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Crónicas

O bom, o mau e o pacóvio

Não se percebe como é que o PSD gasta um valioso trunfo eleitoral, como é Rubina Leal, numa lista que Miguel Albuquerque, (...) criticou

Mera especulação. Foi a isso que os juízes reduziram o plano criminoso que o MP imaginou entre empresas privadas e o Governo de António Costa. É mais do que uma derrota do MP. É o arraso completo de uma investigação, capaz de derrubar um Governo legitimado por uma maioria absoluta. Entretanto, soube-se que o processo contra António Costa, agora transferido do Supremo Tribunal de Justiça, esteve 4 meses sem qualquer avanço. Alguém sabe se ainda temos Procuradora Geral da República ou podemos assumir que o MP está em auto-gestão?

O bom: Francisco Faria Paulino

É cada vez mais difícil celebrar, com sentido, o 25 de Abril. Passados 50 anos, a manhã inteira e limpa, como Sophia a escreveu, transformou-se numa matiné de discursos partidários, lânguidos e previsíveis, que variam entre juras à liberdade e narrativas dantescas sobre o atual estado da cidade, da região ou do país, consoante o púlpito de onde são proferidos. A partidarização do 25 de Abril, para além de antagónica à raiz popular da revolução, diminui o nosso dia maior a mais um dia no calendário de quem acha que não há vida para além dos partidos. Ninguém duvide que há. Basta estarmos atentos ao que se fez no Funchal por hora das comemorações dos 50 anos da revolução. Pela mão de Francisco Faria Paulino, responsável pelo programa, fez-se de tudo um pouco. Juntou-se a arte ao conhecimento, a música ao debate e os livros ao desporto. O ponto alto dessa festa terá sido o Concerto Monumental, que juntou mais de 600 vozes no Parque de Santa Catarina e relembrou o papel insubstituível que as juntas de freguesia têm no dia-a-dia da cidade. No Funchal, o 25 de Abril festejou-se onde, há cinco décadas, a revolução se fez: na rua, com as pessoas. Mas a revolução também se fez para que se pense diferente, para quem ache que importam as sessões solenes e os discursos de sempre. Essa dissonância também é o 25 de Abril. Todavia, a quem confunde a crítica legítima com a maledicência, Faria Paulino foi certeiro e corajoso: “o Carnaval é em Fevereiro ou Março, a palhaçada, seguramente, não se faz em Abril.”.

O mau: Listas para as Eleições Europeias

De Virgílio Pereira a Quinídio Correia, passando por Rui Vieira e Emanuel Fernandes, até Cláudia Monteiro de Aguiar e Sara Cerdas. A Madeira esteve sempre representada no Parlamento Europeu, muitas vezes por mais do que um deputado. Em 2024, a confirmar-se a distribuição de candidatos nas listas de PS e PSD (travestido de AD), essa representação estará, pela primeira vez, posta em causa. Basta conferir as sondagens mais recentes ou fazer uma breve extrapolação das últimas legislativas nacionais, para concluir que nenhum partido elegerá mais do que 7 deputados nas europeias. Essa contabilidade eleitoral impediria Rubina Leal (9.º lugar na lista da AD) e Sérgio Gonçalves (8.º lugar na lista do PS) de entrar, pelo menos à primeira, no Parlamento Europeu. Há uma enorme ironia na ordenação de candidatos imposta pelos diretórios partidários nacionais. A União Europeia reconhece, com expressão nos seus tratados, um estatuto especial às regiões ultraperiféricas, onde se incluem a Madeira e os Açores. Por isso, garante-lhes tratamento diferenciado em relação a todas as restantes regiões europeias. Mais fundos europeus e menos obrigações comunitárias. No entanto, em Portugal, é o próprio país, pela mão dos partidos, que arrasa a sua representação insular para agradar a interesses partidários circunstanciais. É o cúmulo da contradição e será um erro histórico das lideranças de Luís Montenegro e Pedro Nuno Santos. Mas não são os únicos a errar. Na Madeira, não se percebe como é que o PSD gasta um valioso trunfo eleitoral, como é Rubina Leal, numa lista que Miguel Albuquerque, acertadamente, criticou e numa eleição que dificilmente trará dividendos. Se a Vice-Presidente da Assembleia Legislativa serviu para tornar mais difícil a decisão de Montenegro, então, frustrada essa possibilidade, deveria o PSD apresentar uma solução política alternativa, pensada para responder a uma pergunta difícil, mas não impossível: como é que se apela ao voto numa lista com a qual não se concorda?

O pacóvio: Marcelo Rebelo de Sousa

Tudo se precipitou num jantar com jornalistas estrangeiros. A tempestade perfeita criada por Marcelo, juntou comentários deselegantes sobre o atual e sobre o anterior primeiro-ministro, compensações às antigas colónias, desaguisados familiares e uma acusação velada a Lucília Gago. A mixórdia de temas revela bem o desnorte presidencial. Marcelo parece perdido entre o arrependimento de ter dissolvido a Assembleia e a necessidade de recuperar a popularidade que um segundo mandato desastroso lhe tem custado. Mais do que a habitual incontinência verbal, que permite a Marcelo tratar assuntos tão complexos como as reparações históricas numa conversa de café, o Presidente atingiu o seu ridículo máximo quando disse encontrar em Montenegro “comportamentos rurais”. Em bom madeirense, Marcelo acha que o primeiro-ministro é um “vilhão” e disse-o perante uma plateia de jornalistas estrangeiros. Traído pela vaidade de quem nasceu na Lisboa das elites, círculo inacessível a um primeiro-ministro de Espinho, Marcelo acabou por demonstrar a pequenez de quem nos lidera. Em vez do Presidente-comentador, na ânsia de impressionar os media estrangeiros, revelou-se o Presidente-pacóvio. Ainda há tempo de ajudar Marcelo a acabar o mandato com dignidade?