Voto Útil, Reformismo e Entendimentos
1. Alguém no seu perfeito juízo pode considerar que o PS é uma alternativa ao PSD? Alguém acredita que aquela espécie de “sempre noivo” abandonado no altar, ao fim de 50 anos, tem condições para gerir os assuntos da Madeira. PS e PSD são o mesmo, uma espécie de “yin e yang” que se sustentam numa relação não consumada.
Num mundo onde a diversidade de pensamentos e opiniões devia moldar a riqueza da sociedade, o espectro político, paradoxalmente, encontra-se cada vez mais restrito, enclausurado numa dicotomia ilusória que serve apenas para perpetuar o status quo e manter o poder nas mãos de uma elite política cada vez mais indistinta.
O sistema político transformou-se, na prática, num teatro distorcido, onde os protagonistas — PSD e PS — apresentam peças com guiões tão parecidos que se torna difícil distinguir onde um acaba e o outro começa. As suas políticas, embora disfarçadas sob o véu da diversidade ideológica, são, na essência, variações de um mesmo tema: um Estado todo-poderoso que se posiciona como o árbitro e decisor das nossas vidas, escolhendo por nós em vez de nos capacitar para decidir.
Esta bipolarização do espectro político não traz vantagens para ninguém, excepto, é claro, para aqueles que beneficiam dela directamente. Para o cidadão comum, significa menos escolhas, menos voz e menos poder. É um jogo de ilusões que nos é vendido como democracia, mas que, na realidade, sufoca o verdadeiro pluralismo e inovação política que poderiam florescer num ambiente mais aberto e diversificado.
O apelo ao voto útil, nesta configuração, torna-se um instrumento de coação, uma ferramenta para nos convencer a abdicar das nossas convicções a favor de uma escolha estratégica que, alegadamente, evitará um mal maior substituindo-o por um mal menor. Mas um mal é sempre um mal e o que realmente acontece é a perpetuação de um círculo vicioso, onde o “menos pior” se torna o padrão, e o potencial para mudanças reais e significativas é eternamente adiado.
Não devemos cair na esparrela desta falsa bipolarização. Isso pode servir ao PS, mas não serve aos madeirenses. O poder de mudança reside nas mãos de cada um de nós, os eleitores, mas apenas se ousarmos utilizá-lo de maneira diferente.
É tempo de rejeitar a narrativa de que só existem duas escolhas. É hora de apoiar alternativas que reflictam a verdadeira diversidade. É chegado o momento de procurar candidatos e partidos que não se contentem em ser o mal menor, mas que aspirem ser o bem maior.
O apelo aqui é claro: não permitamos que o nosso futuro seja definido por uma escolha limitada entre o indesejável e o apenas ligeiramente menos indesejável. Temos o poder de exigir mais e melhor. Em cada voto, temos a oportunidade escolher quem nos represente verdadeiramente, em toda a nossa diversidade e complexidade. Que não desperdicemos essa oportunidade por medo, conformismo ou resignação.
2. Nós, liberais, somos reformistas, pois entendemos que temos de reformar a estrutura da Autonomia — da organização política e administrativa, até a aspectos sociais, económicos e ambientais. As reformas devem respeitar os princípios constitucionais, as nossas especificidades e o supremo interesse dos madeirenses.
É urgente reforçar a autonomia financeira da Madeira permitindo uma gestão mais eficiente dos recursos e uma resposta mais rápida às nossas necessidades. Isto inclui uma revisão urgente da Lei de Finanças Regionais que permita o ajuste dos critérios de distribuição de fundos, a possibilidade de a região ter mais poderes para gerir a sua fiscalidade e a mudança do modelo de capitação do IVA.
Reformar no sentido do desenvolvimento sustentável, por via da necessidade de preservar a biodiversidade única da Madeira e a sua especificidade paisagística.
Investir na educação e na formação profissional adaptada às necessidades da economia da Madeira é o único modo de garantir o desenvolvimento a longo prazo. O que tem de incluir a criação de programas específicos que alinhem as competências dos jovens madeirenses com as áreas de crescimento económico da região. Urge também proporcionar autonomia às escolas públicas e entender que público e privado fazem parte da mesma equação. A educação é o único elevador social de que dispomos.
Melhorar o acesso a serviços de saúde de qualidade e a redes de apoio social, bem como integrar o sector privado no Sistema. Público, social e privado todos a remar para o mesmo lado.
Nas infraestruturas e transportes é de grande importância desenvolver e modernizar as infraestruturas, incluindo ligações marítimas e aéreas mais eficientes para o exterior e entre as ilhas, de modo a impulsionar a economia local e a melhorar a qualidade de vida dos madeirenses.
Incrementar a transparência de modo a combater a corrupção, aumentar responsabilidade e a participação na governança da Madeira, implementado boas práticas, de maneira a fortalecer a democracia e a confiança nas instituições. Apelar à participação nas decisões políticas, bem como melhorar a eficácia da administração pública, por intermédio da digitalização de serviços e da simplificação de processos burocráticos.
3. Desde 2019 que a Iniciativa Liberal tem deixado muito claro que não defende, no que à região diz respeito, qualquer tipo de acordos ou de coligações pré, ou pós-eleitorais.
Somos defensores, isso, sim, de entendimentos que viabilizem propostas que valorizem os madeirenses, criem riqueza e desenvolvimento. Dizemos hoje o que sempre dissemos no passado: entendimentos ponto a ponto, caso a caso, medida a medida, orçamento a orçamento. Estamos sempre disponíveis para conversar com quem o quiser fazer desde que o assunto seja a Madeira.
Ou alguém, no seu perfeito juízo, está contra que façamos entendimentos com quem seja a favor de baixar os impostos (IRS, IVA e taxas liberatórias) nos 30% previstos pela Lei das Finanças Regionais?
Ou alguém, no seu perfeito juízo, está contra a possibilidade de fazermos entendimentos que criem mecanismos que reduzam as listas da saúde em tamanho e em tempo de espera?
Ou alguém, no seu perfeito juízo, está contra o criarmos plataformas de entendimento que reduzam a burocracia, criem mais transparência, e combatam a corrupção, o amiguismo e a cor do cartão partidário?
Ou alguém, no seu perfeito juízo, está contra o aumentar a autonomia das escolas acabando com a lógica centralista e controladora da Secretaria de Educação?
Ou alguém, no seu perfeito juízo, está contra conseguirmos criar condições para os nossos filhos ficarem connosco ao invés de terem de emigrar?
Ou alguém, no seu perfeito juízo, está contra sermos mais assertivos relativamente à habitação?
Ou há por aí quem entenda que a tão necessária reforma da Autonomia, que precisa do entendimento de uma grande maioria das forças partidárias, é uma irrelevância?
Dêem-nos liberalismo, mais liberdade, maior capacitação, desenvolvimento e é aí que estaremos, pois apoiaremos tudo o que for a favor doa madeirenses e da Madeira. Seremos contra tudo o que prejudicar esta terra que amamos.
Porque somos a favor do proveito, entendemos que Miguel Albuquerque é um claro prejuízo.
4. Mais uma vez volto a ser candidato da Iniciativa Liberal. Mais uma vez sou candidato às Eleições Regionais, as mais importantes da Autonomia (devíamos fazer como os espanhóis e chamar-lhes Autonómicas). Ao contrário do conselho, se calhar avisado, de um bom amigo, volto a suspender a minha colaboração nestas páginas, para alegria de muitos e o pesar (sim, tenho essa pretensão) de poucos. “Que não devias fazer isso, porque os outros não o fazem e só ficas prejudicado”. Sei disso, mas não ficaria de bem comigo e com a minha consciência. Se todos tivessem acesso a estas páginas, esta questão não se poria, mas como isso não acontece, ficaria com uma ferramenta nas mãos que outros não têm. E isso não está certo.
Neste período eleitoral — ou pré-eleitoral se quiserem, é fundamental garantir a máxima transparência e evitar qualquer conflito de interesses. Assim, considero apropriado suspender a colaboração nestas páginas até ao fim do processo eleitoral. Acredito que este passo é essencial para manter a integridade da campanha e a lisura de processos.
Quero expressar o meu mais sincero agradecimento à Direcção e aos leitores do Diário de Notícias, pela oportunidade que me proporcionam há mais de seis anos. Espero voltar a esta colaboração depois das eleições, com novas perspectivas e renovado entusiasmo.
Desejo a todos o mesmo que me desejarem. Bem hajam.