente pelos seus atos, não são verdadeiros sociais democratas ou não se regem pelos valores que acredito que um político deve ter. Da minha parte, no período eleitoral que se avizinha, com certeza irei fazer a minha reflexão atenta no “sofá” pacificamente e em silêncio. No limite, se os cerca de 1800 militantes o fizerem também, nunca serão, e não poderão mesmo ser, acusados de qualquer resultado menos bom do PSD. Essa responsabilidade é inteiramente do atual líder e da sua equipa e que sobre isso não haja qualquer dúvida. Depois disso, a minha voz voltará a ouvir-se ainda com mais convicção, como sempre o fiz desde que ingressei na JSD com apenas 14 anos, por tudo o que acredito e aqui expus, pelo partido e pela Região.

P.S. - Manifesto a minha total solidariedade com o António Trindade, Sr. Aurélio Freitas e Dona Ana Macedo. Digo os seus nomes porque são pessoas com rosto, profissionais que foram saneados politicamente pela Secretária Regional Rafaela Fernandes, com clara cobertura da atual liderança, demonstrando durante este processo que não tem qualquer preparação política e postura para o cargo que ocupa. (Faço o meu ato de contrição pelos elogios passados, mas esta não é claramente a pessoa que conheci.)