Menor colheita de cereais este ano terá repercussões globais
A colheita de cereais na Ucrânia vai diminuir 10% este ano, segundo previsões do Governo, situação que terá efeitos globais, incluindo em Portugal, apesar da recuperação da capacidade de exportação dos portos ucranianos do mar Negro.
Os agricultores ucranianos vão colher um total de 74 milhões de toneladas de grãos e oleaginosas em 2024, segundo estimativas do Ministério da Agricultura, em comparação com 82 milhões de toneladas no ano passado.
"A previsão é preliminar e será ajustada ao longo do ano em função das circunstâncias", alertou o ministério, citado pela agência Efe.
A tendência negativa é consequência direta dos desafios que a invasão russa causou, realçou à Efe Pavlo Koval, presidente da Confederação Agrária da Ucrânia.
"Embora a frente [de combate] permaneça relativamente estável, em algumas áreas o aumento dos bombardeamentos leva a menos terras agrícolas que podem ser cultivadas", explicou.
Na sua terceira semeada de primavera na guerra, os agricultores ucranianos também enfrentam complicações logísticas internas e externas e preços baixos para os seus produtos, bem como possibilidades de financiamento reduzidas, a contaminação de grandes áreas com explosivos e a mobilização dos seus trabalhadores.
O cultivo do trigo não está a dar frutos neste momento, segundo Koval, e a colheita deverá cair 13,5%, para 19,2 milhões de toneladas.
Em contrapartida, os agricultores ucranianos estão no bom caminho para colher 5,2 milhões de toneladas de soja este ano, um aumento de 10%, segundo analistas.
O impacto financeiro da invasão russa é ilustrado pelo custo estimado do desmatamento de todas as terras agrícolas, entre 12 mil milhões de euros e 25 mil milhões de euros, de acordo com cálculos de Oleg Nivievski e Roman Neyter da Escola de Economia de Kiev.
Segundo Koval, a nível nacional, entre cinco e oito milhões de hectares devem ser verificados quanto à presença de explosivos.
Com a maior parte da desminagem a demorar mais de uma década para ser concluída, os agricultores arriscam muitas vezes as suas vidas e maquinaria para plantar culturas, uma vez que ocorrem regularmente explosões na linha da frente e em regiões anteriormente ocupadas.
Perante tantas dificuldades financeiras, operacionais e de segurança, é cada vez mais difícil para muitos permanecer no setor, sublinhou Koval.
As exportações poderão cair para 43,7 milhões de toneladas em 2024-2025, em comparação com 53,1 milhões estimados na temporada de comercialização anterior, de acordo com a Associação Ucraniana de Cereais.
A Ucrânia está a perder alguns dos seus mercados estrangeiros devido a problemas logísticos e de exportação, segundo Koval, e em alguns casos está a ser substituída pela Rússia, que também vende cereais 'roubados' da Ucrânia.
No entanto, o país invadido continua a ser um ator importante à escala global, realçou.
Alguns países do sul da Europa, como Espanha, Portugal e Grécia, assim como o norte de África, o Golfo e alguns países asiáticos sentirão o impacto da redução das exportações de trigo da Ucrânia, alertou Koval.
Mesmo que a Ucrânia seja substituída por outros fornecedores, os preços subirão, garantiu.
Muito depende também do funcionamento contínuo das rotas de exportação através do mar Negro e do Danúbio, que ainda são ameaçadas pela Rússia, alertam os analistas.
A Ucrânia conseguiu exportar até 5,8 milhões de toneladas de produtos agrícolas por mês depois dos ataques de 'drones' e mísseis terem expulsado a frota russa do noroeste do Mar Negro.