Eles sabem lá
Patrícia Dantas foi afastada. Não por ser arguida. Já o era. Antes porque há governos insensatos num Estado que liquida cidadãos
Boa noite!
Quem no mundo da informação raramente dá exclusivos ou se limita a publicar o que outros noticiam corre sérios riscos. Isto porque há movimentações internacionais para pôr em prática uma nova postura ética.
Por exemplo, os jornais franceses comprometem-se a citar no primeiro parágrafo quem deu a notícia em primeira mão e a não apropriar-se de conteúdos alheios. Desta forma, enfatizam a importância vital de reconhecer e citar correctamente as fontes das notícias, assegurando que os públicos possam avaliar a sua fiabilidade.
Vem o assunto a propósito da polémica do dia. Como se fosse de hoje, gerada e parida no rectângulo.
Desde domingo que quem leu o DIÁRIO sabe que a ex-deputada do PSD à Assembleia da República, Patrícia Dantas, aceitou o convite para integrar o gabinete do ministro de Estado e das Finanças.
Nessa mesma edição revelamos que a madeirense faria parte do gabinete de Joaquim Miranda Sarmento como adjunta.
Desde domingo que quem leu o DIÁRIO sabe que a polémica estava garantida, uma vez que Patrícia Dantas é arguida num processo-crime por fraude na obtenção de subsídio, no caso da extinta Associação Industrial do Minho. Aliás, recordamos nessa mesma edição que a ex-parlamentar chegou a suspender o mandato cada vez que tinha de se deslocar a tribunal. E que a sua participação na Comissão de Inquérito à TAP levou o presidente do PSD, Luís Montenegro, a dar explicações públicas, em Fevereiro do ano passado, sobre o caso. O agora primeiro-ministro afirmou mesmo que “preferia que a deputada (Patrícia Dantas) não tivesse esse problema” que já o tinha antes de ser deputada”. Contudo, reiterou estar convicto de que seria ilibada do processo em que é acusada.
Desde domingo que quem leu o DIÁRIO sabe que o novo ministro das Finanças também ele conhecedor do caso há muito tornado público confiou em Patrícia Dantas para exercer um cargo de extrema confiança política e pessoal e por onde passam importantes e decisivos dossiers para a Madeira.
Passados dois dias, e só porque o Correio da Manhã deu hoje como sua a notícia do DIÁRIO de domingo passado, rebentou a polémica, o comentário fácil e a reacção das virgens da política nacional. De rir. Mas vá lá que no continente há quem saiba quem deu primeiro, como se ouviu hoje na SIC Notícias, através do jornalista Paulo Baldaia.
Percebe-se que alguns jornais nacionais, sem expressão na Madeira, queiram prolongar o colonialismo que tentaram impor sem sucesso no início do ano. E que virem de novo atenções para a Região que vai a eleições. O que não podem é enganar os portugueses, dando como suas as notícias que embrulham espadas há dois dias.
De resto, é ponto assente que Patrícia Dantas foi afastada não por ser arguida. Mas por ser novamente notícia que alguns só descobriram porque porventura foi soprada pelo vento leste e que atemorizou um governo imprudente, incapaz, insensato e que usa de dois pesos e duas medidas para casos similares.
Montenegro, Sarmento e outros que tais sabiam de tudo sobre um processo judicial que se arrasta há 7 anos e que não tem nada de novo. Mas cederam à pressão mediática e despacharam quem assim se vê impossibilitado de fazer a sua vida e de ter uma carreira profissional.
Cabe ao Tribunal decidir se Patrícia Dantas é culpada ou não. Mas convém que se despache. Começar a investigar em 2017 para julgar em 2024 não é normal e aceitável. Como é de um desrespeito atroz brincar com a presunção de inocência de cada um.
O Estado não pode manter em suspenso a vida de um cidadão por tempo indeterminado. Como se fosse normal. Como se tivéssemos todos de aceitar sem reclamar. Como se fosse crime mostrar indignação ou a certeza que um dia destes não haverá ninguém disponível para a vida pública. Uns porque despertam invejas e depressa são constituídos arguidos. Muitos porque não têm pachorra para aturar ressabiados. Outros porque são aselhas e nunca serão nada em parte alguma. E alguns porque esbanjam oportunidades porque um dia apenas quiseram mostrar serviço.