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Basta de sermos chacota nacional

Depois da opção tomada através do voto, as coisas serão como são e teremos de enfrentar as consequências dessa decisão

Viver na ilha tem os seus custos. Quem aqui vive e daqui não viaja para lado nenhum, nem se apercebe da forma que os nossos conterrâneos nos olham.

À conta dos vários escândalos políticos fortemente noticiados, a maioria dos portugueses questiona-se sobre a utilidade do dinheiro transferido pelo Governo da República para o orçamento do Governo Regional da Madeira.

Curiosamente, este sentimento já não existe para com os nossos conterrâneos açorianos. A maioria dos portugueses concorda com as verbas transferidas pelo Governo da República para os Açores. Consideram útil e importante para o desenvolvimento dos Açores e para a sua população estas transferências de dinheiro.

De nada resolve chamarmos todos os outros portugueses de “tontos”, ou que não sabem o que estão a dizer, ou reclamar de discriminação. É preciso compreender como aqui chegamos. É preciso pensar no que a nossa Região precisa. É preciso comunicar de forma que percebam as nossas reivindicações para conseguir mudar este paradigma. Não é fácil porque já caímos no descrédito.

Os vários escândalos recentes relacionados com suspeitas de situações menos próprias de gestão de dinheiros públicos e de corrupção não conferem credibilidade aos atuais intervenientes políticos nas negociações futuras importantes para a nossa Região, nomeadamente sobre o futuro da autonomia regional. Porque a questão mais pertinente a fazer é – Para que querem mais autonomia?

Os atuais atores políticos, na realidade, são mais um entrave do que elementos de solução para aquilo que precisamos. Com a situação atual esqueçam a temática da autonomia por uns tempos.

Veja-se também o imbróglio do caso da antiga deputada do PSD-Madeira na Assembleia da República, Patrícia Dantas, que foi convidada para ser adjunta do Ministro das Finanças. Logo deixou de ser opção como adjunta por estar a ser julgada num processo por fraude para obtenção de fundos europeus. Sinceramente, nem consigo perceber como foi possível terem feito este convite para exercer funções no Ministério das Finanças. Não me digam que quem convidou não sabia que estava envolvida neste processo. O caso foi notícia nacional. Mas vá lá que a nível nacional, após notícias publicadas em vários órgãos de comunicação social decidiu-se pela impossibilidade do exercício dessas funções.

Com toda esta confusão política, o grande tema de discussão para as próximas eleições regionais será inevitavelmente o tema da corrupção e da confiabilidade dos cabeças de lista para exercerem as funções de Presidente do Governo.

É legítimo cada um lutar pela sua vidinha. A questão que temos de nos colocar é se a resolução da “vidinha pessoal” dos candidatos é compatível com a melhor escolha para o futuro da Região. E nas próximas eleições somos chamados a escolher os partidos e os líderes que irão conduzir os destinos da nossa terra pelos próximos 4 anos.

O país tem os olhos postos em nós. Nas eleições do próximo dia 26 de maio somos chamados a responder às questões – Concordamos com o atual estado das coisas? Compactuamos com as orientações atuais? São estes os líderes políticos que queremos a governar a Madeira? É assim que queremos ser governados?

Isto não é uma questão pessoal. Não é uma questão de lealdade ou deslealdade. Porque se formos argumentar sobre princípios e valores, para mim, há um valor maior – pensar o futuro da Madeira. E eu, madeirense com muito orgulho, sempre defenderei a minha Região com todas as minhas forças enquanto viva for. Nisto, não me canso, não me rendo, nem me dou por vencida. Mas, não permito amarras.

Cada um de nós tem de ter consciência que depois da opção tomada através do voto, as coisas serão como são e teremos de enfrentar as consequências dessa decisão. Todos somos livres de tomar as nossas decisões. Mas já não somos livres das consequências das nossas decisões. Tudo tem um preço. E o preço destas decisões está a tornar-se cada vez mais pesado. Insistir em certas soluções, infelizmente pode prejudicar o futuro.

Em política, os líderes têm de saber qual o seu tempo. Há tempo de avançar, de aguardar, de esperar em camarote e há o tempo de sair. Não respeitar estes tempos pode ser dilacerante para as pessoas visadas e para a comunidade como um todo.

É tempo de dizermos basta de sermos chacota nacional.