Levada um dia

Sou leitor assíduo do DN há mais de 40 anos e não passa um dia que não leia pelo menos os artigos de opinião e as cartas do leitor. Sou fã de alguns e nunca na minha vida me predispus a escrever. Tenho pouco jeito e nem umas reguadas na escola e umas “ponteiradas” no Liceu, me fizeram ganhar algumas capacidades. As minhas antecipadas desculpas.

Desta feita, resolvi sentar-me e escrever algo pela primeira vez, para este centenário e respeitável órgão de comunicação, com a certeza de que o mesmo não será “censurado”, mas também por uma razão muito forte e muito científica! Apeteceu-me!!

Faço-o apenas em meu nome, não vinculando nem um pouco a “minha” escola, nem tão pouco os inúmeros colegas com quem nos últimos anos tenho trabalhado.

E para terminar os considerandos e sabendo que é muito “natural” no nosso meio que quem faz algo “diferente”, que se expõe publicamente ou que vem falar de terceiros é rapidamente conectado como alguém que está a “correr” para algum lado, que se está a atirar a um qualquer lugar ou que é um “lambe” botas.

Por isso estou à vontade. A minha paixão pela “corrida” é muito pouca! (que o diga o meu saudoso colega Mateus ou o meu “treinador e mano” Francisco Santos!). Não corro para lado nenhum pois está na hora de arrumar a trouxa…e seguir… e lamber... isso sim, mas só o que me apetece ou gosto muito!

Decorria os últimos dias de maio de 2013 quando combinei com as minhas turmas de escola, um dia de atividade diferente. Um dia de mar. Toalha, chinelos, água e a marmita com uma “sandocha” e rumámos ao calhau de S. Lázaro, ainda com o antigo e improvisado varadouro, no lado poente e com as inerentes dificuldades de entrada e saída da água. Apoio, CNF, que nos recebeu de excelente forma nas suas instalações, disponibilizou o seu técnico e nos facultou o material necessário. Resumindo: foi um excelente dia de trabalho, não só pelo que diz respeito à atividade física, mas também as conversas respeitantes às possibilidades do mar, de outras e variadas atividades com o clube, da preservação e utilização do mar, etc…etc. Vingou !

A partir dessa data e com o apoio de toda a comunidade escolar, passou a existir o Dia do Mar na Escola da Levada (é difícil “substituir por Ângelo Augusto da Silva!!). Nesse dia, alunos e Profs sabiam qua a sua sala de aula era o “calhau”!! O CNF sempre foi o nosso parceiro e nessa altura disponibilizava todos os meios que tinha. E nós fomos crescendo. A adesão era cada vez maior e passámos a ter os Dias do Mar. Seguiu-se a Semana do Mar, que nos últimos anos atravessou uma fase menos boa e mais complicada. O CNF mudou e o apoio já não era o desejável, depois veio o Covid, depois foi a Associação de Vela e de Remo a nos “deitar a mão”! Correu bem. Muito bem. O ano que passou, programámos tudo para a semana… em que infelizmente houve alerta laranja no mar. Ficámos desolados mas não havia datas para alterar.

Voltámos à carga este ano. Desta feita fomos atempadamente pedir ajuda a quem sabe, sabíamos que não podíamos contar com todos, que a Associação de Remo e com razão, estava extremamente limitada com a sua atividade interna e com os eventos Internacionais que aí vêm!

Não quisemos baixar os braços pois acreditamos muito nesta atividade. Procurámos nos organizar de forma a “minimizar” o tempo de utilização de todos os meios no “calhau”! A nossa semana do mar passou para 3 dias!! Completos. Das 09.00h da manhã às 17.00, sem paragem.

Movimentámos 600 alunos.

Pedimos ajuda a quem sabe.

Batemos à porta de uma pessoa, que sabe do assunto, que está sempre disponível, que acompanhou a atividade do início ao fim. Que acartou material, que deu instruções, que orientou as transições… que fez tudo… sempre com aquele sorriso de orelha a orelha de puto “reguila”, que conheci com 8 ou 9 anos. É o pé descalço do calhau. Só ele me levava a tentar escrever qualquer coisa, apenas para dizer…

Obrigado João Rodrigues. Os alunos da nossa escola, infelizmente, muitos nem sabiam quem era aquele “monstro” que estava à sua frente a dar instruções de forma muito calma e clara. Era apenas o português com maior número de presenças nos JO. Quem diria. Mas não é por isso que todos nós gostamos do João. Nós gostamos do João por aquilo que ele é…. Obrigado ao João, mas também a todos aqueles técnicos que proporcionaram aos nossos alunos, 3 dias de excelente atividade. Em 2025 a Levada lá estará!

Rui Cunha
 Professor de EF da E.B.S.A.A.S.