Independentistas disputam pela primeira vez vitória nas regionais
O País Basco, no nordeste de Espanha, está desde hoje oficialmente em campanha para as eleições regionais de 21 de abril, com os independentistas do EH Bildu a disputarem pela primeira vez a vitória com os nacionalistas do PNV.
Apesar de todas as sondagens anteciparem que estes dois partidos concentrarão quase 70% dos votos, a "questão territorial" - expressão associada aos debates em torno dos nacionalismos, de novos estatutos de autonomia, da transformação de Espanha numa federação ou de processos independentistas - tem estado em segundo plano, ou mesmo quase desaparecida, nestas eleições.
Isto numa região, o País Basco, que foi, durante décadas, o foco destes debates em Espanha, marcados pelo terrorismo do grupo ETA, que abandonou a violência em 2011 e anunciou a dissolução em 2018.
Este foco passou, entretanto, para a Catalunha e, segundo diversas sondagens das últimas semanas, a defesa da independência do País Basco entre os bascos está em mínimos históricos do atual período democrático, iniciado no final da década de 1970.
Um dos estudos, da empresa 40dB, revelou que 37,5% dos eleitores bascos defende maior autonomia para a região, mas só 13% quer neste momento a independência. Por outro lado, as "questões territoriais" ocupam o último lugar de uma lista de nove preocupações, que é encabeçada pela saúde e a qualidade de outros serviços.
É neste País Basco "pós-terrorismo" e com os melhores índices de toda a Espanha em nível de vida ou salários que pela primeira vez, e segundo as sondagens, está na corrida pela vitória nas eleições regionais o partido EH Bildu, da esquerda independentista, que integra formações consideradas herdeiras dos braços civis da ETA.
A generalidade das sondagens antecipa um empate técnico entre o EH Bildu e o Partido Nacionalista Basco (PNV, na sigla em castelhano), considerado de centro-direita, com cada um deles a eleger, previsivelmente, entre 28 e 29 deputados, num parlamento com 75 lugares.
O PNV tem hoje 31 deputados e o EH Bildu tem 21, sendo já ambos, desde 2012, os dois maiores partidos na região.
Este ano, nenhum deverá ter maioria absoluta, pelo que o cenário pós-eleitoral mais provável é, neste momento, a reedição da atual coligação no governo regional, que junta o PNV com os socialistas (PSE-EE, a estrutura regional do PSOE, que deverá de novo ser o terceiro mais votado).
O EH Bildu propôs um acordo para governar o partido mais votado, que os socialistas já rejeitaram, só admitindo a possibilidade de apoio ao PNV, apesar de as duas formações bascas terem viabilizado, em Madrid, no parlamento nacional, os últimos dois governos de Pedro Sánchez.
O partido socialista garantiu que não viabilizará um executivo de um partido que integra pessoas e movimentos suspeitos de terem estado ligadas à ETA, ou de terem defendido a atuação do grupo terrorista, e que ainda não fizeram o "mea culpa" pleno.
"O EH Bildu não tem coragem para encarar o seu passado. Aquilo que não pode ser é o candidato do EH Bildu chegar e dizer que a ETA foi um ciclo político e que ele, geracionalmente, não tem qualquer responsabilidade. Eu andei nove anos escoltado e vi morrer assassinado um companheiro. Não podem fugir desse debate", disse na semana passada o candidato socialista, Eneko Anduza, de 44 anos, ao jornal El Pais, referindo-se a declarações e Pello Otxandiano (40 anos), do EH Bildu.
O partido independentista denuncia, em resposta, aquilo que considera ser a contradição e hipocrisia dos socialistas, que aceitam negociar e fazer acordos com o EH Bildu em Madrid.
O PNV está atualmente à frente do governo autonómico, como aliás aconteceu quase sempre desde 1980 (data das primeiras eleições regionais). A única exceção foi entre 2009 e 2012, quando o executivo basco foi liderado pelos socialistas, com o apoio do Partido Popular (PP, direita), apesar de o PNV ter ganho as eleições.
São estes 40 anos de governo do PNV, que necessariamente provocam desgaste, que têm sido apontados como uma das razões para o cenário que desenham as sondagens para 21 de abril: os nacionalistas a perderem terreno e o EH Bildu a ganhar cada vez mais, numa região de marcada identidade própria, em que os partidos nacionais espanhóis não conseguem disputar a vitória.
Em paralelo, o EH Bildu mobiliza um eleitorado mais jovem, sem memória direta (ou, pelo menos, menor) da ETA, que o PNV assume ter dificuldade em cativar.
Foi por isso que, após 12 anos de governo liderado por Iñigo Urkullu (62 anos), o PNV apresentou este ano um novo candidato, que assumidamente fala no objetivo de renovação geracional: Imanol Padrales, de 48 anos.
Para a direita, o EH Bildu está também a beneficiar, como demonstram as últimas eleições (nacionais e municipais, em 2023), do "branqueamento que lhe chega de Madrid", com a sua normalização como interlocutor de negociações numa instituição como o parlamento.
O EH Bildu beneficia, ainda, da divisão à esquerda do PSOE, entre o Podemos e o Somar, da ministra do Trabalho, Yolanda Díaz.
Se a generalidade das sondagens se confirmarem, os socialistas, o PP e o Vox (extrema-direita) manterão os deputados que têm atualmente no parlamento basco (10, 6 e 1, respetivamente); o Podemos poderá perder os seis atuais e o Somar elegerá um.