Crescimento e política económica europeia
Desde a crise financeira global de 2008 que o crescimento da economia europeia tem divergido fortemente da economia norte americana
O BCE reviu, novamente, as suas previsões para o crescimento real da UE em 2024 para 0,6%.
Valores vertiginosos como este podem causar estranheza, mas a verdade é que não é um problema recente. Desde a crise financeira global de 2008 que o crescimento da economia europeia tem divergido fortemente da economia norte americana.
Enquanto os EUA tiverem uma curta quebra seguida de uma década de forte crescimento, a Europa teve uma queda maior, seguida de baixos a moderados níveis de crescimento até à chegada do COVID, altura em que o ciclo recomeçou.
A recuperação da pandemia foi muito assimétrica entre os diversos países da UE e o “motor europeu” da Alemanha e restante centro/norte europeu parece ser o homem doente da EU.
Com uma nova previsão de crescimento para 2024 de 0,3%, a Alemanha está com dificuldades em dinamizar a sua economia. Os seus indicadores industriais mostram níveis inferiores ao cenário pré-pandemia, existindo dúvidas de longo prazo sobre alguns dos seus setores mais importantes como o dos veículos ligeiros elétricos.
Num cenário em que o abrandamento das economias ocorre globalmente e em que apenas três economias dos BRICS – grandes clientes industriais – preveem crescer mais em 2024 do que cresceram em 2023, as perspetivas não melhoram ao olhar para o resto do mundo.
Seria de esperar que as instituições europeias demonstrassem foco na recuperação económica da região e na capacitação da região para atrair capital, fomentar a criação de unicórnios e contrariar a tendência de envelhecimento populacional.
Infelizmente, em parte devido à invasão russa dos territórios circundantes da UE, em parte devido ao peso institucional da União, temos tido uma resposta algo desunida e desinspirada. Numa altura em que seria de esperar clareza e união entre os países membro, temos divisão com a Hungria e a Eslováquia a assumirem o papel de cavalos de Troia russos.
No meio de todos estes eventos, a UE demonstrou união no seu ponto mais forte: a regulação. Podemos não ser bons a dinamizar o potencial tecnológico europeu, mas somos excelentes a regulá-lo.
Desta vez, antes de nos preocuparmos em ter empresas europeias a acompanhar a vaga de IA – que tanto retorno tem dado às empresas e famílias americanas – a UE já veio regular a sua utilização.
Quando não conseguimos criar, regulamos. Mas seria ótimo criar. O mais surpreendente é que a própria UE tem diversos exemplos favoráveis que poderiam ser replicados.
A República Checa optou por uma taxa única e um regime simplificado para profissionais independentes e empresários em nome individual, enquanto a Estónia demonstra um dinamismo e retorno do seu investimento na digitalização e setor tecnológico que são um exemplo mundial.
Estes focos positivos que ocorrem pontualmente têm de integrar a política económica da UE, tornando-se case-studies que permitam a sua replicação nos diversos estados-membros.