Exército de Israel assume erro no ataque a comboio humanitário e castiga responsáveis
O ataque de segunda-feira a um comboio humanitário da organização World Central Kitchen (WCK) deveu-se a um erro dos militares, ao acreditarem que nele viajavam dois milicianos armados do Hamas, indicou hoje o exército israelita.
Segundo o relatório preliminar do exército, os dois comandantes israelitas envolvidos na operação serão demitidos e outros dois repreendidos.
Segundo a investigação, as forças israelitas identificaram dois "homens armados" nos camiões de ajuda humanitária quando o comboio se dirigia para um armazém em Deir al-Balah e, quando os veículos deixaram o local depois de descarregados, "um dos comandantes assumiu erradamente que os homens armados no interior dos veículos eram terroristas do Hamas".
No relatório, o exército israelita assume também "erros graves" na norte dos sete funcionários de organizações humanitárias na tarde de segunda-feira nos diferentes ataques israelitas que duraram cerca de quatro minutos.
A equipa que controlava os 'drones' (aeronaves não tripuladas) que realizaram os ataques cometeu um "erro operacional de avaliação da situação" depois de, alegadamente, ter visto um "atirador do Hamas" a disparar do telhado de um dos camiões de ajuda humanitária escoltados pelo pessoal da organização não-governamental norte-americana WCK, segundo a investigação, que também refere "violações dos procedimentos operacionais normais".
Segundo comenta a agência noticiosa Associated Press (AP), as conclusões da investigação de um general reformado sobre as mortes de segunda-feira marcaram uma admissão embaraçosa por parte de Israel, que enfrenta acusações crescentes de aliados importantes, incluindo os Estados Unidos, de não fazer o suficiente para proteger os civis de Gaza da sua guerra contra o Hamas.
As conclusões são suscetíveis de renovar o ceticismo sobre a tomada de decisões dos militares israelitas.
Os palestinianos, os grupos de ajuda humanitária e as organizações de defesa dos direitos humanos acusaram repetidamente as forças israelitas de disparar de forma imprudente contra civis durante o conflito - uma acusação que Israel nega.
"É uma tragédia", disse aos jornalistas o porta-voz das forças armadas, o contra-almirante Daniel Hagari.
"É um acontecimento grave pelo qual somos responsáveis e que não deveria ter acontecido e vamos certificar-nos de que não voltará a acontecer", acrescentou.
Com a pressão crescente sobre Israel para que se responsabilize, Hagari e outros oficiais partilharam com os jornalistas, na noite de quinta-feira, os resultados da investigação militar, invulgarmente rápida e detalhada.
Não está ainda claro se os castigos e o pedido de desculpas irão acalmar o clamor internacional sobre a morte dos trabalhadores da WCK ou mesmo tranquilizar os grupos de ajuda internacional de que era seguro retomar as operações em Gaza, onde quase um terço da população está à beira da fome.
De acordo com o que os porta-vozes disseram ser as regras do exército israelita, os alvos devem ser visualmente identificados como ameaças por várias razões antes de poderem ser atingidos.
Mas a investigação determinou que um coronel tinha autorizado a série de ataques mortais com 'drones' contra o comboio com base na observação de um major - a partir de imagens granuladas de uma câmara de 'drones' - de que alguém no comboio estava armado. Essa observação acabou por se revelar falsa, disseram os oficiais militares.
O exército informou que o coronel e o major foram demitidos, enquanto três outros oficiais foram repreendidos. Os resultados da investigação foram entregues ao advogado-geral das Forças Armadas, que decidirá se os oficiais ou qualquer outra pessoa envolvida nos assassinatos devem ser punidos ou processados.
Os assassínios foram condenados pelos aliados mais próximos de Israel e renovaram as críticas à conduta de Israel na guerra de quase seis meses contra o Hamas.
Os trabalhadores humanitários eram três cidadãos britânicos, um cidadão polaco, um australiano e um canadiano com dupla nacionalidade americana, todos eles a trabalhar para a WCK, a instituição de caridade internacional fundada pelo famoso chefe José Andrés. O motorista palestiniano também foi morto.
O exército recusou-se a responder a perguntas sobre se houve violações semelhantes das regras de combate durante a guerra - em que os palestinianos, os trabalhadores humanitários e os grupos internacionais de defesa dos direitos humanos acusaram repetidamente o exército de atingir civis de forma imprudente.