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Madeira

“Alianças com os traidores de Abril” serão o “pecado maior” dos “agarrados ao poder”

Élia Ascensão ataca extremistas e saudosistas de um passado de vergonha e de má memória na comemoração dos 50 anos do 25 de Abril em Santa Cruz

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Élia Ascensão reconhece que é fácil o discurso populista e extremista face ao que diz ser “o país dos pobres e das famílias no limiar da pobreza, o país dos jovens sem emprego e dos velhos com pensões de miséria, o país dos que perdem a casa e dos que não a conseguem comprar”. Realidade que facilita o abrir mão do pão que falta e ceder direitos em troca de um futuro, mesmo que este se faça à conta do regresso de extremismos, de machismos, de retrocessos infames.

É contra “este país aparentemente tão disposto a abrir mão das suas liberdades e das suas conquistas de cidadania e emancipação, este país que facilmente se senta em torno da mesa de uns saudosistas que defendem o regresso ao passado, o regresso da mulher à cozinha e ao anonimato, à posição secundária e subalterna” que a presidente da Câmara Municipal de Santa Cruz reforça a importância de não apenas celebrar, mas continuar a lutar pelos ideais de Abril. Mais ainda por temer “que este dia corra hoje o perigo de nos fazer a todos não emergir da noite e do silêncio, mas submergir novamente na noite e no silêncio”, avisa.

“Temo por nós, herdeiros de Abril, e pelos nossos filhos, aos quais quero deixar a certeza de que não regressará a infâmia de um país sem liberdade, de mulheres amordaçadas, de homens escravos, de uma população de regresso a uma idade de democracia menor”, sustentou.

Razão para afirmar “neste dia em que celebramos o meio século da nossa liberdade, saibamos nos erguer livres por essa liberdade que a tantos custou e saibamos honrar o seu legado e os seus objectivos”, defendeu a autarca do JPP na sessão comemorativa dos 50 anos do 25 de Abril de 1974, realizada no Salão Nobre dos Paços do Concelho.

Ocasião também aproveitada para enviar recado aos saudosistas “e aos que, agarrados ao poder, estão dispostos a fazer alianças com os traidores de Abril, que saibam que esse será o vosso pecado maior. Que maior pecado do que não terem cumprido tudo o que Abril preconizou, será sentarem-se à mesa do poder com extremistas, com saudosistas de um passado de vergonha, de um passado de má memória”, avisa.

Exortou por isso “aos verdadeiros democratas” a “erguerem-se como a mesma força daquela madrugada e a defenderem a nossa liberdade”. Com um apelo especialmente dirigido às mulheres, às minorias, aos jovens, “que recuperem a memória do que fomos antes do dia inteiro e limpo e que saibamos emergir de todas as noites e de todos os silêncios. Sempre!”, afirmou.

Antes, reconheceu que “a maioridade da nossa Democracia merece esta e todas as homenagens” e “merece também que a respeitemos, que a celebremos em alegria, mas também que a sua defesa seja sempre intransigente e que não se esmoreça o ímpeto que, naquela madrugada de 1974, trouxe para a rua os militares e o povo e com eles o sonho de um país livre”, reforçou.

Na liderança do executivo municipal em substituição temporária de Filipe Sousa, Élia Ascensão, apesar de ter nascido anos depois sente a “alegria” de celebrar essa histórica madrugada “mas também a tristeza e o medo de nos ver tão desprotegidos face a ameaças que, nestes 50 anos, já julgávamos ultrapassadas e impossíveis de fazer regressar”, revelou.

“Infelizmente, a História já demonstrou diversas vezes que a infâmia pode sempre voltar, que as ameaças aguardam caladas e covardes a sua oportunidade de ressurgir”, denuncia, referindo-se “ao ressurgimento da extrema-direita e do seu ideário contrário à caminhada que fizemos de conquistas, liberdades e igualdade. Falo da extrema-direita e daqueles que, para salvarem um poder já decrépito e moribundo, não têm pejo em abrir a porta que Abril fechou”, denunciou.

Apreensiva com o estado em que estamos 50 anos depois, responsabiliza quem nos governos nas últimas décadas por entender que nem sempre “se soube respeitar a herança de Abril nem os seus objectivos”. E por isso também responsável pelo nascer de novos extremismos, “porque não soube responder a muitas esperanças que Abril preconizou e deixou nas margens do suposto progresso muita gente que agora saudosamente anseia o regresso a um tempo do qual já não tem memória. E porque não tem memória não o teme. E não tendo memória não avalia o risco, nem as perdas a ele associadas”, apontou.