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Boa Noite

É a democracia

14 partidos vão disputar as 'Regionais'. O desperdício será inevitável. Incomoda perceber que cada voto não vale o mesmo

Boa noite!

22 partidos e coligações podiam ter concorrido às eleições legislativas da Madeira. Seria um número nunca visto e, para tal, bastava que toda as forças políticas disponíveis no sistema político entregassem listas certas, com 47 candidatos efectivos a deputados e  outros tantos suplentes.

Como tamanha empreitada feita à pressa dá trabalho, a jogo, a 26 de Maio, vão bem menos. O fastidioso desfile de aspirantes está concluído e amanhã haverá mais sossego no Tribunal do Funchal que, entre sexta-feira e hoje, recebeu 14 candidaturas às eleições legislativas regionais antecipadas. Uma coligação e 13 partidos vão assim a votos, mais uma força do que a 24 de Setembro último, quando concorreram 13 propostas políticas, correspondendo a duas coligações e 11 partidos. Na prática, o ligeiro aumento resulta do divórcio entre PSD e CDS, que haviam concorrido coligados há seis meses, mas que mesmo assim fica distante do recorde de participação.

Atá agora, as eleições mais concorridas disputaram-se a 22 de Setembro de 2019, com 17 forças concorrentes. No lado oposto estão as eleições de 2004, curiosamente a que registou um aumentou do número de deputados, em relação às eleições anteriores em 2000, de 61 para 68 no total. Estas eleições foram as que concorreram menor número de partidos, apenas cinco, tendo todos eles eleito pelo menos um deputado. Ou seja, essa foi efectivamente a única vez que todos ganharam, sem ser no discurso.

Não nos incomoda nada o número de partidos interessados em disputar os votos de mais inscritos do que residentes, dos quais importa subtrair a abstenção real e a técnica. Há seis meses votaram 135.413 dos 253.865 inscritos e o resto é o que se sabe. Num contexto sem bipolarização acentuada,  oito concorrentes elegeram deputados, mas cinco forças, todas com menos de 2%, ficaram a ver navios, de nada valendo os quase 5 mil votos alcançados.

O que nos incomoda, porque revelador de desleixo político que dá jeito aos defensores do voto útil, é que em cada eleição o método de distribuição de mandatos usado deixe na margem da irrelevância milhares de votos.

O que nos incomoda é ouvir muito boa gente a garantir reforma da lei eleitoral que depressa esquece quando é eleito.

O que nos incomoda é termos a certeza que cada voto não vale o mesmo, mesmo em círculo único, e que é falso que todos os votos contem, o que por si só gera desconfiança na democracia à moda dos grandes.

* Pode ouvir a versão podcast do 'Boa noite' aqui. Hoje sobre os chumbos cravados no PAN