Cheira a mofo o programa de Paulo Cafôfo

O leitor já se deu ao trabalho de se debruçar atentamente sobre as medidas apresentadas pelo PS? Já leu quais são as suas principais bandeiras? Não! Então leia e vai verificar o que eu já verifiquei: que quase todas as “novidades” já têm mofo e não passam de atualizações de medidas já implantadas e de iniciativa dos governos de Miguel Albuquerque. E as que não o são dependem muito da República, sendo, no mínimo, curioso de que delas nunca falasse quando fazia parte do Governo de António Costa. Ou então tratam-se de pura demagogia, como a do ferry.

Senão vejamos, na Habitação falam em construir mais casas (penso que estão a se referir a habitação pública) e em aumentar o apoio às rendas. Ora, ambas as medidas já estão no terreno e a terem efeitos no dia-a-dia das pessoas. Só até 2026 serão construídas mais de 800 novas habitações. Para não falar na habitação cooperativa. Ou seja, se chegasse ao Governo, o que Cafôfo faria seria aproveitar as casas em construção…. A tática não é nova: quando esteve na Câmara “inaugurou” o Lido, que tinha herdado já em fase adiantada de construção de Miguel Albuquerque.

No campo da Educação, Paulo Cafôfo prometeu que «com o PS serão abolidas as quotas para a progressão na carreira docente e serão vinculados todos os professores com três anos de contrato». Esta, então, é o cúmulo dos cúmulos. Então, o PS foi governo a nível nacional, nada fez pelos professores, na Região os socialistas assistiram “mudos e quietos” a este atropelo e a esta injustiça, e agora vêm falar de apoio aos professores?! E falam em vínculos aos três anos, dando exemplo nacional, quando o que se passa é que este vínculo obriga a um concurso, para destinos que nenhum professor quer. Por isso, aliás, ficaram duas mil vagas por preencher no último concurso nacional. Na Madeira, não há concurso, o professor passa imediatamente para o quadro!

O aumento do Complemento Regional para Idosos para 150 euros mensais e o aumento do valor pago aos produtores de banana, de cana-de-açúcar e de uva foram ainda outras medidas elencadas. E são outras promessas que se não fossem assunto tão sério até daria para rir. Então, o Complemento Regional para Idosos foi criado por Miguel Albuquerque, há um aumento constante todos os anos e vêm dizer que esta é uma das suas grandes bandeiras?! O mesmo se passa com o valor assumido aos produtores, onde os acréscimos têm subido exponencialmente, como, por exemplo, demonstra o valor recorde pago na cana-de-açúcar.

Mas, a falta de criatividade continua: será criado o passe único regional, diz Cafôfo. Será o tal que vai entrar em vigor no verão, como já anunciou este Governo Regional e que aguarda só que terminem processos burocráticos?!

Fala ainda em garantir a gratuitidade dos transportes para pessoas menores de 25 anos e maiores de 60 anos. Ou seja, propõe-se a reduzir a idade dos idosos já abrangidos dos 65 para os 60 anos e a aumentar a idade dos estudantes abrangidos para os 25 anos. Na prática, nada de novo, apenas alterações quase de cosmética. Que coloca vários fatores em equação: o limite dos 23 anos foi com base em limites definidos pela República, por governos socialistas, com a criação dos passes sub-23. Sem qualquer reparo do PS da Madeira durante anos. E porquê reduzir para os 60 anos, porque não para os 55 anos?! Já agora…

Mas, a que me deixa mais incrédulo é a de garantir o ferry. Não queria acreditar no que ouvi e tive mesmo de ler e reler. Mas, era mesmo verdade: o líder (?!) socialista propõe-se a trazer o ferry. Deve ser o tal que foi exigir a Lisboa, ameaçando António Costa com um “murro na mesa”. Ou então o que foi anunciado com toda a pujança, e aos saltos, em Machico, meses depois…

Na lista de promessas há ainda outra questão que salta à vista: a tentação, já vincada quando estava na Oposição, de achar que deve ser a Região a assumir custos que competem a Lisboa: seria assim com o ferry, seria assim com a gratuitidade das propinas dos estudantes. Tudo a Madeira a pagar, tudo para poupar a República. É ter mesmo espírito de colono! Nem no Governo Regional, se lá chegassem, o perderiam!

É este o Governo que se quer para a Madeira, agachado a Lisboa, temeroso de enfrentar o poder nacional?! Eu não!

Já agora, só para acabar, quando Paulo Cafôfo garante que não sanearia nem demitiria pessoas, possivelmente está a fazer “mea culpa” dos seus tempos na Câmara do Funchal. Gil Canha e outros que o digam!

Ângelo Silva