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50 anos de liberdade!

Tinha 18 anos quando fomos acordados pelo telefone a tocar ainda de madrugada. Era a minha Tia a dizer aos meus Pais para não nos deixarem sair de casa porque estava uma revolução em curso e que não era seguro andar na rua. Foi assim que ficámos a saber que algo de muito importante se estava a passar e que teríamos de esperar em casa até sabermos o que realmente estaria a acontecer.

Nessa altura frequentava a Universidade Católica Portuguesa (UCP) e o Instituto Superior Técnico (IST). Tinha experienciado o IST estar controlado pela Polícia com cães que andavam pelos corredores e espreitavam para as salas para verificarem que tudo estava sob controle numa escola onde os alunos tinham de deixar o cartão de estudante na porta de entrada e só o recebiam de volta na saída. Caso o cartão não fosse devolvido era sinal de que não tínhamos permissão de voltar a assistir às aulas. Os alunos que desejavam realizar os exames (“furando” a greve aos exames) tinham de se dirigir a uma esquadra de polícia sendo depois encaminhados para uma camioneta que os levaria ao IST, camioneta que tinha cortinas para que não se pudesse saber quem nelas ia. Felizmente dispensei dos exames, mas sei a decisão difícil que tiveram que fazer os meus colegas, uns decidindo furar a greve (porque podiam perder o direito à bolsa que lhes permitia continuarem a estudar) enquanto a maioria respeitou a decisão de greve.

Tinha estado em reuniões gerais de alunos na entrada do Hospital Santa Maria onde nos era explicado que no caso de uma investida policial devíamos fugir pelas escadas e nos misturar com os doentes e as visitas de modo a tentar escapar à brutalidade. Felizmente escapei sempre ileso, mas vi o estado em que ficaram alguns colegas que não tiveram igual sorte.

No último ano do liceu tinha ido assistir a uma sessão da Assembleia Nacional onde um dos deputados defendia a tese de que dado que Portugal tinha razão na justa guerra que travava nas Províncias Ultramarinas então mesmo “com varapaus” iríamos derrotar os nossos inimigos. Felizmente era muito novo para ser incorporado no serviço militar obrigatório, mas sabia os tormentos que passava um primo meu, com dezanove anos na altura, preso em Caxias por se manifestar contra a guerra colonial.

Passámos o 25 de Abril de 1974 a tentar saber notícias que iam sendo poucas e muita da informação que tínhamos era dos familiares que telefonavam a contar o que viam das janelas de onde moravam. Ao fim da tarde eu e o meu irmão mais velho conseguimos convencer o meu Pai a deixar-nos ir comprar o jornal Diário Popular… não me lembro se conseguimos ou não comprar o jornal, mas lembro-me perfeitamente de termos feito um desvio para ir espreitar o que se passava no Quartel-General do Governo Militar de Lisboa que ficava próximo de nossa casa. Vimos os revoltosos em posição de combate e voltámos satisfeitos para a nossa casa.

Nessa altura tive esperança de que nada voltasse a ser como era, que a tão desejada Liberdade passasse a fazer parte da nossa vida do dia-a-dia. Passados 50 anos desse dia aqui estou a agradecer a todos os que tornaram possível o País que temos hoje em que a Liberdade é um valor aceite democraticamente.

A conquista da Liberdade foi muito difícil, por isso é nosso dever tudo fazer para que nunca mais nos seja roubada.