Serão as empresas madeirenses mais solidárias do que a média nacional?
Dados de 2022, publicados no final de 2023 pela Informa DB, revela que o Mecenato podia ser mais reforçado
Cada empresa com sede na Madeira que, em 2022, foi solidária em termos de apoio em dinheiro ou em espécie, sem obter contrapartidas, entregou em formato de donativo um total de 3.224 euros. Terão sido mais de 900 empresas madeirenses a pegar em parte dos seus lucros e a dar sem pedir nada em troca, apenas por uma questão de solidariedade. E a verdade é que segundo os números da Informa DB, esta que é uma das principais valias da política de Responsabilidade Social das empresas tem crescido em número de contribuições.
Mas será que isso tem se reflectido nos montantes e, sobretudo, acompanha o que acontece lá fora, para não irmos mais longe, nas outras regiões portuguesas? Os números mais recentes disponíveis (2021 e 2022) colocam as empresas madeirenses entre as que menos apoiam, em termos de percentagem face ao total, mas na média do valor por empresa estão entre as melhores regiões do país.
“Para efeitos fiscais, os donativos constituem entregas em dinheiro ou em espécie concedidos sem contrapartidas que configurem obrigações de carácter pecuniário ou comercial às entidades públicas ou privadas, cuja atividade consista, predominantemente, na realização de iniciativas nas áreas social, cultural, ambiental, desportiva ou educacional”. Artigo 61.º - Noção de donativo do Estatuto dos Benefícios Fiscais (EBF) da 'Lei do Mecenato'
De acordo com a Informa DB, empresa especialista em conhecimento sobre o tecido empresarial e que é uma das parceiras do DIÁRIO no projecto '500 Maiores', "os donativos das empresas são uma das expressões do seu contributo para um bem comum". O certo, refere ainda no estudo "Donativos: Envolvimento das empresas com a comunidade", divulgado no final de 2023, "a consciência das empresas para o papel que assumem na construção social revela uma evolução positiva. Esta evolução tem certamente efeitos na sua reputação, sendo, além disso, encorajada pelo Estado através dos benefícios fiscais associados aos donativos".
E continua: "O impacto social das empresas tem, aliás, um peso considerável nos critérios ESG (ambiental, social e governança), de acordo com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas e que as empresas devem incorporar nas suas políticas de sustentabilidade."
Desta forma, "pela sua relevância, a Informa D&B monitoriza este tema há alguns anos, analisando os seus detalhes e evoluções. Como assumem a forma pecuniária, estes donativos são calculados com mais rigor do que outras ofertas que as empresas realizam de outras formas mais dificilmente quantificáveis", reconhece. "Nos últimos 5 anos, as empresas realizaram mais de mil milhões de euros de donativos. Historicamente, verifica-se um padrão de empresas doadoras com uma grande concentração de empresas de grande dimensão, maduras e familiares, bem como um peso significativo de alguns setores".
Além disso, acrescenta, "a evolução desde 2018 mostra que nos dois anos críticos da pandemia, quando foram colocadas sérias dificuldades a muitas empresas, bem como a diversas estruturas de apoio social na resposta à situação, o número de empresas doadoras desceu, mas o donativo médio por empresa cresceu significativamente. Em 2022, esta média decresceu, mas o número de empresas doadoras voltou a subir para valores próximos do que se verificava antes da pandemia. Face a 2018, a doação média por empresa é atualmente 34% superior".
E como ficam as empresas da Madeira neste perfil?
De acordo com os dados resultantes dos dois estudos, eram cerca de 720 as empresas da Madeira que, em 2021, tinham feito donativos, totalizando 1,6% das cerca de 45 mil empresas nacionais. Comparando com os números de um ano depois, do total de 65 mil empresas que fizeram donativos no país, 1,4% era da Madeira, totalizando as tais mais de 900...
Contudo, em termos de donativos, as empresas nacionais doaram em 2022 um total de 217 milhões de euros, comparativamente aos 168,3 milhões de euros em 2021. No caso da Madeira, com peso de 1,3% em 2022 e 1,6% em 2021, correspondendo a sensivelmente 2,8 milhões de euros em 2022 por comparação com os 2,7 milhões de euros no ano anterior.
Ou seja, de acordo com estes dados, não só houve mais empresas da Madeira a aderir ao regime de donativos, como registou-se um aumento. Mas, o valor médio dos donativos por empresa madeirense passou de 3.854€ em 2021 para 3.224€ em 2022. Resumindo, apesar do aumento de 25% no número de empresas a fazerem donativos, o montante global apenas cresceu 3,7%, o que implica que o valor médio doado por empresa tenha diminuído 16,3%.
Comparando com as outras regiões, as únicas que têm mais peso no donativo do que no número de empresas doadoras são as da área metropolitana de Lisboa (20% do total de empresas e 50% do total de donativos) e a região autónoma dos Açores (1,3% das empresas e 1,4% dos donativos), o que as faz, também, a primeira e segunda no ranking das regiões que têm melhor donativo médio efectuado por empresa. As empresas da Madeira, apesar de figurarem na base do ranking em número empresas e porcentagem de donativos, figuram em 3.º no valor médio.
Um ano antes, apenas as empresas da região de Lisboa viram aumentar o donativo médio efectuado, isto porque antes representavam 23% do total de empresas e 46% dos donativos, enquanto as restantes, com excepção igualmente dos Açores cujas empresas pesavam 1,4% e os donativos 2%. Nessa ano, como vimos as empresas da Madeira estavam 'ela por ela' (1,6% de peso em número e valor das doações), sendo que em 2021 também figuravam em 3.º no valor médio por empresa, atrás das lisboetas e das açorianas.
Um último indicador que, apesar de positivo, mantém a Madeira na cauda do ranking, é a percentagem de empresas de cada região que fizeram donativos. Tanto num ano como no outro as empresas da Madeira ficam bem abaixo da média nacional, com apenas 8% em 2021, quando entre as outras regiões a única que estava perto é Lisboa (9%), sendo que as dos Açores estavam em 14%. A média nacional superava os 12%. Um ano depois (2022), a Madeira não saiu do fundo apesar de melhorar 3 pontos percentuais, mas em igualdade com Lisboa (11%), enquanto que os Açores melhoraram para 17%. Uma em cada 4 empresas da região Centro fazia doações, sendo que da Madeira era pouco mais de 1 em cada 10.
Posto isto, no que toca à comparação fica claro que há muito ainda a crescer neste capítulo, mas no fundo as empresas da Madeira até nem estão tão mal classificadas assim.