Responsáveis da ONU condenam ataque que matou trabalhadores humanitários e pedem protecção
Responsáveis da Organização das Nações Unidas condenaram hoje a morte de sete membros da organização World Central Kitchen (WCK) num ataque israelita na Faixa de Gaza, apelando à proteção dos trabalhadores humanitários.
Numa publicação na rede social X, o coordenador humanitário da ONU, Martin Griffiths, afirmou-se "indignado com o assassinato" dos funcionários da WCK, na noite de segunda-feira, num ataque cuja responsabilidade já foi assumida pelas autoridades israelitas.
"Eram heróis, mortos quando estavam a tentar alimentar pessoas esfomeadas", declarou o dirigente do Gabinete das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), comentando: "Toda esta conversa sobre cessar-fogo e mesmo assim esta guerra rouba o melhor de nós".
Para Griffiths, "as ações dos que estão por detrás disto são indefensáveis".
"Isto tem de parar", sublinhou.
Já o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, questionou: "Quantas mais vidas se perderão até que haja um cessar-fogo?".
"Estamos indignados com o assassinato de trabalhadores humanitários em Gaza. A segurança é um requisito básico para a entrega de ajuda que salva vidas", disse, numa publicação na rede X, transmitindo as "mais sinceras condolências" à WCK e às famílias das vítimas.
"Apelamos mais uma vez à proteção sustentada dos trabalhadores humanitários em Gaza", referiu.
Citado pela ONU News, o coordenador humanitário para os Territórios Palestinianos Ocupados disse que o incidente não é isolado.
Segundo Jamie McGoldrick, desde o início do conflito, em 07 de outubro passado, e até 20 de março, pelo menos 196 funcionários humanitários perderam a vida, o triplo de mortes registadas num único conflito durante um ano.
O responsável disse que os Territórios Palestinianos são "um dos locais de trabalho mais perigosos e difíceis do mundo" e que "não há mais nenhum lugar seguro em Gaza".
Jamie McGoldrick fez um "apelo a todas as partes no conflito, incluindo o Governo de Israel, para que respeitem o direito humanitário internacional, que proíbe atacar pessoal humanitário".
O coordenador destacou ainda o papel dos trabalhadores humanitários, que "aliviam o sofrimento das pessoas em crise", e considerou essencial garantir a sua segurança, bem como a dos civis.
O representante da ONU assinalou que o ataque ocorreu num momento de grandes dificuldades e sofrimento em Gaza, onde "o risco de fome é iminente para os 2,2 milhões de habitantes".
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, admitiu hoje que o exército israelita matou "sem querer" sete trabalhadores humanitários da organização World Central Kitchen e disse que o incidente será alvo de uma investigação exaustiva.
A instituição é uma das duas organizações não-governamentais (ONG) ativamente envolvidas na entrega de ajuda a Gaza por via marítima a partir de Chipre.
A WCK descreveu que um dos seus veículos foi atacado pelo exército israelita ao passar por Deir al Balah, no centro da Faixa de Gaza, depois de sair de um armazém onde tinham descarregado 100 toneladas de alimentos, num movimento coordenado com as autoridades israelitas.
O ataque contra os trabalhadores humanitários já foi condenado pela União Europeia e por vários países, incluindo Reino Unido, Espanha e Bélgica, que exigiram explicações a Israel pela morte de sete trabalhadores da organização humanitária.
Os Estados Unidos pediram a Telavive uma "investigação rápida, completa e imparcial".
Desde o início da guerra entre Israel e o movimento islamita Hamas, em 07 de outubro de 2023, a World Central Kitchen tem participado nos esforços de socorro e no fornecimento de refeições aos residentes de Gaza.
A WCK, com sede na capital dos Estados Unidos, foi fundada pelo 'chef' espanhol José Andrés durante a grave crise humanitária que afetou o Haiti depois do violento tremor de terra, em 2010.